Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso site, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao acessar nosso portal, você concorda com o uso dessa tecnologia. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.

08 de maio de 2024

A lógica transcendental do amor


Por Elton Tada Publicado 25/08/2022 às 22h53 Atualizado 19/10/2022 às 10h59
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Já peço desculpas, desde a partida, por usar um palavrão no título deste texto. Acredito mesmo que as palavras que nem sempre são entendidas, nem sempre devem ser usadas. Mas, nesse caso, careço de outro adjetivo para explicar o que quero dizer, pois o amor é por tantos indizível e tão mal compreendido que a maioria das pessoas só o usa como sintoma de outra coisa qualquer.

fonte: pixabay

            Nós, humanos, animais só que diferentes, somos seres sintomáticos e mostramos, de várias formas, quando algo não está certo, quando há uma doença, quando há um elemento profundo que não se vê de imediato, mas que reside em nosso interior. Nosso corpo, nossa mente, nosso eu interno, lança pra fora alguns sinais para que nós mesmos – e talvez os outros – possam ver o que há por dentro. A infecção, traz febre, a tristeza, lágrimas. E nós somos acostumados, em geral, a seguir a lógica reta de que o fogo faz fumaça, e pronto. Mas, nem sempre conseguimos ver que o fogo também causado, e causada foi a causa do fogo, infinitamente.

            Somos capazes de amar. Bom, pelo menos a maioria das pessoas é capaz de amar. Mas, nem todos amam. E, cada um ama de acordo com sua própria medida, pois seu amor é a consequência de causas outras que estão dentro de si. E dentro de nós existe um universo de causas, bem ou mal entendidas, mas que estão ali. Na verdade, olhar pra dentro desse universo é difícil e nos enche de medo. Por isso que o mundo ocidental, depois de tremer as pernas com as exigências racionais do iluminismo, decidiu recorrer a um conceito antigo, de diversos séculos antes de Cristo, o conceito do amor transcendental.

            Os gregos acreditavam que originalmente o ser humano foi criado em pares, de modo que cada par constituía um ser. Por castigos dos deuses, teríamos sido todos separados e deveríamos viver a vida buscando por nosso par, nossa alma gêmea. O nosso problema é que existem hoje mais de 7 bilhões de pessoinhas no mundo, gerando uma possibilidade de combinações que beira o infinito. Por isso, existem pessoas que buscam, buscam e não encontram sua metadinha em lugar algum.

            Essa lógica transcendental do amor é bastante perversa e provavelmente já te fez sofrer. Isso acontece porque ao longo da vida nós vamos encontrando pessoas e buscando nelas um sentimento superior, divino, de completude. E é claro que nos frustramos, pois ninguém é, de fato, super homem. As pessoas são boas até não serem mais e ninguém é imune às marcas da vida.

            Acreditar no amor como algo superior, de fora, é uma bela forma de se esconder da responsabilidade de amar, que é algo complexo, mas real. A responsabilidade de amar trata de olhar para alguém que você conhece e fazendo todas as contas de ônus e bônus, decidir se arriscar, escolher ficar apesar de todos os pesares. Por isso que quando ainda estamos conhecendo alguém, nos apaixonamos, pois precisamos de um olhar gentil, às vezes até embaçado, para não nos assustarmos com os sintomas e as causas dos sintomas daquela pessoa. Com o tempo, a paixão passa, e sobra aquela que talvez seja a tarefa mais bonita da vida humana, o empenho de criar um par que nem mesmo os deuses criaram. Esse é o amor.    

Pauta do Leitor

Aconteceu algo e quer compartilhar?
Envie para nós!

WhatsApp da Redação