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08 de janeiro de 2025

O quarto já foi o lugar de dormir


Por Gilson Aguiar Publicado 07/01/2025 às 11h05
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Antes o quarto era o fim de um dia. 

Nele se encerrava a jornada das atividades. Era o momento em que se refletia sobre o que se fez e o que se tem feito. Nele, com a cabeça no travesseiro, se pensava no que se deve fazer. 

Era o quarto cômodo do isolamento temporário. Já foi no passado o local do castigo onde se encerra às pessoas para punições. Na família patriarcal brasileira, as moças tinham no quarto a prisão. Algumas não poderiam sair dele por castigo ou ficava confinada a mando dos pais. 

Me lembro da fala ríspida de minha mãe mandando ir para o quarto, era a dor inimaginável ter que abandonar a liberdade de correr, brincar, ser livre, para a masmorra doméstica. As paredes do quarto pressionaram a vida e demonstraram o quanto nada pode ocorrer lá. 

Mas, isso foi no passado. Hoje…

Hoje, o quarto é o mundo à parte. O lugar onde se fica e se pretende permanecer. Sair dele é enfrentar um mudo que não se quer e onde os inimigos repousam. O quarto virou o acesso a uma realidade construída a partir de si mesmo. 

Se fossemos definir o papel do quarto, ele seria o asteroide B612, do Pequeno Príncipe, onde Saint Exupéry descreve o lar do personagem que vê o mundo de forma mágica. Inclusive com sua luneta mágica.

Contudo, seu pequeno mundinho, seu quarto espacial, é ameaçado pela árvore baobá que ameaça engolir o seu planeta. Simbolicamente a realidade, o amadurecimento.

Enfim, o quarto agora é onde se passa, para alguns, boa parte do dia. Se pudessem escolher, alguns deles, uma vida inteira. 

O quarto é um reino paralelo.

Por que se gerou pequenos príncipes e princesas, que se negam a crescer, encerrados em seus quartos? 

Porque o mundo do consumo particularizou a lógica da oferta. Porque a vida doméstica foi invadida pela comodidade dos desejos individuais em lugar da negociação coletiva da convivência. O social se rompe no ambiente privado e se instala o isolamento como condição de coexistência.

Observe, os celulares nas mãos das pessoas são uma expressão cotidiana da particularidade lógica da existência. 

Enfim, nos rodeamos de objetos e os transformamos em uma extensão de nossa existência. Eles intermedeiam o nosso contato com os demais. Também, estes mesmos objetos nos educam. E o quarto é um dos cômodos principais desta convivência. 

Pauta do Leitor

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