13 de maio de 2025

Resenha: Druk – Mais uma Rodada


Por Elton Telles Publicado 15/04/2021 às 19h08 Atualizado 19/10/2022 às 10h22
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Há uma tese, defendida pelo psiquiatra norueguês Finn Skårderud, de que o homem tem um déficit de 0,05% de álcool no sangue. Uma dose diária da bebida alcóolica de sua preferência já é suficiente para preencher essa lacuna, permitindo que o corpo e os ânimos correspondam de forma assertiva. O indivíduo, por sua vez, fica mais relaxado, destemido, criativo.

É baseado nesta hipótese obscura que o roteiro de “Druk – Mais uma Rodada” ganha forma: quatro professores de meia-idade decidem fazer um “estudo de caso” e registrar as evidências coletadas em um artigo científico (hahaha) para comprovar a teoria do álcool no sangue. A ideia é acompanhar se o experimento altera de fato o comportamento humano, trazendo benefícios para o desempenho social e profissional. Na prática, antes de entrar em sala de aula e “enfrentar” uma turma de vestibulandos, um gole pra dentro. E assim prossegue o trabalho em equipe.

O aspecto mais arriscado deste filme é notar que o seu argumento é todo formatado para desabrochar em um conto de tom moralista, evidenciando as consequências do abuso do álcool. Consigo visualizar alguns cineastas carentes de sutileza e com o dedo em riste, tratando os personagens centrais da história com julgamentos. Para o bem do filme, este não é o caso do diretor Thomas Vinterberg, que, em nenhum momento, posiciona-se como juiz e delibera sentenças. Em vez disso, desenvolve um retrato exuberante sobre a poder da amizade, a recuperação da autoestima e a celebração da felicidade pautada no livre-arbítrio individual.

Uma questão que percorre toda a trama, ainda que de forma simbólica, e afeta os personagens de “Druk” é o momento em que eles não mais se reconhecem como jovens cheios de esperanças e expectativas. Por ter alcançado determinada idade, o protagonista Martin se acomoda em sua vivência automática, apática, sem cor; mas junto aos companheiros, decide reencontrar a jovialidade que perdeu em sua trajetória.

Neste momento, sem alardear o contraste, o roteiro é muito perspicaz em confrontar o estímulo da juventude com a regressão. Ser jovem não é o mesmo que ser irresponsável, e as consequências chegam a qualquer momento. Vinterberg é cuidadoso – e amoroso – em esclarecer essa diferenciação, utilizando a cachaça como subsídio. Menos um filme sobre bebedeira, em “Druk – Mais uma Rodada”, o álcool é mero coadjuvante de uma história revigorante sobre reabilitação pessoal para viver a vida como se deve.

Vinterberg e o ator Mads Mikkelsen retomam a parceria certeira do fantástico “A Caça” (2012) e, para a surpresa de ninguém, Mikkelsen está excelente no papel central, e a sua expressividade é ressaltada pelos closes da direção, uma maneira de manter o espectador constantemente próximo. Os demais componentes do grupo, defendidos pelos ótimos Thomas Bo Larsen, Lars Ranthe e Magnus Millang, também têm suas crises compartilhadas com o público, bem como a alteração do humor para a melhor, obedecendo os efeitos do excesso de álcool. O elenco é homogeneamente talentoso e irrepreensível na tarefa de nos emocionar, seja nos momentos de instabilidade ou nos mais hilários, como as anotações da pesquisa, a cena da pesca do bacalhau, as estripulias pela madrugada e o desfecho eufórico.  

Orbitando com eficiência entre o drama e a comédia, “Druk – Mais uma Rodada” é uma dose generosa de estímulo para estar vivo. Neste equilíbrio de tragédias e alegrias, como as figuras do filme, seguimos adiante.

“Druk – Mais uma Rodada” está em cartaz nos cinemas abertos e disponível para locação/compra no Now, Apple TV, Google Play, YouTube Filmes, Vivo Play e Sky Play.

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