O dia foi de recuperação relativamente bem distribuída pelas ações de primeira linha na B3, que colocou o Ibovespa de volta ao campo positivo no fechamento desta quinta-feira, 18, lutando muito, porém, sem obter o degrau acima do nível em que havia encerrado quarta e também a sessão de 5 de dezembro, que ficou conhecida como ‘Flávio Day’. A então surpreendente pré-candidatura presidencial do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) pegou o mercado no contrapé, há quase duas semanas, intervalo em que a percepção de risco político, ausente havia algum tempo, voltou a dar o tom.
Nesta quinta-feira, 18, contribuiu para a relativa melhora da percepção do investidor o relato do senador Ciro Nogueira (PI), presidente da federação partidária União Brasil-Progressistas e um dos principais líderes do Centrão, de que se não houver viabilidade eleitoral de Flávio até março, a tendência é de que a carta Tarcísio de Freitas permaneça sobre a mesa na disputa pelo Planalto.
Em entrevista ao Valor, Nogueira avaliou que o ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente preso e fiador da campanha do filho, “não vai arriscar” caso a candidatura de Flávio não decole até março. Dessa forma, segundo o senador, a possibilidade de o governador de São Paulo disputar a Presidência não seria, no momento, “um projeto enterrado”. “Vai depender da viabilidade eleitoral de Flávio”, acrescentou. Quarta, a posição de Nogueira que havia sido reportada por um site de notícias era oposta à da expressa nesta quinta pelo próprio senador do PP – no sentido, então, de que Tarcísio buscaria a reeleição em São Paulo no próximo ano.
Assim, com foco no noticiário de Brasília, o Ibovespa ganhou um pouco de tração ainda no início da tarde, mas fechou o dia em alta moderada a 0,38%, aos 157.923,34 pontos, um pouco mais perto da máxima (158.495,49) do que da mínima (157.123,58) da sessão, em que saiu de abertura aos 157.326,54 pontos. O giro financeiro da B3 ficou em R$ 26,3 bilhões nesta quinta. Na semana, o índice da B3 ainda acumula perda de 1,77% e, no mês, recua 0,72%, após ter fechado as duas sessões anteriores em baixa. No ano, o índice da B3 sobe 31,29%.
Na agenda econômica, destaque para os comentários do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em entrevista coletiva após a divulgação do Relatório de Política Monetária (RPM). Ele disse que ainda não há uma definição sobre o próximo ajuste da taxa Selic em janeiro, destaca Luise Coutinho, head de produtos e alocação da HCI Advisors. “Essa fala trouxe um alívio para o mercado e fez com que as taxas dos contratos de juros futuros passassem a operar em terreno negativo”, acrescenta Luise, referindo-se à curva do DI em um ponto de inflexão durante a coletiva de Galípolo, o que contribuiu para dar apoio ao apetite por ativos de risco, como ações, na virada da manhã para a tarde.
O presidente do BC observou, também, que o mercado costuma buscar “dicas em um texto que não tem dica”, em referência à comunicação do Comitê de Política Monetária (Copom). “Tem um ‘memezinho’ já sobre isso rodando, e é meio um problema da quadratura do círculo, porque eu estou tentando achar uma dica em um texto que não dá dica”, ressaltou Galípolo. “Eu não consigo achar uma dica sobre o que vai ser feito, e é por isso que a gente está dizendo que está dependendo dos dados, porque não decidimos o que vamos fazer”, acrescentou o presidente do BC.
Na B3, entre as ações de primeira linha, apenas Petrobras destoou ao fim, em leve baixa de 0,25% na ON e de 0,58% na PN. Principal ação do Ibovespa, Vale ON subiu 0,26% e, entre os bancos, os ganhos no fechamento desta quinta-feira ficaram entre 0,19% (BB ON) e 1,95% (BTG Unit). Na ponta do Ibovespa, destaque para Brava (+6,16%), Suzano (+5,74%), Klabin (+2,32%) e PetroReconcavo (+2,08%). No lado oposto, Direcional (-3,48%), Natura (-2,59%), Assaí (-2,57%) e Hapvida (-1,93%).
Para Nicolas Gass, estrategista de investimentos e sócio da GT Capital, os mercados locais têm apresentado, recentemente, forte volatilidade muito mais “em função do cenário eleitoral do que de qualquer outro fator”.
“Tivemos falas do governador Tarcísio de Freitas sinalizando apoio a Flávio Bolsonaro, o que imediatamente chamou a atenção dos investidores. E, agora, também a pesquisa da AtlasIntel mostrando que Lula venceria ainda em todos os cenários simulados, inclusive em eventual confronto com o próprio Tarcísio”, diz Gass, observando que Flávio Bolsonaro começa a emergir, atualmente, como o principal nome da oposição – o que não impede a liderança “com folga” de Lula na pesquisas de intenção de voto.