Paraná pode voltar a registrar geada negra nesta semana

A onda de frio que atinge o Paraná nesta semana promete ser a mais intensa dos últimos anos. As condições provocadas pela massa de ar de origem polar que deverá se instalar logo após a passagem de uma frente fria podem influenciar na formação de fortes geadas. Há possibilidade, segundo especialistas, inclusive para a ocorrência de geada negra.
O fenômeno, diferentemente das geadas “comuns”, é mais perigoso porque tem a capacidade de queimar – e, posteriormente, escurecer – plantações e outros tipos de vegetação. No entanto, a geada negra é mais difícil de acontecer.
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De acordo Fernando Mendes, meteorologista do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), é muito difícil confirmar que o fenômeno vai, de fato, voltar a acontecer no Paraná por causa das inúmeras variáveis que influenciam na formação da geada negra. “Depende muito da planta. Depende da situação do vento e da persistência para ocorrer essa situação”, explica.
Segundo ele, de modo geral, os riscos são maiores nas áreas ao sul do estado, onde o frio costuma ser mais intenso, e em espaços onde há vegetação mais delicada ou mais recente, que pode ter a seiva congelada (confirmando a ocorrência de uma geada negra).
O meteorologista também ressalta que, até o momento, não há como precisar em qual dia da semana o fenômeno pode ser registrado, já que há possibilidade de geada a partir desta quarta-feira, 28, em vários setores. No entanto, o atual cenário do Paraná indica que as maiores probabilidades são para quinta-feira, 29, quando uma geada mais intensa está prevista em grande parte do estado.
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Um gráfico elaborado pelo Simepar mostra que, neste dia, praticamente todas as regiões paranaenses deverão registrar geadas. Em todo o sul e em parte do leste, oeste e norte do estado, há previsão de geadas mais fortes. Veja:


Risco para o agronegócio
As temperaturas baixas previstas poderão causar impactos negativos em culturas como hortaliças, tomate, milho, café, pastagem e frutíferas tropicais, entre outras. Porém, alguns cuidados podem ser adotados pelos agricultores para reduzir os efeitos.
CAFÉ – A recomendação para os plantios novos de café, com até seis meses de campo, é enterrar as mudas. Viveiros devem ser protegidos com várias camadas de cobertura plástica ou aquecimento, com a opção de utilizar as duas práticas simultaneamente. Nos dois casos — lavouras novas e viveiros — a proteção deve ser retirada logo que a massa de ar frio se afaste e cessar o risco imediato de geada.
Nas lavouras com idade entre seis meses e dois anos, a recomendação aos produtores é amontoar terra no tronco das plantas até o primeiro par de folhas. Essa proteção deve ser mantida até meados setembro, e depois retirada com as mãos.
MILHO – Segundo coordenador de Grãos do IDR-Paraná, Edivan Possamai, a proteção não é viável no caso do milho por tratar-se de uma cultura de verão. A dica é que o agricultor mantenha sempre sua lavoura assegurada e que verifique o zoneamento de risco climático, para que o plantio seja feito na época certa e, assim, não corra o risco de perder o seguro.
GADO – Na pecuária de corte um dos principais problemas está na falta de pasto para alimentar os animais. A coordenadora de Pecuária de Corte do IDR-Paraná, Kátia Gobbi, informa que na região Norte e Noroeste, por exemplo, os pastos já acabaram por causa das secas e, também, das geadas.
A opção seria a suplementação com volumosos conservados (silagem, feno) e concentrada (milho, farelo de soja, etc). Mas o produtor precisa se organizar com antecedência, e é fundamental calcular a viabilidade econômica do sistema produtivo, já que são ações com maior custo em relação ao pasto. Nas regiões mais frias do Estado há, também, a opção das gramíneas de inverno, mais tolerantes ao frio.
FRUTAS – O coordenador de Fruticultura do IDR-Paraná, Eduardo Augustinho, explica que nas plantações de frutas os cuidados podem ser evitar o uso de Dormex, utilizar fumaça para aquecimento, a irrigação e manter as áreas limpas.
OLERICULTURA – Umas das culturas mais sensíveis às geadas, as folhagens precisam de muita proteção nestes dias mais frios. De acordo com Paulo Hidalgo, coordenador estadual de Olericultura do IDR-Paraná, algumas ações podem ajudar: cultivo protegido, que consiste em fechar o entorno das estufas; suspender a irrigação alguns dias antes, para evitar a formação de gelos nas folhas; aquecer as estufas usando o carvão e monitorar este aquecimento durante toda a noite e madrugada.
Em campo aberto a proteção é um pouco mais complexa, mas algumas medidas podem ajudar. Entre elas, cobrir os canteiros de folhagem com TNT e fazer o aquecimento com fumaça. Outra prática que pode contribuir para proteção de olericultura em campo aberto é a pulverização folear com sal, sistema que, se aplicado com antecedência, pode diminuir o ponto de congelamento das folhas.
Geada negra de 75
O termo geada negra ainda assusta muitos moradores do Paraná por causa do fenômeno registrado em 1975, o maior da história do estado.
As lavouras assoladas pela geada negra na madrugada do dia 18 de julho de 1975, em Maringá, estamparam a manchete do extinto jornal O Diário do Norte do Paraná no dia seguinte. As culturas de café e trigo foram as mais prejudicadas.
O cenário ficou eternizado em imagens feitas pelos fotógrafos Valdir Carniel, Moracy Jacques e José Antonio Tofanetto – e também na memória de muitos moradores. Naquela madrugada, os termômetros marcaram 4ºC em Maringá, 1ºC em Mandaguaçu, 6ºC em Marialva, 2,8ºC em Paranavaí, 2,5ºC em Cianorte, 3ºC em Umuarama e 4ºC em Curitiba.

No início da tarde daquele dia, o então governador do Paraná, Jaime Canet Júnior, chegou a Maringá para avaliar os danos causados nas plantações, principalmente de café – principal produto agrícola do Paraná na época. O político visitou as lavouras e foi recebido na Cocamar Cooperativa Agroindustrial, onde conversou com produtores rurais.
Dois dias depois da geada negra (20 de julho de 1975), o governador esteve em Londrina, onde se reuniu com o então presidente do Instituto Brasileiro do Café (IBC), Camilo Calazans, para estudar medidas de amparo aos produtores rurais que perderam tudo.
