17 de julho de 2025

Se existe rádio-peão, o líder virou antena


Por Jeferson Cardoso Publicado 11/06/2025 às 15h17
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Em toda empresa onde o rádio-peão ganha força, existe uma liderança fraca, hesitante ou conivente. Não é o colaborador que inventa o ruído ele apenas ocupa o vazio que a gestão deixou. A falta de comunicação formal, frequente e institucionalizada vira o terreno perfeito para a informalidade, para o diz-que-diz e para o julgamento moral disfarçado de “opinião de corredor”. E a raiz disso, na maioria das vezes, não está no clima da empresa ou no perfil dos funcionários. Está no comportamento dos líderes. Porque se há rádio-peão, é porque alguém em posição de liderança está agindo como antenna captando, retransmitindo e, pior, alimentando o que deveria estar combatendo com postura.

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Foto: Imagem ilustrativa/Unsplash

É fácil reclamar de fofoca quando não se tem a coragem de dizer o que precisa ser dito na hora certa, pelo canal certo, com a linguagem adequada. E essa covardia cotidiana da liderança tem custado caro, principalmente para empresas de Maringá e região, que carregam traços marcantes de gestão familiar, onde a centralização, o segredo e a ideia de que “é melhor não falar tudo” ainda dominam a cultura organizacional. É justamente essa informalidade mal administrada que transforma ambientes em campos minados de desconfiança, competição velada e baixa produtividade.

Segundo o relatório da Gallup sobre engajamento no trabalho (2022), empresas com liderança comunicadora têm até 25% menos rotatividade e até 18% mais engajamento sustentável ao longo do tempo. Já a McKinsey, em seu estudo global sobre o futuro das organizações, mostrou que empresas com uma cultura forte de comunicação tomam decisões até 47% mais eficazes. Mas talvez o dado mais contundente venha do GPTW Brasil: empresas reconhecidas como “excelentes para se trabalhar” têm 74% de seus colaboradores dizendo que confiam plenamente na comunicação da liderança enquanto, nas empresas médias brasileiras, esse índice mal passa dos 34%. Isso significa que o rádio-peão não é um acaso. É um sintoma crônico de um sistema desorganizado e, principalmente, de lideranças despreparadas ou permissivas.

Falo com propriedade. Em 2023, atendemos em Maringá uma empresa com pouco mais de 60 colaboradores, ambiente familiar, bem estruturada financeiramente, mas com um problema claro: ruído interno. O clima era tóxico, os boatos vinham antes dos comunicados, e o turnover beirava os 40% ao ano. Na avaliação de clima, a nota média era de 5,2. O dono dizia que não sabia mais o que fazer mas, ao mesmo tempo, repassava decisões estratégicas por conversas informais, permitia que coordenadores “vazassem” decisões antes da hora e tratava fofoca como “parte do jeitinho do brasileiro”. A intervenção foi direta: formalizamos os canais de comunicação, estruturamos rituais de reunião com pauta e ata, criamos murais físicos e digitais para atualização constante e o mais importante transformamos a fofoca em item de advertência, com orientação clara sobre condutas esperadas. Em um ano, a empresa saltou para nota 8,1 na nova avaliação de clima. O turnover caiu 30%. E a produtividade do time comercial cresceu 22%. Não foi por sorte. Foi por método, decisão e coragem de mudar o comportamento da liderança.


É importante reforçar: rádio-peão sempre existirá. Não se elimina conversas paralelas com um cartaz na parede. Mas é possível torná-las irrelevantes quando se constrói um ambiente onde as informações circulam de forma transparente, estruturada e confiável. O que sustenta a cultura de uma empresa não é o discurso na convenção anual. É o que o líder faz todos os dias inclusive, ou principalmente, quando não quer se comprometer com a verdade.


Nas pequenas e médias empresas do interior, onde muitas decisões ainda acontecem no cafezinho ou no grupo de WhatsApp, o desafio é ainda maior. Mas é justamente por isso que liderar exige mais do que técnica exige maturidade emocional, responsabilidade institucional e uma visão de futuro que vá além da operação do dia.


Se você é líder e está lendo este texto, saiba que sua equipe te observa o tempo todo. Observa o que você fala, o que deixa de falar e como você reage quando o boato é mais rápido que a comunicação oficial. A cultura da sua empresa não é aquilo que está no manual. É aquilo que você tolera e o que você permite.

E, por fim, se existe rádio-peão onde você trabalha, não se iluda: o problema não está na equipe. Está naquilo que você não tem coragem de dizer e no silêncio onde você alimenta o que não tem coragem de enfrentar.

Porque no fim das contas, a cultura que você ignora é a comunicação que te destrói.

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