11 de junho de 2025

Análise Crítica: Big Techs, Transformação do Trabalho, Custo de Vida e Previdência no Brasil


Por Jeferson Cardoso Publicado 14/05/2025 às 15h42
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A revolução digital provocou uma mudança estrutural profunda nas relações de trabalho e na forma de distribuição de riqueza. O avanço das big techs, como Amazon, Alphabet, Meta, Apple e Microsoft, redesenhou o mercado global, com impactos intensos sobre economias periféricas como o Brasil. Este documento busca discutir os efeitos da expansão dessas empresas sobre o mercado de trabalho, a arrecadação previdenciária, a renda familiar e o custo de vida, relacionando com tendências futuras e propondo medidas para o setor público.

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Foto: Pixabay

Concentração de Lucros nas Big Techs

    As cinco maiores big techs lucraram mais de US$ 327 bilhões em 2023, com US$ 1 trilhão em receitas fora dos EUA. Esses lucros são majoritariamente provenientes da monetização de dados, publicidade digital, serviços em nuvem e intermediação digital. No Brasil, apesar de operarem com intensidade, essas empresas recolhem impostos mínimos, operando via subsidiárias ou contratos internacionais.

    Problema crítico: essas empresas concentram capital sem redistribuí-lo proporcionalmente aos países onde extraem valor, contribuindo para o aumento da desigualdade.

    Redução dos Empregos na Indústria

    Entre 2013 e 2022, o Brasil perdeu cerca de 745 mil empregos industriais. Esse segmento historicamente oferece melhores salários e garantias trabalhistas. A substituição por atividades de serviço e economia sob demanda precarizou o mercado.

    Fator crítico: a automação, a desindustrialização e os acordos de importação afetaram drasticamente a geração de postos estáveis e bem remunerados.

    Crescimento dos Serviços e “Uberização” do Trabalho

    O setor de serviços, responsável por 58,2% do PIB brasileiro em 2024, tem liderado a geração de empregos, porém em condições vulneráveis: jornadas longas, informalidade, instabilidade e rendimentos baixos. A lógica de aplicativos como iFood e Uber cria uma nova forma de “escravidão moderna digital”, onde o trabalhador acredita ter liberdade, mas está submisso a metas inatingíveis para obter renda mínima.

    Historicamente, quando a indústria era o motor da economia brasileira (entre as décadas de 1960 e 1980), os trabalhadores industriais recebiam salários mais altos, tinham maior estabilidade e acesso a benefícios como previdência, plano de saúde e habitação. O custo de vida, ainda que com inflações recorrentes, era proporcionalmente mais compatível com a renda. A migração para uma economia baseada em serviços precarizou a relação entre ganho e consumo, exigindo mais horas trabalhadas para manter o mesmo nível de consumo essencial.

    Renda e Custo de Vida: Comparativo em Dólar

    • – Renda média brasileira (2024): R$ 3.057 → US$ 611/mês
    • – Custo de vida para uma pessoa: US$ 1.041/mês
    • – Custo de vida para família de 4 pessoas: US$ 2.359/mês

    A renda média não cobre sequer o básico para sobrevivência individual. Isso amplia o endividamento, a insegurança alimentar e a exclusão do acesso a bens essenciais.

    Arrecadação Previdenciária x Trabalhadores CLT

    • – Arrecadação do INSS (1º semestre de 2024): R$ 1,298 trilhão
    • – Trabalhadores com carteira assinada (CLT): 39,2 milhões
    • – Déficit do RGPS: R$ 30,3 bilhões

    Apesar do número recorde de CLTs, o crescimento da informalidade (mais de 38% do mercado de trabalho total) compromete a sustentabilidade do sistema previdenciário.

    Impactos Sociais e Tendências Futuras

    Impactos atuais:

    • – Queda da qualidade de vida
    • – Enfraquecimento do contrato social
    • – Crescimento da desigualdade
    • – Endividamento das famílias
    • – Insegurança previdenciária

    Tendências 2025-2030:

    • – Avanço da IA e redução de postos operacionais
    • – Mais plataformas e serviços sob demanda
    • – Economia informal digitalizada
    • – Risco de colapso previdenciário em países sem transição regulatória

    Propostas para o Setor Público

    1. Reforma Tributária Digital: Taxar big techs conforme receita gerada em solo nacional.

    2. Revisão das leis trabalhistas para apps: Garantir mínimos direitos como contribuição ao INSS, descanso, remuneração base.

      3. Incentivo à reindustrialização com tecnologias verdes.

      4. Educação e qualificação para novos mercados: IA, dados, energia, biotecnologia.

      5. Renda básica digital: Experimentos de transferências condicionadas à contribuição indireta nas plataformas.

      Conclusão

      A expansão das big techs e o crescimento da informalidade estão redesenhando as bases econômicas e sociais do Brasil. A falta de regulação, a queda da renda real e a sobrecarga do sistema previdenciário podem gerar uma crise social profunda. Políticas que promovam equidade, regulação justa da economia digital e investimentos em formação profissional são urgentes para evitar o aprofundamento da desigualdade e garantir um futuro sustentável para o país.

      Fontes:

      • – IBGE, 2024
      • – XP Investimentos, Temporada de Resultados 1T24
      • – Expatistan, 2025
      • – Gov.br (INSS, Receita Federal)
      • – Carta Capital
      • – Agência Brasil
      • – OCDE: Digital Tax Trends Report 2024

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