Conhecer a si mesmo não é para qualquer um
Não há receita para si mesmo.
O autoconhecimento é ir além do provável. Não são estes manuais de autoajuda com receitas prontas de uma reflexão sobre vontades, desejos e uma percepção pessoal do mundo. Autoconhecimento e se colocar no centro do questionamento, da dúvida, da indagação sobre o sentido do que se fez e faz.
Buscar saber-se quem é já é divulgado aos quatro cantos de uma forma distorcida quando se fala do santuário de Delfos, na Grécia Antiga, eternizado pelo pensamento de Sócrates nos escritos de Platão. “Conhece-te a ti mesmo!” não é uma frase em si, há uma continuidade dela em sua originalidade.
Ao se conhecer a si, deve-se abrir as portas para o conhecimento do Universo e dos deuses, ou Deus. Logo, ao conhecermos a nós mesmos estamos conhecendo o mundo que rege a nossa existência. Não podemos nos conhecer sem entender o que nos motiva e nos assombra, o que nos explica e como nos posicionamos no mundo.
Viver como senhor(a) de nossas vidas é uma escolha.
Se somos condenados a nós mesmos, se somos regidos por uma vida que não temos como fugir dela, podemos apenas viver ou podemos pegar as rédeas de nossa existência e nos dar sentido. Sempre há os que preferem viver ao sabor do acaso, deixar-se levar. Se não controlam o que são, logo, preferem a “falsa inocência” da isenção de serem vítimas do que insistem em chamar de “destino”.
O autoconhecimento, o “conhece-te a ti mesmo” vai no sentido contrário. Ele exige o protagonismo sobre uma vida que é intransferível, admitir na condução da vida uma personalidade com virtudes, mas falha em algumas atitudes. Lembre-se que muitos erros que cometemos é tentando acertar. “De boa intenção o inferno está cheio, como dizem”, e isso não é todo errado.
Logo, se conhecer é saber aceitar quem se é e, ao mesmo tempo, agir para a superação constante daquilo que se busca ser melhor. Logo, o pior de nós não pode ser a permanência, porém, admiti-lo é o melhor ponto de partida.
Ninguém sai ileso da jornada interior.
Repousam dentro de nós naufrágios desconhecidos ou nunca visitados. Há, dentro de nós, vida que pulsa e a morte que exala o odor de lugares podres da memória. Reavivar é trazer à tona o que se deseja e não se quer.
Por mais difícil que seja encararmos o que somos, as mazelas do que acreditamos, as falsas ideias que já nos conduziram, não podemos fugir disso. Temos que ter o compromisso de não passar uma vida sem deixar um legado, algo que fique além de nós.
Por isso, a jornada “interior” é o caminho que percorremos sós. Somos os únicos que temos a condição e a permissão de mergulharmos em nosso interior. Porém, também, nunca terminaremos o caminho de nos conhecermos como o começamos.