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25 de abril de 2024

CINE QUARENTENA #8 – GLOBOPLAY


Por Elton Telles Publicado 04/05/2020 às 13h45 Atualizado 23/02/2023 às 03h37
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Além de produções exclusivas, como séries, documentários e telenovelas, a plataforma da Rede Globo, Globoplay, disponibiliza uma variedade de filmes nacionais e estrangeiros. A maioria é bem comercial, o que é super bem-vindo neste momento de pandemia, porque se faz necessário desligar a cabeça e assistir algo mais leve, descompromissado.

Mas para quem procura novidades, em seções específicas do streaming, é possível garimpar alguns títulos interessantes, pouco conhecidos e que são relativamente mais complicados de encontrar em outras fontes. Esta postagem reúne 3 exemplos e os recomenda fortemente.

 

Viviane Amsalem é mãe e esposa. Infeliz no casamento, ela entra com uma ação de divórcio contra o marido, Elisha, que nega aceitar a separação. Nas audiências, movidos pelas escrituras judaicas, os três juízes do caso concluem que não há motivos concretos para a protagonista se separar do réu. E assim, entre idas e vindas, um mero pedido de divórcio se prolonga por anos. No drama israelense “O Julgamento de Viviane Amsalem” (2014), o espectador acompanha a exaustiva busca da personagem-título pela sua liberdade e testemunha as arbitrariedades do sistema judiciário, que se escora no conservadorismo intrínseco ao machismo e à intolerância para bater o martelo. Escrito pelos também diretores do longa, os irmãos Ronit e Shlomi Elkabetz, o roteiro acuradíssimo é um festival de absurdos impostos ao sexo feminino, tendo a religião e o padrão de conduta castrador como curadores. Aos olhos da lei dos homens, divorciar-se é um crime.

Ambientado integralmente em uma “salinha” de paredes nuas onde ocorre o julgamento anos a fio, o filme não apresenta nenhum subterfúgio que distraia ou desvie os olhos do público da história central. A trama se desenvolve com impressionante precisão e intensidade emocional, o que sublinha todas as limitações do processo, sobretudo as que envolvem questões de gênero. Além do trabalho astuto como codiretora, Ronit Elkabetz lidera o elenco em sintonia com uma atuação impecável como Viviane Amsalem, cujos olhares transparecem o silêncio a devorando por dentro até o momento em que não aguenta mais ficar calada.

Angustiante, “O Julgamento de Viviane Amsalem” acerta em não transformar o marido teimoso como uma mula em uma figura vilanesca; o vilão evidente deste circo todo é o caráter seletivo e segmentado pelo qual a lei civil é colocada em exercício.

“Rastro de Maldade” (2015) é, acima de tudo, um romance. A esposa de um homem severamente ferido é sequestrada por canibais, e o marido debilitado, com o auxílio do xerife local (Kurt Russell, excelente) e dois ajudantes, cavalgam rumo ao matadouro para resgatar a mulher. É ou não a mais pura prova de amor? No entanto, em território desconhecido e que não lhe pertence, o quarteto é surpreendido por emboscadas e se encontra numa roleta russa com os nativos selvagens, detentores de uma força implacável. Cabeças degoladas, mutilações, facões atravessando o peito, vítimas escalpeladas, uma pessoa aberta pela metade (!) e muito sangue a granel dão o tom a esse western sem misericórdia, conduzido com admirável destreza estética e narrativa pelo então estreante S. Craig Zahler.

Ao unir de forma tão orgânica o tradicionalismo do faroeste e o cinema de horror em seu mais puro estado, “Rastro de Maldade” conquista o espectador pelo realismo e pelas cenas gráficas de deixar qualquer um se contorcendo na poltrona – contribuição do minucioso e espetacular trabalho de maquiagem. Um filmaço para quem tem estômago.

Durante a exibição de “Victoria” (2015), é muito provável o espectador ficar apreensivo e pensando constantemente “vai acontecer uma merda a qualquer momento”. Pois quando acontece, ela não é jogada no ventilador, e sim, em um moinho de vento ligado no modo turbo. O diretor alemão Sebastian Schipper promove uma experiência intensa ao acompanhar em plano-sequência de 134 minutos (!) um grupo de amigos perdidos em uma noite suja de Berlim. Saindo da balada, eles conhecem a personagem-título, uma jovem espanhola que trabalha em um café. Juntos, perambulam pelas ruas da cidade, roubam algumas cervejas e entram em lugares onde não são convidados.

“Victoria” é um registro marcante pela habilidade dos profissionais envolvidos em sua realização, uma vez que a tomada sem cortes é bastante longa e potencializa o efeito vibrante da narrativa, inclusive dramaticamente. Mesmo nas cenas mais calmas, é interessante como o recurso expõe os personagens de forma transparente, deixando-os sempre “nus” diante dos nossos olhos, já que nada será posteriormente cortado na sala de edição.

Em meio à longa jornada madrugada adentro, a (única) câmera procura enfocar Victoria em diversas ocasiões, às vezes demonstrando preocupação, ou apenas para saber como está se sentindo em relação ao rumo desconhecido que ela e seus novos amigos estão tomando. Por essas e outras, “Victoria” está muito além de uma produção vazia que só vale do seu aspecto técnico; a fantástica logística e a fotografia seminal de Sturla Brandth Grøvlen são o grande chamariz, mas o belo conto de cumplicidade não merece ser ignorado por conta dos métodos aplicados.

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