Ibovespa encerra na mínima do dia, em queda de 2,4%, aos 158,5 mil pontos
Após ter tocado os 163 mil pontos na máxima da sessão anterior, então em alta pelo quarto dia seguido, o Ibovespa voltou ao campo negativo nesta terça-feira, 16, de cautela também no exterior. E não conseguiu sustentar no fechamento a linha de 160 mil pontos pela qual lutou em boa parte do dia, tampouco o degrau seguinte, de 159 mil, perdido ao fim, na mínima a 158.557,57 pontos que coincidiu com o encerramento, em queda de 2,42%. Reforçado, o giro foi a R$ 31,6 bilhões nesta véspera de vencimento de opções sobre o índice. Na semana, o Ibovespa cai 1,37%, também oscilando para baixo (-0,32%) no mês. No ano, sobe 31,82%.
Em Nova York, os principais índices de ações mostraram variações contidas, mas também aprofundaram a tendência de baixa ao longo da tarde, em grau, contudo, mais discreto do que o do Ibovespa, entre -0,62% (Dow Jones) e +0,23% (Nasdaq) no fechamento. As bolsas de Nova York e da Europa foram pressionadas, em especial, pelo setor de energia, com a queda de quase 3% do petróleo. Na commodity, investidores ponderaram sinais de avanço nas negociações de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia e leituras divergentes sobre atividade, emprego e varejo nos EUA.
Na B3, o dia foi de fortes perdas no setor financeiro, com as ações dos maiores bancos em baixa até 5,22% (BTG Unit, na mínima do dia) no fechamento, e também em Petrobras, em torno de 3% na ON (-2,74%) e PN (-3,03%). Na ponta negativa do Ibovespa, Rumo (-6,94%), Cosan (-6,78%) e Smart Fit (-6,56%). Do lado ganhador, Brava (+2,47%), Gerdau (+1,53%) e Metalúrgica Gerdau (+1,37%) – apenas nove de 82 papéis da carteira Ibovespa fecharam em alta. O índice operou em baixa desde a manhã, com máxima do dia correspondente à abertura, aos 162.481,74 pontos.
Além de BTG, outras ações do setor financeiro, o segmento de maior peso no Ibovespa, fecharam o dia nas respectivas mínimas da sessão, como Santander (Unit -3,58%), Itaú (PN -2,58%) e Bradesco (ON -2,78%). Exceção entre as blue chips, Vale ON conservou ganho de 0,38% no fechamento, embora bem aquém do ganho superior a 1% visto mais cedo no principal papel do Ibovespa.
Da agenda desta terça, Marcelo Boragini, especialista em renda variável da Davos Investimentos, destaca dois pontos, ambos acompanhados muito de perto nos mercados: nos Estados Unidos, o relatório de emprego, o payroll, e, no Brasil, a ata da reunião do Copom realizada na semana passada. Do payroll, ele ressalta a criação de 64 mil vagas em novembro, número acima das expectativas, mas, ao mesmo tempo, com a taxa de desemprego em alta, a 4,6% – um movimento que, segundo ele, chamou a atenção dos agentes do mercado.
“De forma geral, os dados reforçam a leitura de que o mercado de trabalho dos Estados Unidos passa por uma desaceleração gradual, sem sinais de deterioração mais acentuada”, diz Boragini, para quem a leitura mantém o Federal Reserve em abordagem “cautelosa, avaliando com mais cuidado o momento apropriado para eventuais ajustes adicionais na política monetária”.
“Nos Estados Unidos, o ambiente também é de correção. Falta, neste momento, um conjunto de dados que realmente anime os investidores. O payroll divulgado nesta terça veio praticamente em linha com o esperado, levemente acima das projeções, porém bem abaixo do dado anterior”, diz Leonardo Santana, especialista em investimentos e sócio da casa de análise Top Gain.
Boragini, da Davos, acrescenta que, no Brasil, a ata do Copom trouxe um tom mais conservador, em linha com a comunicação recente do Banco Central. “O documento reconhece a acomodação da inflação, mas destaca a persistência de riscos relevantes no horizonte, o que reduz a probabilidade de um corte de juros já na reunião de janeiro – expectativa que, embora ainda exista, perdeu força após a divulgação da ata”, diz.
“A ata veio ainda hawkish, em sentido contracionista para a política monetária”, diz Julio Barros, economista do Daycoval.”Janeiro ainda é cedo para Selic mais baixa, e quadro deve estar mais claro em março, quando deve vir o corte da taxa de juros”, acrescenta. “Parte do mercado esperava ata um pouco mais dovish, com algumas sinalização sobre o início do corte de juros, mas veio sem brechas, o que pesou um pouco sobre o Ibovespa desde a abertura”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
Além da agenda econômica doméstica e do exterior, o mercado local tomou nota, também, de pesquisa eleitoral da Genial/Quaest, a primeira sem o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro entre as alternativas, e com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como pré-candidato. “A pesquisa trouxe números muito fortes para o presidente Lula, em vitória folgada sobre possíveis candidatos, como os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo) e Ratinho Jr (Paraná). Embora falte muito tempo para a eleição, nenhum candidato de oposição parece forte o suficiente para bater de frente com Lula”, diz Rodrigo Alvarenga, sócio da One Investimentos.
A possibilidade de vitória do governo na eleição presidencial de 2026 enfraquece a perspectiva de um ajuste fiscal crível a partir de 2027, como sonha o mercado ao apostar na eventual candidatura de Tarcísio, tido como o nome mais amigável a visões próximas às defendidas pelos investidores.
