PIB brasileiro cresceu 1,9% no 1º trimestre de 2023. Mas o que isso significa na prática?

Dados divulgados no início deste mês de junho de 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram um crescimento de 1,9% no 1º trimestre de 2023 (janeiro, fevereiro e março), em relação ao trimestre anterior (outubro, novembro e dezembro de 2022), de acordo com dados ajustados sazonalmente. Os setores que impulsionaram esse crescimento foram a Agropecuária, com uma alta de 21,6%, e os Serviços, com aumento de 0,6%. Já a Indústria ficou estável, com uma pequena variação negativa de 0,1%. Mas o que isso significa na prática? Primeiro vamos à análise dos números. Abaixo uma tabela ilustrativa dos números de maneira geral:
Tabela 1 – Indicadores das óticas de oferta e demanda para diferentes períodos de comparação.

No setor de Serviços, houve crescimento nos segmentos de Transporte, armazenagem e correio (1,2%), Intermediação financeira e seguros (1,2%) e Administração, saúde e educação pública (0,5%). Além disso, o Comércio e as Atividades imobiliárias apresentaram variações positivas de 0,3%. No entanto, houve quedas nos setores de Informação e comunicação (-1,4%) e Outros serviços (-0,5%).
Dentro do setor industrial, a Construção teve uma queda de 0,8%, e as Indústrias de Transformação apresentaram uma redução de 0,6%. Por outro lado, as Indústrias Extrativas tiveram um desempenho positivo, com crescimento de 2,3%, assim como o setor de Eletricidade e gás, água, esgoto e gestão de resíduos, que registrou um aumento de 1,7%.
Analisando a demanda, a Despesa de Consumo das Famílias teve um aumento de 0,2%, enquanto a Despesa de Consumo do Governo registrou um crescimento de 0,3%, quando comparado com o último trimestre de 2022. Já a Formação Bruta de Capital Fixo teve uma queda de 3,4%. No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços diminuíram 0,4%, enquanto as Importações de Bens e Serviços caíram 7,1% em relação ao quarto trimestre de 2022.
Em comparação com o mesmo período do ano anterior, o PIB brasileiro teve um crescimento de 4,0% no primeiro trimestre de 2023. O setor Agropecuário registrou um aumento de 18,8% impulsionado pelo bom desempenho de produtos agrícolas, como a soja, que teve ganho de produtividade e crescimento expressivo na produção. O setor industrial teve um aumento de 1,9%, com destaque para as Indústrias Extrativas e a atividade de Eletricidade e gás. Já o setor de Serviços apresentou um crescimento de 2,9% em todas as suas atividades.
No acumulado dos últimos quatro trimestres até março de 2023, o PIB teve um crescimento de 3,3%. O setor Agropecuário cresceu 6,0%, a Indústria registrou um aumento de 2,4% e os Serviços tiveram um crescimento de 3,9%. Todas as atividades industriais apresentaram crescimento, destacando-se a Eletricidade e gás e a Construção. No setor de Serviços, todas as atividades também apresentaram resultados positivos.
Em relação à demanda, a Despesa de Consumo das Famílias, a Despesa de Consumo do Governo e a Formação Bruta de Capital Fixo tiveram crescimentos de 4,5%, 0,9% e 2,7%, respectivamente. No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços cresceram 5,2%, enquanto as Importações de Bens e Serviços aumentaram 4,2%.
A taxa de investimento no primeiro trimestre de 2023 foi de 17,7% do PIB, abaixo do observado no mesmo período do ano anterior (18,4%). Já a taxa de poupança ficou em 18,1% no trimestre, um aumento em relação ao mesmo período de 2022. A Necessidade de Financiamento reduziu para R$ 48,3 bilhões no primeiro trimestre de 2023, em comparação com R$ 69,8 bilhões no mesmo período do ano anterior. Essa redução foi influenciada principalmente pelo saldo positivo do Saldo Externo de Bens e Serviços e pelo envio líquido de Rendas de Propriedade.
Certo caro leitor, agora você deve estar se perguntando: esses números são bons ou ruins? O que muda em nossas vidas esses números? Há 4 fatos importantes sobre esses números que devem ser enaltecidos para entender o que nos espera neste 2023.
O primeiro ponto importante é: a economia brasileira voltou a crescer. Após um recuo de 0,1% no 4º trimestre de 2022, esse resultado do 1º trimestre de 2023 foi o melhor resultado trimestral desde o final de 2020 e o melhor primeiro trimestre do ano desde 2010, quando a economia brasileira cresceu 2,2%. Abaixo, os valores desde 2018 com a taxa de variação do PIB brasileiro quando comparado com o trimestre imediatamente anterior:
Quadro 1 – PIB do Brasil (variação contra o trimestre anterior, em %)

O segundo ponto importante é entender quem puxou essa alta no PIB nesse início de 2023. E a resposta foi o Agronegócio. O resultado se deveu a um aumento de 21,6% no PIB Agropecuário, sendo esse setor responsável por 8% do PIB do país. Por sua vez, o Setor de Serviços teve um crescimento tímido de apenas 0,6% e o Setor Industrial praticamente ficou no mesmo lugar, com uma pequena queda de 0,1%. Isso quer dizer que a agropecuária importa muito no nosso PIB. Essa alta no setor, se deveu ao bom desempenho da safra 2022/23, com aumento de produtividade e recorde de grãos colhidos.
O terceiro ponto a ser analisado é a ótica da demanda e os investimentos. O consumo das famílias teve um crescimento tímido de apenas 0,2%, num ritmo mais fraco que o registrado no trimestre anterior (0,4%). Contudo, é o primeiro trimestre do ano, na qual geralmente ocorre uma desaceleração mais acentuada. Esse resultado se deu por conta dos aumentos do salário mínimo e pelo aumento do Bolsa Família e pela estabilização e redução da inflação. Ademais, o poder de compra das famílias segue muito pressionada pela alta inadimplência, renda comprimida e pelo crédito caro dadas as altas taxas de juros da economia brasileira. Por sua vez, os investimentos tiveram uma queda de 3,4% o que é normal no primeiro trimestre do ano e isso se deve em grande parte por conta do nível recorde de inadimplência das empresas. E isso refletiu na taxa de investimento da economia (17,7% do PIB), abaixo do registrado no mesmo período do ano anterior (18,4% do PIB).
Por último, esse resultado de 1,9%, veio acima do esperado pelos analistas de mercado e mostra um cenário promissor para 2023. Isso fez com que o mercado e o próprio governo revisassem suas previsões para este ano. Segundo o boletim Focus, do Banco Central do Brasil, a expectativa de crescimento para 2023 passou de 1,02% no mês passado para 1,84% em junho sendo a quinta remarcação consecutiva de alta pelo mercado, enquanto o governo federal por meio do Ministério da Fazenda já prevê um PIB acima de 2,4%.
Então podemos esperar um 2023 promissor em termos de crescimento do PIB? A resposta é: a princípio SIM! Se as expectativas de queda da taxa de juros se concretizarem até o final do ano, aliado ao Governo tendo êxito com o Novo Arcabouço Fiscal, um crescimento de 1,8% ou mais para o ano de 2023 é totalmente possível. Contudo, alguns pontos devem ser ressaltados. A taxa de investimento deve aumentar de forma a garantir maior robustez dessa retomada na economia. A Agropecuária não ajudará tanto nos próximos trimestres com o PIB, primeiro por conta do final da safra que ocorre no final do ano e a safra recorde que colhemos agora em meados de 2023. E por último, o endividamento das famílias e empresas que deve ser visto com cautela e ter sua evolução analisado de forma que seus níveis caiam já nos próximos meses, permitindo a expansão do crédito e a ampliação do consumo para o fortalecimento do PIB.
Em todo caso, os números são promissores e os bons ventos parecem tem retornado na economia brasileira. A pergunta que fica: Será que esses números positivos vieram para ficar? Isso só o tempo dirá.