A falácia da ‘incapacidade feminina’ em posições de liderança: um olhar crítico sobre o comentário de Tallis Gomes e a realidade das mulheres CEOs
A recente renúncia de Tallis Gomes da G4 Educação, após comentários machistas nas redes sociais, traz à tona um debate que, em pleno século XXI, não deveria mais existir: a capacidade das mulheres de equilibrar uma vida profissional de sucesso com as responsabilidades pessoais, como a criação de filhos e relacionamentos. Em sua fala, Gomes sugeriu que mulheres CEOs inevitavelmente enfrentam um processo de “masculinização” ao ocuparem posições de liderança, levando-as a negligenciar aspectos familiares. No entanto, essa visão ultrapassada desconsidera dados globais sobre liderança feminina e ignora a realidade de diversas executivas que equilibram com maestria suas vidas pessoais e profissionais.
Liderança Feminina no Mundo: Crescimento e Desafios
Atualmente, o número de mulheres ocupando cargos de CEO nas maiores empresas do mundo está crescendo, ainda que de forma gradual. Em 2023, 53 empresas da Fortune 500 – o que representa 10,6% – eram lideradas por mulheres, um aumento em comparação com décadas passadas, mas ainda um reflexo da sub-representação feminina nos níveis mais altos de gestão(InfoMoney). Entre essas líderes, nomes como Jane Fraser (Citigroup), Karen Lynch (CVS Health), e Mary Barra (General Motors) têm mostrado que a competência e a resiliência feminina não apenas igualam, mas frequentemente superam expectativas no comando de grandes corporações globais.
Estudos apontam que empresas com liderança diversa – seja em termos de gênero, etnia ou experiência – apresentam resultados mais robustos e inovadores. Um relatório da McKinsey & Company revelou que empresas com maior diversidade de gênero têm 25% mais chances de ter uma rentabilidade acima da média do setor(InfoMoney). O valor da presença feminina no topo, portanto, não é uma questão de ideologia, mas de performance e competitividade econômica.
Mulheres CEOs: Maternidade e Relacionamentos
A falácia perpetuada por Gomes de que mulheres CEOs não conseguem conciliar liderança com a vida familiar é igualmente desconectada da realidade. Pesquisas mostram que muitas executivas de alto escalão, além de gerirem suas empresas, também são mães e possuem relacionamentos estáveis. Um estudo conduzido pela Harvard Business Review apontou que 75% das mulheres em cargos executivos são casadas e a maioria delas também são mães(InfoMoney).
Além disso, o conceito de equilíbrio entre vida pessoal e profissional está longe de ser exclusivo às mulheres. Homens em posições de liderança enfrentam desafios similares, e casais onde ambos são CEOs, como Sheryl Sandberg (ex-COO do Facebook) e Dave Goldberg (CEO da SurveyMonkey antes de falecer), demonstram que é possível, sim, ter uma vida plena e equilibrada, mesmo com exigências profissionais elevadas.
No que diz respeito à maternidade, 40% das mulheres CEOs da Fortune 500 são mães(InfoMoney), e muitas afirmam que a maternidade lhes confere habilidades essenciais para liderar: empatia, capacidade de multitarefa e uma perspectiva colaborativa. Essas qualidades, que podem ser atribuídas à “energia feminina”, são exatamente o que distingue grandes líderes.
CEOs Mulheres Casadas com CEOs Homens
O número de mulheres CEOs casadas com outros executivos de alto nível é considerável, destacando-se como exemplos de como essas dinâmicas podem ser bem-sucedidas. Casais como Meg Whitman (ex-CEO da HP e eBay) e Griff Harsh (neurocirurgião e professor) mostram que carreiras de sucesso e relacionamentos bem-sucedidos não são mutuamente excludentes(InfoMoney).
Esse tipo de parceria profissional entre CEOs ou executivos de alto nível reforça a ideia de que o sucesso na liderança e a vida familiar podem coexistir harmoniosamente. Esses casais, que compreendem profundamente as demandas profissionais um do outro, frequentemente desenvolvem rotinas colaborativas que permitem um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
O Impacto das Falas de Tallis Gomes e o Papel Transformador das Mulheres na Liderança
O comentário de Tallis Gomes, ao sugerir que mulheres CEOs não fazem o melhor uso de sua “energia feminina”, reflete uma visão retrógrada e machista que não apenas subestima as capacidades das mulheres, mas também perpetua estereótipos que já deveriam ter sido superados. Ao tentar limitar o papel das mulheres ao espaço doméstico, Gomes ignorou décadas de avanços sociais e econômicos que provam o contrário.
A verdade é que as mulheres, quando ocupam cargos de liderança, não apenas prosperam, como transformam suas empresas em lugares mais inclusivos e inovadores. O equilíbrio entre vida pessoal e profissional é uma questão de organização, suporte e sistemas funcionais, não de gênero. Se há algo que a história recente das mulheres CEOs nos ensina, é que elas podem, sim, “dar conta da família com os pés nas costas” – e de suas empresas também.
Conclusão
O episódio envolvendo a renúncia de Tallis Gomes deve ser visto como uma oportunidade de reflexão sobre os desafios que as mulheres continuam a enfrentar para conquistar posições de liderança. No entanto, também evidencia como essas barreiras estão sendo superadas, não apenas em números, mas em qualidade de gestão. O mundo corporativo, quando aberto à diversidade, beneficia-se de perspectivas mais amplas, e as mulheres têm desempenhado um papel fundamental nesse processo de transformação.
Mulheres CEOs são mães, esposas e líderes excepcionais que estão moldando o futuro dos negócios, desmentindo, de uma vez por todas, qualquer noção antiquada de que seus papéis na sociedade deveriam ser limitados. Ao contrário do que Tallis Gomes afirmou, a realidade mostra que, organizadas e competentes, essas mulheres podem conquistar tudo o que desejarem – e o fazem com grande sucesso.