04 de maio de 2025

‘Ela era tão linda… Susan Susan, do papai’ – por Alex Ferrarini Delgado


Por Redação Publicado 07/02/2025 às 14h58
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Susan veio ao mundo para fazer diferença. Já bebezinha, chamava a atenção por onde passava. Seu sorriso era fácil; bastava olhar para ela que seu sorriso abria. O interessante era que ela sorria com os olhos também. Seus olhinhos, de maneira harmoniosa, se encontravam com a boquinha.

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Foto: Reprodução

Hoje, depois de todo esse tempo, começo a entender que realmente as meninas são mais apegadas ao pai, que é o primeiro príncipe delas, o herói. Quando eu chegava em casa, ela reconhecia o barulho do carro e saía gritando: “Papai chegô!”. Assim que começou a falar, eu dizia para ela: “SUSAN, SUSAN do papai”.

Hoje me dói pensar. Não vou ensiná-la a andar de bicicleta, nem levá-la e buscá-la na escola, nem ver seu interesse pelo primeiro namoradinho. Nem poderei entrar com ela no casamento. Coisas simples que um pai sonha em fazer com a filha.

Ela não estava doente, nem tinha algum problema de saúde, mas se foi drasticamente, repentinamente. Foi levada de mim abruptamente através de uma forma de óbito tão horrível que chega a ser usada para torturas: o afogamento infantil.

Eu, como pai, estou aqui hoje para conversar sério com você sobre esse assunto, que muitas vezes é tratado como um tabu.

AFOGAMENTO

A Flórida é o estado continental com o maior número de mortes por afogamento, sendo muitas vezes 50% maior do que a média dos estados. Só perde para o Alasca e o Havaí.

Para se ter uma ideia, o Florida Department of Health faz uma estimativa dentro de um período de quatro anos. Na última estatística, entre 2018 e 2022, foram 2.640 mortes por afogamento infantil somente entre crianças de 1 a 4 anos. Lembrando que o número de afogamentos é bem maior do que isso, pois aqui só se conta o número de mortes. Estão de fora os que sobreviveram e os que ficaram com sequelas graves ou permanentes.

Porém, temos uma falha nesse sistema, pois minha filha não entrou para essa estatística de afogamento, já que sobreviveu por 14 horas. Quando veio a falecer, em seu atestado de óbito não constou afogamento, e sim hipóxia e falência dos órgãos. Ou seja, há crianças que sobrevivem por dias e, quando não resistem, a causa do óbito registrada não é o afogamento. Sendo assim, os números são bem maiores do que se noticia.

A Flórida tem centenas de piscinas por milha, lagos, rios, pântanos e é cercada pelo mar em quase todos os lados. Os números são alarmantes. Eu, como pai que perdeu uma linda filha nessa estatística, não aceitei e não tive paz enquanto não fizesse algo. Entrei de cabeça nesse submundo do afogamento infantil apenas para descobrir o quão imensos são esses números.

Criei o projeto Susan Forever e tenho viajado pela Flórida, Brasil, Israel, Grécia e Espanha, falando sobre esse tema, que é, de longe, a primeira causa de óbito entre crianças de 1 a 4 anos – e a única que é praticamente 100% evitável.

Se você abrir a mente agora, sua casa e sua família estarão blindadas contra esse mal que ceifa tantas vidas inocentes precocemente.

São medidas simples, mas que não podem ser desprezadas enquanto as crianças estão na água. Criei e adaptei cinco tópicos para que sua família não passe por isso. Aqui estão os mais importantes. Lembrando que o afogamento infantil é muito rápido (10 a 20 segundos), silencioso – as crianças não se debatem – e, na maioria das vezes, fatal.

  • Supervisão ininterrupta ao alcance do braço.
  • Cerque sua piscina com grades, cercas e obstáculos, com portão de fechamento automático, câmeras e sensores.
  • Não delegue a responsabilidade de olhar seu filho a alguém incapaz, alcoolizado ou outra criança. Tenha certeza de que delegou! Muitos acham que o pai está olhando, e o pai acha que a mãe está olhando, mas ninguém está olhando.
  • Esqueça o celular quando a criança estiver na água. O afogamento infantil explodiu por causa da distração dos pais com mensagens e redes sociais.
  • Coloque seu filho na natação imediatamente. Existem escolas na Flórida que aceitam até recém-nascidos. Uma criança que sabe nadar tem 80% mais chances de sobrevivência.

Estou à disposição se quiser que eu dê palestras na sua cidade ou na sua igreja. Se salvarmos uma vida, já terá valido a pena. Meu testemunho não é triste, pois dei a volta por cima, transformando meu luto em luta. Mostro qual o caminho para mudar a história de quem acha que não há saída. Saiba que perder um filho é o auge da dor, mas, com a força de Deus, podemos transformar o mal em bem.

Hoje, minha filha Susan dá seu nome para duas leis que estão vigorando no Brasil. Uma delas está em fase final de aprovação.

Instagram: @susanforever.br

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