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23 de novembro de 2024

Resenha: Soul


Por Elton Telles Publicado 31/01/2021 às 17h57 Atualizado 19/10/2022 às 10h20
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O espectador antenado que vem acompanhando há mais de duas décadas as animações produzidas pela Disney/Pixar já deve estar familiarizado com a fórmula utilizada pelos seus criativos para narrar as histórias. Certamente nem todos os filmes se apropriam do mesmo formato, mas é fácil identificar certos elementos narrativos e fazer ligações de uma produção a outra. Trata-se de uma estrutura manjada, repetida à exaustão justamente porque encontra êxito junto ao público. E como julgá-los? É como diz o ditado “não se mexe em time que está ganhando”, e a Pixar é uma vencedora – de audiência, de aprovação, de bilheteria, de Oscar, de tudo.

Enquanto conferia “Soul”, a sensação de “eu já vi isso antes” me acompanhou até os créditos finais. Não me refiro ao enredo em si, mas à maneira como ele é apresentado e desenvolvido. “Soul” reproduz a receita de sucesso que a Pixar alcançou, fruto do aprimoramento em storytelling praticado durante todos esses anos, com o lançamento de títulos excepcionais como a quadrilogia “Toy Story” (1995-1999-2010-2019), “Procurando Nemo” (2003), “Os Incríveis” (2004), “Ratatouille” (2007), “Wall-E” (2008), dentre outros.

A título de comparação, “Soul” se aproxima de “Up! Altas Aventuras” (2009), sobretudo na abordagem sobre o luto. No entanto, bebe 100% da fonte de “Divertida Mente” (2015) por conta da lógica do roteiro, a agilidade e esperteza do texto, a alternância de cenários onde a trama transcorre, os protagonistas não serem totalmente humanizados, etc. Até algumas inserções cômicas parecem ser um “copia e cola”, principalmente as que são cortes abruptos para exibir uma gag rápida e funcional.

Não por acaso “Soul” se assemelha a estas duas animações. Todas elas são dirigidas por Pete Docter, um dos realizadores mais longevos da Pixar. A reciclagem de ideias na condução do filme é notável, além da porção sentimental em evidência e sempre bem dosada, aquele momento estrategicamente comovente que faz os adultos marejarem os olhos. Todos os ingredientes que conhecemos dos exemplares Pixar estão presentes em “Soul”, não há nada de novo sob o sol. Mas embora previsível, a gente se entrega, porque, mais uma vez, Docter e companhia concebem um filme surpreendente e cativante.

É de muita coragem uma superprodução direcionada principalmente ao público infantil discorrer sobre temas sensíveis como a morte, por exemplo. Felizmente, “Soul” não se limita a um discurso de religiosidade; em vez disso, o trio de roteiristas se apega à criatividade para criar uma nova dimensão que responde a várias questões de ordem existencial, como “o que vem antes do nascimento e o que vem depois da morte?”. Cada pessoa tem a sua crença e isto não entra em conflito com o que o filme oferece.

O roteiro é inspirado em encontrar explicações em outro plano para vários estágios de emoções e sentimentos que atravessamos em vida, isto é, para onde a nossa alma vai enquanto estamos em êxtase, com depressão ou vivendo no modo automático. A grandeza estética do longa contempla ambientes imaginativos, como o Pré-Vida, o Além-Vida, o Salão da Vida e o Salão de Todas as Coisas. As cores, as formas geométricas dos componentes em cena e o design diferenciado de determinados personagens permitem os diretores de arte explorarem várias possibilidades de técnicas da animação, da computação gráfica ao tradicional 2D. Isso não é nenhuma novidade – olha aí “Divertida Mente” dando as caras de novo –, mas é incomum e visualmente interessante.

Outro aspecto que merece ser destacado: “Soul” é engraçadíssimo. A bonita “mensagem” de aproveitarmos os pequenos prazeres e a discussão entre missão/propósito de vida é o que acompanha o espectador após a sessão, mas até lá, o filme encontra na personagem 22 um excelente alívio cômico. A dinâmica dela com o protagonista Joe rende situações hilárias, sejam eles se comportando como alma, personificados como humanos ou no corpo de um animal.

Engrandecido com uma trilha sonora sublime, que vai da música etérea da dupla Trent Reznor e Atticus Ross até os arranjos de jazz do compositor Jon Batiste, “Soul” se mantém na zona de conforto ao repetir o padrão Pixar de se contar uma história. Não que isso seja exatamente um problema, pois este é mais um belo exemplar do estúdio com a rubrica autenticada.  

A animação “Soul” está disponível no streaming do Disney+.

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