Não é Jair Bolsonaro que vai a julgamento
Não é Jair Bolsonaro que vai a julgamento. É o bolsonarismo. E o bolsonarismo vai a julgamento porque se tornou, para elites de esquerda brasileira, a maior ameaça a seu poder. Há muito, no Brasil, a esquerda passou a ser tratada como o padrão de normalidade: quem pensa à esquerda é moderado, sensato, equilibrado. Já quem assume um pensamento de direita é ideológico, diferente, perigoso, devendo ser contido.

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O sonho dessas elites de esquerda é que a direita brasileira fosse para sempre o PSDB, o Geraldo, o Fernando Henrique, que nunca foram de direita, que eram uma esquerda no armário, quando muito, uma dissidência da própria esquerda. O sonho dessas elites de esquerda é que o Brasil tivesse na presidência um torneiro mecânico, mas no cérebro do regime estivesse sua casta que fala francês e arrota verniz acadêmico. O sonho é que a oposição à esquerda fosse ela mesma, disfarçada de divergência.
Dessa forma, a direita bolsonarista e popular, sem polimento, vinda do povo e expressando seus anseios de forma direta, recebe como reação rejeição e censura. É contra essa direita que o Supremo Tribunal Federal, transformado em artilharia de uma elite progressista, direciona seus canhões.
O julgamento que se inicia hoje não se resume a um processo individual. Trata-se de um processo coletivo, cujo objetivo é enquadrar todo um segmento da sociedade que se comporta diferente das elites de esquerda. O que está em curso no país é um conflito promovido por uma esquerda que deseja submeter um povo que não lhe seja espelho
Não é por acaso que ministros como Luís Roberto Barroso falam não apenas em derrotar o bolsonarismo, mas em derrotar “extremismos” e até em “recivilizar” as pessoas. A palavra não é casual: recivilizar implica tratar o povo como alguém a ser domesticado pela elite. A pretensão é maior do que derrotar uma corrente política; é reeducar um país para ser igual a eles. E essa ambição carrega em si um risco grave. Porque nenhuma elite, por mais poderosa que seja, consegue derrotar o povo. E a tentativa só amplia o ressentimento, aumenta a desconfiança e empurra a sociedade para o conflito.
O julgamento de Bolsonaro é mais um episódio dentro de uma disputa maior: o confronto entre elites e povo. Entre uma esquerda que não aceita dividir espaço com quem pensa diferente e uma direita popular que não se conforma mais em não existir. E essa história, obviamente, não terminará com a canetada de um juiz. Menos ainda se a canetada for de um juiz maluco.
Sobre o autor
André Marsiglia é advogado constitucionalista, especialista em liberdade de expressão. Formado em Direito e Letras pela USP. Mestre e doutorando pela PUC-SP. É fundador do Instituto Speech and Press. Foi consultor jurídico da Repórteres Sem Fronteiras (RSF). É membro da Comissão de Mídias da OAB, da Comissão de Mídia e Entretenimento do IASP e membro julgador do Conselho de Ética do CONAR. Escreve sobre liberdade de expressão e judiciário, sempre às terças-feiras, no Portal GMC Online
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