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08 de dezembro de 2025

Oscar e Framboesa: O Curioso Caso de Glenn Close


Por Elton Telles Publicado 17/03/2021 às 14h23 Atualizado 19/10/2022 às 10h21
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Glenn Close é uma atriz extraordinária. Isso é um fato e não está aberto para discussão. Tolerância zero com negacionistas.

Nascida nos Estados Unidos, deu os primeiros passos em alguns telefilmes até a sua festejada estreia na telona com a comédia dramática “O Mundo Segundo Garp” (1982), cuja participação lhe rendeu a sua primeira indicação ao Oscar. Dali em diante, em poucos anos, Close já ocuparia espaço na seletiva lista prioritária de intérpretes de Hollywood.

Em 40 anos de carreira, a atriz se provou extremamente versátil na escolha de papéis e nos projetos que assinava contrato. Passeou pelo cinema autoral, em títulos dramáticos como “Ligações Perigosas” (1988) e “O Reverso da Fortuna” (1990); estrelou sucessos de bilheteria, como o simpático “Um Homem Fora de Série” (1984) e “Atração Fatal” (1987), fazendo história pelo controverso papel da amante psicopata Alex Forrest; por fim, revelou um singular timing para comédia em exemplares como “O Jornal” (1994), “Marte Ataca!” (1996) e a deliciosamente diabólica Cruella DeVil de “101 Dálmatas” (1996). Não bastasse, Close também tem créditos com trabalhos consagrados na TV e no teatro.

Glenn Close se igualou ao lendário ator Peter O’Toole (1932 – 2013) como a intérprete feminina mais indicada ao Oscar sem nenhuma vitória. No total até agora, são 8 nomeações, e a mais recente, de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel da avó casca grossa no dramalhão “Era Uma Vez um Sonho”, foi contabilizada nesta semana com o anúncio dos indicados ao Oscar 2021. Poucos dias antes, no entanto, a infame premiação Framboesa de Ouro (Razzies), dedicada a destacar anualmente os piores desempenhos do cinema, também revelou os candidatos deste ano, e Glenn Close entrou entre as finalistas de Pior Atriz Coadjuvante pela mesma atuação.

Isso é muito bizarro, mas há precedentes. Os dois únicos atores que conseguiram esta façanha de serem indicados ao Oscar e ao Framboesa de Ouro pelo mesmo trabalho foram James Coco por “O Doce Sabor de um Sorriso” (1981), que está realmente péssimo, e Amy Irving como a ingênua e apaixonada Hadass no musical “Yentl” (1983), dirigido e estrelado por Barbra Streisand. No caso de Irving, não acho que seja uma performance digna de nota, tampouco motivo de ser ridicularizada.

Vale lembrar que o Razzies indicou Stanley Kubrick em Pior Direção (!!!) por “O Iluminado” (1980), entre outros absurdos, então tirem suas próprias conclusões. A minha é de que esta é uma premiação que poderia ser divertida, mas é estúpida e sedenta por holofotes. Avaliando o seu histórico, na mesma proporção que há algumas sacadas hilárias, há também um cataclismo de preconceito e misoginia explícito nas indicações. É bem problemático, mas este é conteúdo para um outro texto.

Mas e aí, Glenn Close mereceu essas indicações por “Era Uma Vez um Sonho”?

É complicado. Esta atuação está anos luz da sofisticação dos trabalhos anteriores da atriz. Trata-se de um desempenho carregado, caricatural e com poucos atrativos. A tonelada de maquiagem e próteses que Close utiliza para compor fisicamente a personagem é o que se tem de mais proveitoso em sua performance, infelizmente. Existe essa tendência de o público ser receptível com atores que passam por transformação estética e, por estarem sob um reboco de massa corrida, tem-se a ilusão de que estão convincentes no papel. Não é sempre bem assim. Se por um lado, esses artifícios até colaboram para o resultado final, o roteiro esdrúxulo do filme presta um grande desserviço. Não sou admirador deste trabalho, não indicaria Glenn Close ao Oscar, mas também me soa exagerada a lembrança da veterana entre os piores do Framboesa de Ouro.

“Era Uma Vez um Sonho” recebeu outras indicações: Pior Direção (Ron Howard, oscarizado por “Uma Mente Brilhante”, em 2001) e Pior Roteiro (Vanessa Taylor, uma das roteiristas da megaprodução da HBO “Game of Thrones”). Já no Oscar, além de Close, o filme também foi reconhecido na categoria Melhor Maquiagem e Penteado. Este sim, merecido.

“Era Uma Vez um Sonho” está disponível no streaming da Netflix.

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Elton Telles

Cinema e divagações, por Elton Telles.