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25 de abril de 2024

CINE QUARENTENA #7 – TELECINE PLAY


Por Elton Telles Publicado 27/04/2020 às 23h20 Atualizado 23/02/2023 às 05h03
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Para os quarentemados, aqui vão mais três sugestões de filmes para assistir em casa. Desta vez, a plataforma de streaming escolhida foi o Telecine Play, que oferece uma seleção diversificada de títulos e atende a todos os gostos.

Para atestar esta qualidade, a coluna recomenda um clássico do cinema italiano, um “meio termo” – vamos chamar assim – entre o autoral e o crowd-pleaser, e uma excelente comédia tipicamente comercial.

 

Tenho total segurança em afirmar que Giulietta Masina entrega uma das melhores atuações da história em “Noites de Cabíria” (1957). Só este já seria motivo suficiente para que o clássico de Federico Fellini fosse visto e revisto. Felizmente, como pano de fundo para o desempenho antológico da atriz, há uma história de desilusão proporcionalmente cativante e devastadora, narrada com preciosismo. Cabíria é uma prostituta que sonha em encontrar um amor. Solitária, vagueia pelas ruas de Roma à procura de algum sentido na vida, e quando percebe, faz parte de situações incomuns, como ser acompanhante de uma celebridade ou ter seus sentimentos expostos para uma plateia durante um show humilhante de hipnose. É impossível não se solidarizar com Cabíria. Como convidado de suas andanças à noite, é natural o público querer adentrar a tela para abrir os olhos da personagem, cegos pela ingenuidade e falsa esperança.

Apesar disso, temos muito o que aprender com a bondade da pequena Cabíria, principalmente no tocante à superação dos problemas. Agraciada com um roteiro multifacetado e astuto na elaboração das frustrações casuais da protagonista, Masina compõe uma figura tridimensional e fascinante, que não se escora em uma posição vitimista, mantendo-se em pé, orgulhosa e sem perder a doçura; é uma mulher de bom coração, mas constantemente de coração partido. Assim como “A Estrada da Vida” (1954), filme anterior de Fellini, “Noites de Cabíria” é embebido de tristeza, mas adornado com certo otimismo. Boa demonstração disto é o close final na face da personagem, que abre um sorriso redentor enquanto brotam lágrimas em seus olhos. Há chances de esta também ser a expressão do espectador durante os créditos de encerramento.

“O Reverso da Fortuna” (1990) acompanha os desdobramentos jurídicos do famoso caso dos anos 1980 envolvendo Claus von Bülow, condenado e posteriormente inocentado da tentativa de homicídio de sua esposa, a milionária socialite Sunny von Bülow, que nunca acordou do coma induzido por injeção de insulina e permaneceu em estado vegetativo por 28 anos até a sua morte, em 2008. Baseado no livro homônimo escrito pelo promotor de defesa de von Bülow, Alan Dershowitz, o filme é ancorado em atuações superlativas de Glenn Close e Jeremy Irons, este vencedor do Oscar de Melhor Ator pelo papel. Longe de ser um problema, fica muito evidente que os flashbacks em que o casal contracena, ocasionalmente se desentendendo por algum motivo, são arranjados de maneira precisa para os dois mostrarem seus dotes de interpretação.

Extremamente soberbo, Claus não desce do pedestal embora todos ao seu redor tentem arrancá-lo à força, mantendo-se sempre na defensiva para evitar demonstrações de vulnerabilidade. A performance de Irons salienta essa condição de forma discreta e carismática. A Sunny de Glenn Close, por sua vez, se apoia na expressividade e na composição corporal da atriz para mostrar os danos psicológicos e físicos consequentes da ingestão irresponsável de remédios. Ambos estão dignos de nota, e não menos que isso é a direção de Barbet Schroeder, que rege uma trama essencialmente burocrática sem cair na vala do desinteresse. “O Reverso da Fortuna” vale pela documentação de um episódio histórico e por colocar em duelo dois atores no auge da beleza e do talento.

Não traçar paralelos entre “Superbad” (2007) e “Fora de Série” (2019) é inevitável. Praticamente, ao citar um destes filmes, é obrigatório falar do outro. Essa atração sucede pelas semelhanças compartilhadas nas duas histórias, mas uma discussão que soa mais pertinente ao colocar ambos os filmes em perspectiva é abordar gênero e protagonismo em comédias, digamos, “politicamente incorretas”, que mostram a rodo palavrões, cenas de sexo/pegação e drogas/bebidas alcoólicas sendo consumidas por menores de idade. Ou seja, tudo o que os adolescentes fazem na vida real e a maioria pueril dos exemplares teenager são incapazes de mostrar. Os retratos fidedignos e sem cerimônias de “Superbad” e “Fora de Série” são muito bem-vindos. Enquanto o primeiro enfoca uma dupla de garotos, “Fora de Série” acompanha a despedida de duas amigas do Ensino Médio.

A direção vibrante e inebriada de senso de humor da estreante Olivia Wilde é crucial para o sucesso do longa. Os esforços de Wilde e o roteiro esperto escrito a oito mãos captam perfeitamente o espírito da geração atual, preocupada com o futuro de ter uma carreira profissional. Isso, é claro, não exclui a oportunidade de se divertir quando possível. Sem transformá-los em tabus, alguns temas são muito bem abordados pelo filme, como a homossexualidade de uma das personagens centrais, interpretada pela promissora Kaitlyn Dever. A outra secundarista é a ótima Beanie Feldstein, irmã de Jonah Hill, um dos protagonistas do mencionado “Superbad”. Entre outras razões, a dinâmica sensacional entre as atrizes e o olhar carinhoso para a amizade entre elas faz de “Fora de Série” uma comédia imperdível.

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