Avião, acidente e reflexão
A vida nos dá exemplos.
Muitas pessoas me perguntam se é possível tirar lições de ética da vida cotidiana. A resposta é que sim, e muitas.
Um dos fatos que marcou os últimos dias foi o acidente de avião no Rio Grande do Sul. Um empresário de São Paulo decora com seu avião particular levando sua família do aeroporto de Canela, o destino era Jundiaí, cidade do interior paulista.
O avião bimotor decolou com tempo fechado, pista molhada e baixa visibilidade. Condições de risco para um avião de pequeno porte, decolando de um aeroporto sem muitos instrumentos para o monitoramento do voo. Mas, o piloto decola mesmo assim.
O avião voou poucos minutos e caiu sobre a cidade de Gramado, a poucos quilômetros de distância da cidade de Canela. Todos os passageiros morreram no acidente, nove pessoas.
Não há ainda informações precisas sobre a causa do acidente. Contudo, as condições climáticas apontam para um maior risco. Logo, o piloto teve a dúvida: decolar ou não? Enfim, diante do risco há que se pensar nas escolhas.
O poder de nossas escolhas.
Quando fazemos escolhas estabelecemos critérios de valor. O que consideramos importante, o que é mais relevante, o interesse mais determinante diante do conflito de possibilidades, ações e consequências. Ao que se renuncia diante da escolha e ao que se beneficia ao fazê-la. O piloto passou por isso.
Afinal não eram apenas passageiros, ele não era somente piloto. Estava diante do transporte de seus familiares em condição de risco.
No momento em que se vai escolher está a experiência do que se faz, o que já foi feito que se assemelha e os resultados que geraram. Quantas vezes o piloto já voou nestas condições? Qual a experiência que teve? O porquê precisava partir ou não naquele momento?
Não há que julgar do fato em questão, condenar ou absolver o piloto, a tragédia em questão é apenas, para nós, um contexto de reflexão.
Quantos de nós não fazemos escolhas todos os dias. Escolhas que têm consequências, que geram resultados, tem seus riscos. O que nos leva a escolher? Este é o ponto de reflexão que temos que ter diante deste fato.
A confiança não alivia os riscos.
Por quantas vezes estamos confiantes que apesar dos riscos não haverá problemas? Nós agimos na confiança do que já fizemos antes, do que outros fizeram. Acreditamos que o nosso comportamento habitual estimula a agir mesmo com as possibilidades contrárias de algo dar errado.
Neste momento, não agimos de forma ética. Não consideramos o valor necessário e nem aquilo que devemos cumprir na responsabilidade que temos.
Somos marido, esposa, pai, filho, enfim, temos uma família que em alguns momentos está sob nossa responsabilidade. Nossa liderança em determinado contexto sobre questões, ações e reações que os envolvem, nos coloca no controle de suas vidas.
Por isso, a ética está na melhor escolha, aquela que preserva as pessoas, nos valores que determinam a construção do que é mais relevante com a ação. Esta é a condição de quem todos os dias está diante de escolher e agir. Nesta ação que repousa o nosso interesse mais relevante, de maior valor.
Por isso, vale refletir sobre o que queremos, quais os meios que usamos para chegar a este fim e quem são os envolvidos.