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04 de dezembro de 2025

Casa de chás em Maringá mistura gastronomia e espiritualidade


Por Brenda Caramaschi Publicado 14/09/2025 às 09h05
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O casal Savav e Bekor chegou recentemente à Maringá para comandar a casa de chás que ajuda a financiar a comunidade religiosa da qual eles fazem parte. / Foto: Brenda Caramaschi

Em uma casa amarela com detalhes em madeira na Avenida Brasil, bem em frente à praça do Antigo Aeroporto, funciona uma casa de chás que parece saída de um conto de fadas ou de um livro de fantasia com ares medievais. As mesas e decorações são todas de madeira, feitas à mão, e a música ambiente instrumental parece transportar o visitante a uma outra terra ou tempo distante. À frente do atendimento está o casal Savav e Bekor Shamah, que chegou à Maringá há pouco mais de dois meses. Na cozinha, eles recebem a ajuda de uma mãe e duas filhas, também recém-chegadas à cidade. As duas famílias dividem mais do que trabalho – dividem também a casa e a fé: ambas fazem parte de uma comunidade religiosa alternativa conhecida como “as Doze Tribos”.

Apesar de carregarem nomes de origem hebraica, todos são brasileiros. Savav nasceu Fabiane, Bekor antes era Washington. Os “novos nomes” foram dados a eles depois que se juntaram ao grupo religioso. Os dois se conheceram em uma igreja batista em Curitiba, se casaram e deram início a uma busca para irem além na espiritualidade. Foi quando souberam da comunidade das Doze Tribos, em Campo Largo. 

Em uma área rural, onde são produzidos os chás que eles vendem hoje, se juntaram a um grupo que estava em busca do mesmo que eles. “Eu achei que eles eram hippies,  que moravam em barracas, que não tinham nada com tecnologia.  Mas quando nós vimos que viviam o Evangelho,  que receberam o chamado e aceitaram as condições, isso nos chamou a atenção,  porque era algo que nós estávamos querendo entender melhor. Já não fazia mais sentido nós voltarmos para nossa vida ‘ordinária’, vamos dizer assim”, relembra Savav. Ambos eram servidores públicos – ela trabalhava em uma creche, ele em um hospital. Deixaram tudo para se juntar ao grupo.

Sabores que evangelizam: o encontro da fé das Doze Tribos com a mesa

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Yellow Deli espalhadas pelo mundo ajudam a financiar a vida em comunidade das Doze Tribos. / Foto: Brenda Caramaschi

A origem do movimento religioso se deu nos anos de 1970, nos Estados Unidos, e se espalhou pelo mundo. “Era um grupo de jovens que tinham um desejo muito profundo de servir a Deus, fazer vontade de Deus, de obedecer as Escrituras.  E isso fez com que eles começassem a viver juntos em comunidade”, simplifica Bekor. A meta das Doze Tribos é viver como a comunidade descrita no livro bíblico de Atos dos Apóstolos. “Esse livro da bíblia diz que todos os que criam no Filho de Deus viviam juntos, tinham tudo em comum. Ninguém dizia que coisa alguma que possuía era sua própria, mas era repartido conforme a necessidade de cada um. Então não havia uma vida individual, mas era uma vida coletiva”, descreve.

No Brasil, as comunidades ligadas às Doze Tribos chegaram nos anos de 1990 e hoje estão concentradas no Paraná e interior de São Paulo. A fabricação de chás, em Campo Largo, foi um dos modelos de negócio encontrados para financiar a vida em comunidade, mas o mais famoso, presente em diversos países, é o Yellow Deli. O nome vem da cor da lanchonete, sempre amarela, desde a primeira unidade, e da abreviação de “delicatessen” – um lugar onde se vendem iguarias especiais. Trata-se de uma rede de restaurantes com cardápio padronizado, que inclui pratos com influência norte-americana, como waffles, sanduíches e cheesecakes, e uma grande variedade de chás. Por motivos religiosos, itens como carne de porco, café e chocolate não estão presentes entre os ingredientes utilizados e são substituídos – no misto quente, o presunto dá lugar ao peito de peru e nos cookies, as gotas de chocolate são trocadas por alfarroba, por exemplo. “É que não era uma comunidade hippie, como muitos pensavam,  mas era uma comunidade de pessoas que tinham uma intenção de construir algo e de trabalhar também. Para nós é muito importante isso de se sustentar, não ser um grupo religioso que vive de doações. E o que nós não consumimos, nós não servimos”.

No mundo, a primeira unidade abriu as portas no Tenessee. Já no Brasil, o primeiro Yellow Deli foi aberto em Londrina e atrai visitantes de toda a região, com fila de espera aos finais de semana para ocupar as dezenas de mesas do restaurante na área rural. O segundo foi aberto em Itapecerica da Serra, no interior de São Paulo. Maringá é a terceira cidade brasileira a receber a proposta gastronômica, mas pelo ambiente pequeno e o cardápio mais enxuto, ainda não é considerada uma Yellow Deli, ganhando, por isso, o nome de Tribal Casa de Chás. Apesar de os atuais administradores da casa terem chegado há pouco tempo, o lugar abriu as portas há mais de um ano. As famílias que foram enviadas para dar início ao negócio foram remanejadas para outras missões, segundo o casal.

Chás, cardápio norte-americano e produtos orgânicos

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Mate Soda é o mais vendido: o chá gaseificado é servido na caneca gelada acompanhado de limão. / Foto: Brenda Caramaschi

O carro chefe das vendas entre as bebidas é o Mate Soda (R$ 14), um delicioso mate gaseificado, servido gelado. Mas há também outras opções de chás orgânicos nas versões frias ou quentes, sucos e alfarroba quente. Para acompanhar, itens de café da manhã, como iogurte com granola (R$ 30), bolo de cenoura ao estilo norte americano (R$ 25) e queijo quente feito com pão integral (R$ 12), são servidos o dia todo, das 8h às 21h, de domingo a quinta-feira. 

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Frango Chipottle é servido acompanhado por batata chips e picles. / Foto: Brenda Caramaschi

Há opções de sanduíches maiores, como o saboroso Frango Chipottle (R$ 50) que acompanham batata chips e picles, e ainda saladas bem servidas e diversificadas. Entre os doces, vale também provar o cinnamon roll (R$ 15) e a cheesecake com frutas vermelhas (R$ 28). Há ainda um pequeno empório com produtos como pães, mel silvestre e produtos em couro – todos fabricados em Londrina. Esses mesmos produtos também têm sido apresentados por Savav aos maringaenses em feiras colaborativas espalhadas pela cidade.

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Leve e delicada, a cheesecake da casa de chás é boa pedida de sobremesa. / Foto: Brenda Caramaschi

Apesar do objetivo de estreitar laços com a comunidade em geral e usar essa aproximação como forma de proclamar a própria fé, quem trabalha ali não vai te bombardear com informações sobre religião – aliás, o assunto nem é mencionado se você não perguntar algo. A presença dos elementos de fé é mais sutil, como os nomes das mesas, que se referem às características do fruto do Espírito, mencionado no livro bíblico de Gálatas. “A gente cria relacionamentos.  E hoje em dia tem muitos dos nossos irmãos que fazem parte de nossas comunidades que conheceram através dos Yellow Delis e se apaixonaram. Hoje mesmo entrou um rapaz argentino que estava na mesma busca que estávamos.  Então nós sentimos de encontrar pessoas que também têm esse desejo de somar”, diz Bekor. 

As comunidades das Doze Tribos em Londrina e Campo Largo contam com cerca de 30 pessoas em cada uma – embora Bekor reforce que não é feita uma contagem ou um censo para medir exatamente o número de membros – mas em Maringá, os representantes se resumem às duas famílias que tocam a Casa de Chás. No entanto, quem se interessar em saber mais sobre o modo de vida da comunidade, é convidado a participar das celebrações da chegada do sábado, semanalmente. Na sexta, a casa fecha pouco antes do pôr do sol e reabre apenas no domingo. E assim como acontece nas demais comunidades das Doze Tribos, nesse período, os membros se reúnem para cantar canções, celebrar com danças folclóricas israelitas e falar da fé – e esses encontros são abertos a quem quiser conhecer melhor esse modo diferente de viver.  

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