Diversidade etária nas empresas: A hipocrisia velada nos processos seletivos
Recentemente, um amigo compartilhou sua experiência frustrante ao participar de um processo seletivo no Nubank. Após seis meses de espera sem qualquer feedback, ele descobriu que outros candidatos mais jovens, com uma aparência “mais aderente”, estavam sendo contratados, independentemente de suas qualificações técnicas ou comportamentais. A impressão que ficou é que ele foi preterido por não se enquadrar no padrão físico e etário que agrada os recrutadores. Esse episódio revela uma realidade desconfortável: enquanto muitas corporações pregam a diversidade, na prática, contratam apenas um exército de padrões.
Quem está procurando trabalho conhece bem a conclusão dessa história. Termos como EXPERIÊNCIA, CERTIFICAÇÃO, ADERENTE, ADEQUADO, REQUISITOS, HARD SKILL, e SOFT SKILL são frequentemente usados como eufemismos para justificar a exclusão de candidatos com base em preconceitos velados.
Evidências Científicas do Preconceito Etário
Pesquisas mostram que preconceitos relacionados à idade nos processos seletivos são reais e frequentes. Um estudo publicado na “Harvard Business Review” destacou que candidatos mais velhos são menos propensos a serem contratados, independentemente de suas qualificações. Outro estudo da “National Bureau of Economic Research” revelou que candidatos acima de 50 anos têm 50% menos chance de receber uma oferta de emprego em comparação com candidatos mais jovens.
A Realidade dos Processos Seletivos
Os processos seletivos estão cada vez mais escondendo preconceitos e normativas que não dão aos candidatos clareza sobre os motivos pelos quais são excluídos. É comum ouvir de profissionais acima dos 40 anos que sentiram o preconceito durante as entrevistas. Empresas tendem a preferir um perfil jovem e “descolado”, em detrimento de candidatos com vasta experiência e competência, simplesmente por causa da aparência.
Desafios e Soluções
Em algumas empresas, a faixa etária predominante é entre 22 e 33 anos, com CEOs de aparência jovem. Esse preconceito não se limita apenas à idade, mas também à aparência, cor, credo e etnia. A diversidade tão proclamada é, muitas vezes, apenas uma fachada, com práticas internas que perpetuam a exclusão.
Por outro lado, algumas empresas adotam políticas de cotas que, embora bem-intencionadas, podem acabar gerando um ambiente de trabalho tenso e desconfortável. A verdadeira solução para essa questão passa por um diálogo honesto e aberto sobre diversidade e inclusão.
A Importância da Atualização Profissional
Profissionais com mais de 40 anos precisam se atualizar, abandonar resistências tecnológicas e se mostrar abertos a novas ideias e tecnologias. A sabedoria e a vivência desses profissionais são insubstituíveis, e sua capacidade de conduzir diálogos inteligentes e de alto nível é algo que os mais jovens frequentemente carecem.
O Papel dos RHs na Diversidade Etária
Como profissionais de RH, temos a difícil tarefa de promover a diversidade etária de maneira genuína, sem forçar contratações que possam ser traumáticas para ambas as partes. É essencial reconhecer nossos próprios preconceitos e trabalhar para superá-los. Não adianta promover campanhas de endomarketing como “60 MAIS” se, na prática, não conseguimos sequer conviver com nossos pais e avós.
Conclusão
A diversidade nas empresas não deve ser apenas um discurso bonito, mas uma prática concreta e inclusiva. Somente assim poderemos construir um ambiente de trabalho verdadeiramente diverso e enriquecedor para todos.
Sobre o autor
Esse artido é assinado por Jeferson Cardoso, que é CEO da Intalenti, colunista de RH na MIX FM e CBN Maringá, presidente da ABRH Noroeste-PR, professor e palestrante. Saiba mais sobre ele.