11 de junho de 2025

‘Comunidades só existem se houver uso misto’, afirma urbanista


Por Redação GMC Online Publicado 27/02/2024 às 09h35
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As construções de uso misto crescem no Brasil. Mas, apesar de estar em alta no momento, o conceito é praticado no país desde a década de 1950, quando foi iniciada a construção do icônico Conjunto Nacional, projetado pelo arquiteto David Libeskind. Caracterizado por diferentes usos em uma mesma estrutura (residencial, comercial, serviços e lazer), o edifício é um dos primeiros empreendimentos modernos e multifuncionais implantados na
capital paulista, que permanece como atual. E a tendência tem moldado cidades brasileiras que buscam crescer de forma sustentável e responsável, como Maringá (PR), que nos últimos anos criou três novos zoneamentos mistos urbanos (zonas mistas Um, Dois e Três), a partir de decretos e leis municipais. As construções de uso misto no município, inclusive, devem ser iniciadas neste ano.

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Foto: Divulgação

Em entrevista ao Portal GMC Online, a arquiteta urbanista Luciana Fonseca, doutora em Planejamento Urbano e Regional, chapter leader de urbanismo do Grupo OSPA e sócia-fundadora e diretora do Instituto Cidades Responsivas e da Escola Livre de Arquitetura (Ela), defendeu o desenvolvimento de empreendimentos de uso misto como essenciais para o crescimento das cidades.

O uso misto é crescente e coloca as pessoas como protagonistas dos espaços. O que você acha desta nova tendência?

O uso misto é mais que uma tendência, é um modelo de vida, extremamente funcional e inclusivo. Permite ações propositivas dos habitantes, possibilitando que as cidades exercitem suas dinâmicas urbanas espontaneamente. Dessa maneira o uso misto também é uma maneira de manter a economia urbana sadia.

Você considera importante a adaptação das cidades para uso misto para atender o aumento populacional?

Sim, considero importante e considero que já acontece. A cidade zoneada geograficamente, dividindo usos e atividades em setores espaciais distintos foi uma proposição do urbanismo modernista em resposta ao caos vivido pelas cidades após a revolução industrial.

Independente do tamanho da cidade, o uso misto é a maneira de produzir vitalidade e diversidade urbana. Já nos anos 1960 Jane Jacobs, ao escrever “Vida e Morte de Grandes Cidades” defendeu a mistura de usos como um dos fatores cruciais para o desenvolvimento de cidades saudáveis e, inclusive, mais seguras.

Por que o uso misto, de forma planejada e consciente, pode ser resposta para problemas atuais de crescimento das cidades?

Ao evitar grandes deslocamentos entre “setores” das cidades, por exemplo, o uso misto é capaz de reduzir a necessidade de sistema viário muito robusto e estimular a caminhabilidade. O uso misto pode ser planejado por meio de uma narrativa programática conforme a vocação do espaço, mas também pode ser responsivo, partindo da proposição das pessoas.

Como arquiteta e especialista da área, você considera o uso misto como uma estratégia crucial para revitalizar bairros e terrenos subutilizados?

Sim. Não existe outra forma. Inclusive o incentivo ao uso misto é uma estratégia utilizada para revitalizar áreas que em outros tempos foram determinadas pelo sistema de planejamento como áreas unicamente industriais. Também é premissa na ampliação de tecidos urbanos e em edificações, por meio de fachadas ativas, por exemplo.

Você reconhece que o uso misto também estimula a economia local e fortalece o senso de comunidade?

Mais do que reconheço, como posso assegurar. Comunidades só existem se houver uso
misto.

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