27 de agosto de 2025

Moraes está como um touro na arena


Por André Marsiglia Publicado 12/08/2025 às 14h37
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Moraes está no centro da arena e entendeu que está. Agora, alvo de sanções internacionais como as previstas pela Lei Magnitsky e exposto em jornais estrangeiros — entre eles o The Wall Street Journal — sente o golpe. Não o “golpe” inventado para prender Bolsonaro e criminalizar o bolsonarismo, mas o soco da perda de blindagem e da crescente desconfiança de todos.

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Foto: Valter Campanato

Moraes está como um touro que recebe as primeiras farpas do picador no centro da arena. Ele sabe que não há mais ponto de retorno. Não recua e já não pode recuar. Sua única opção será atacar quem estiver pela frente. E é por isso que está longe o fim da tourada.

O ministro tenta transmitir a imagem de que suas decisões são referendadas pelos demais colegas, mas sabe que não é verdade. O próprio julgamento do chamado “processo do golpe” na Primeira Turma, e não no plenário, revela seu temor de enfrentar divergências.

Eu mesmo posso afirmar isso. Fui o primeiro advogado a atuar nos inquéritos das “fake news”, no caso Crusoé, e, mesmo tendo solicitado a exclusão da revista e de seu fundador, Mario Sabino, o pedido segue sem julgamento até hoje. Se as decisões fossem realmente compartilhadas, a Corte já teria se pronunciado.

Na arena, não se espere razoabilidade de Moraes, nem lógica, nem estratégias elaboradas. Já não luta pela razão — essa foi perdida há tempos, quando ultrapassou os limites constitucionais para agir como acusador, juiz e censor ao mesmo tempo. Agora, luta apenas pela sobrevivência política e pessoal. Seus colegas ainda mantêm o apoio, mas de longe, fora da arena e do alcance do touro esbaforido.

Seus colegas sabem que, em algum momento, terão de decidir se, no curso do espetáculo, entregarão o touro ao Congresso, para que siga o rito do impeachment, ou o convencerão a deixar a arena discretamente, mandando-o pastar longe.

Mesmo que em algum momento ele queira contar o que sabe, mesmo que queira envolver seus colegas de STF em seu dilema, ninguém o ouvirá. Ele já se tornou um símbolo, não é mais um juiz, é um touro na arena. E ninguém escuta um touro na arena.

Mas deixo um aviso ao futuro. Após a tourada, apagadas as luzes do espetáculo, permanecerá ainda potente o desejo de todos aqueles que se valeram das mãos de Moraes para ceifar liberdades e calar opositores da direita, especialmente da direita bolsonaristas. E, como se sabe, o desejo, por mais que se esconda e se oculte, acaba sempre voltando.

Sobre o autor

André Marsiglia é advogado constitucionalista, especialista em liberdade de expressão. Formado em Direito e Letras pela USP. Mestre e doutorando pela PUC-SP. É fundador do Instituto Speech and Press. Foi consultor jurídico da Repórteres Sem Fronteiras (RSF). É membro da Comissão de Mídias da OAB, da Comissão de Mídia e Entretenimento do IASP e membro julgador do Conselho de Ética do CONAR. Escreve sobre liberdade de expressão e judiciário, sempre às terças-feiras, no Portal GMC Online

As opiniões do colunista não necessariamente refletem a opinião do veículo.

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