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06 de maio de 2024

CINE QUARENTENA #1 – AMAZON PRIME


Por Elton Telles Publicado 17/03/2020 às 20h45 Atualizado 23/02/2023 às 05h08
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Aproveitando o período de quarentena obrigatória para evitar a infecção do novo coronavírus, somado à ausência de lançamentos semanais nos cinemas, a coluna vai trazer, enquanto durar o isolamento social, sugestões aleatórias de filmes disponíveis em diferentes plataformas de streaming.

Para inaugurar a seção, vamos com a Amazon Prime, que oferece um catálogo vasto e interessante de produções clássicas e contemporâneas – e a mensalidade é consideravelmente mais barata que a da Netflix, fica a dica. Uma observação para os navegantes é que o painel da Amazon Prime para localizar os títulos é bem limitado, mas nada que a ferramenta de busca no canto superior direito não faça milagres.

Independentemente do gênero ou do ano de lançamento, o único critério utilizado para a recomendação dos filmes abaixo é: vale a pena assistir.

 

“Esse país é uma boate de striptease,
alguns jogam dinheiro, outros têm que dançar”

Na cena introdutória de “As Golpistas” (2019), acompanhamos um plano-sequência que segue os passos da dançarina Destiny pelo espaço que será usado por ela e suas comparsas para a aplicação de golpes: uma boate luxuosa de striptease. A história do filme se passa na Nova York de 2007, véspera da crise econômica causada pelo setor imobiliário, quando 4 strippers decidem se unir para atrair clientes ricos, dopá-los com um derivado de “boa noite, Cinderela” e clonar seus cartões de crédito. Naturalmente, esta é uma premissa carregada de perigos e que envolve crimes, humilhações e variações de abuso. Por isso mesmo, é fascinante o empenho da diretora e roteirista Lorene Scafaria, ciente de toda a periculosidade dos episódios, transformá-los em momentos divertidos que confluem para um projeto de qualidade e com surpreendente veia autoral.

Baseado em um artigo publicado na New York Magazine, o roteiro é muito bem estruturado na narração dos eventos, de forma a torná-los hilários e embalados num ritmo contagiante, como também na aproximação emocional com as personagens centrais, interpretadas com desenvoltura por Constance Wu e uma magnética Jennifer Lopez. A química exibida pelas atrizes faz toda a diferença, e eleva o que poderia ser um mero entretenimento eficiente para um filme honesto e envolvente sobre cumplicidade – no crime, o que ainda é uma forma de amizade, vide “Os Bons Companheiros” (1990), de Scorsese. Sabendo equilibrar o tom dramático, gags bem resolvidas e uma pertinente análise social nas entrelinhas, “As Golpistas” é ótimo e passa longe da aparência superficial que pode causar desconfiança em alguns espectadores.

Sucessor do grupo terrorista Al-Qaeda, o Estado Islâmico obteve ascensão no início desta década. Aproveitando os conflitos ocorridos na Primavera Árabe, o grupo recebeu reforços e expandiu seu território de atuação para a Síria, fronteira com o Iraque, onde realizou diversos massacres a civis contrários à sua ideologia. Uma das cidades ocupadas pelo EI foi Raqqa, denominada posteriormente como a “capital do Estado Islâmico”. Para lutar contra o domínio dos terroristas em sua terra natal, foi formada a aliança “Raqqua is Being Slaughtered Silently” (“Raqqua Está Sendo Retalhada Silenciosamente”, em tradução literal), composta por ativistas e jornalistas anônimos. No documentário “City of Ghosts” (2017), o diretor Matthew Heineman percorre a jornada destes cidadãos, que colocam suas vidas em risco para expor ao mundo os efeitos catastróficos da ação mercenária do EI na Síria.

Tradicional em seu formato, o filme faz um recorte do ódio e medo instalado naquele lugar e, aos poucos, introduz os homens e mulheres munidos de coragem que utilizam a palavra como principal arma de combate. “City of Ghosts” é um projeto que celebra o poder do jornalismo de caráter denunciativo e, de forma pungente, evidencia as circunstâncias aterradoras que as vítimas – e familiares destas – enfrentam diariamente, submetidas a atentados públicos e sessões de tortura protagonizados pelo Estado Islâmico. Entretanto, apesar do inevitável mal-estar causado pelo documentário, seu motor dianteiro é a esperança de quem ficou e de quem, sob ameaças, precisou exilar-se em outro país. “City of Ghosts” é um retrato devastador e necessário por ilustrar meios possíveis de travar guerra ao terror e ao autoritarismo.

Com “Hereditário” (2018), o diretor norte-americano Ari Aster foi bem acolhido na legião de cineastas contemporâneos que dedicam sua filmografia para repaginar o gênero de horror – Jennifer Kent, Robert Eggers e Jordan Peele são outros nomes deste seleto grupo. Um ano após a sua estreia, Aster reafirma seu requinte técnico e estético com o perturbador “Midsommar” (2019). O filme que talvez mais se aproxime deste seja o clássico maldito “O Homem de Palha” (1973), de Robin Hardy, que também reserva uma caixinha cheia de surpresas e bizarrices. Ambas as produções dividem uma abordagem misteriosa que deixa o espectador aflito e, a cada cena, sem saber em que terreno está pisando. É praticamente uma regra: a imprevisibilidade é o prenúncio da insanidade.

O roteiro de “Midsommar” se ajoelha a certas comodidades em seu desenvolvimento, principalmente no que concerne aos personagens coadjuvantes; em contrapartida, a trajetória dos protagonistas é mais atrativa em razão do aspecto desconhecido da trama, que atinge o ápice da loucura em seu ato final. Contribuem para a experiência a direção sofisticada de Aster, a atuação espetacular de Florence Pugh, que carrega no rosto todas as alterações de humor da história, e a fotografia enclausurante de Pawel Pogorzelski – o que é curioso, visto que as cenas são quase integralmente à luz do dia e em locais abertos. Eficiente como exemplar de terror, “Midsommar” é também um deleite para os olhos.

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