Envelhecer todos nós vamos, mas como?
Envelhecer é destino de todos.
Envelhecer, todos nós estamos condenados a isso. Muitos se seguram como podem, consideram a juventude campo eterno. Mas, o tempo é implacável, linear em nossa cultura. Pior, seletivo, discriminador, generalizador em nossa sociedade.
Um exemplo, é que a terceira idade no Brasil começa aos sessenta, na Itália é aos 75. Em outros países, ela pode variar entre 65 a 70. Enfim, tem gente que não se sente velha, mas está envelhecida socialmente, também, juridicamente. Em nosso país, o corte temporal é curto.
Porém, a maior crueldade está em percebermos que existe uma diferença biológica que é mais determinante. Não por acaso, você vai encontrar quem tenha 40 e aparenta ter 70. O corpo já demonstra limitações claras que para alguns só vai se estabelecer após os 75 anos.
Logo, envelhecer é mais diverso e variável do que se imagina.
A psicóloga e psicoterapeuta Angela Phillippini fala sobre a terceira idade com maestria. Em uma de suas obras, considera que temos que relevar aspectos distintos para definir o tempo de cada um.
Temos a idade cronológica, a do calendário, dos aniversários, dos dias contados. Nela, todos viram um padrão. Mas, há uma idade celular, a do organismo, do corpo, do potencial físico. Esta distingue muitos e não se generaliza.
Quem tiver acesso aos melhores recursos, um ambiente saudável, uma condição material que possa se reverter em cuidados, será distinto no tempo cronológico que não expressa o perfil da medida. Por isso, para muitos, se manter “jovem” é disponibilizado na “prateleira do mercado”, pagar para ter.
Há, também, a idade social, a maneira como a sociedade cultua o tempo, a relação com o envelhecimento. Ou seja, como nos preparamos e vivenciamos o tempo. E neste sentido, o Brasil está engatinhando em saber lidar com as pessoas. Rotulamos sem conhecermos a condição humana, sem entender como cada um envelhece.
Este é um campo vertil para a agressão. E ela existe, nos mais variados lugares.
Preconceito evidente é sinal de ignorância sobre o que é o envelhecimento.
Nas empresas o preconceito é evidente. A falta de paciência com as pessoas com mais idade é a expressão da discriminação generalizadora. Uma denúncia de despreparo para lidar e não perceber, reconhecer e valorizar o potencial das pessoas.
Já presenciei inúmeras vezes pessoas com mais idade sofrerem agressão e ter a idade como fator de limitação para justificar uma repressão.
Recentemente, vi um caixa de mercado ser tratado de forma agressiva por um erro e ser rotulado de velho na frente dos clientes. O despreparo dos gestores, daqueles que lidam com pessoas mais velhas é absurdo. Se uma rede de supermercados se compromete a ter a inclusão de pessoas com mais idade, deve estar preparado para isso.
Aí há uma quarta forma de se levar o tempo de vida, o que Angela Phillippini chama de idade mental. A saúde ou não das pessoas em relação a envelhecer e estar velho. O desrespeito gera discriminaçã, por sua vez, rejeição. Ao final, depressão de quem se vê renegado, diminuído, ou excluído pela idade. Há que se educar para isso.
O Brasil está longe de saber lidar com etarismo.
Por isso, temos muito o que aprender, nos preparar e saber conviver com o tempo. Vamos todos envelhecer. A grande questão para todos é: Como?
E, não se esqueça, isso se aprende cedo. Não se esqueça, jovens convivem com pessoas mais velhas, há um convívio geracional que cresce e se multiplica. Quanto mais alguns buscam fugir dele, maior a possibilidade de um ambiente agressivo.
Sendo assim, chegou a hora de aprenderemos a construir uma relação baseada na convergência e não na diferença. Por mais que exista a diversidade, a convivência é condição necessária e deve ser saudável e educativa para todos, seja onde for.