Inflação chega a 1,31% e tem maior variação para fevereiro desde 2003
A variação de preços das contas de luz e os reajustes sazonais de mensalidades escolares pressionaram a inflação em fevereiro, que bateu em 1,31%, ante 0,16% em janeiro. Foi o pior resultado para o mês desde 2003 (1,57%). Os alimentos também voltaram a subir, com destaque para o ovo e o café, que registraram altas de dois dígitos.
Pelos dados divulgados pelo IBGE nesta quarta, 12, a taxa acumulada em 12 meses passou de 4,56%, em janeiro, para 5,06% em fevereiro, a mais alta desde setembro de 2023. O resultado ficou ainda mais longe do centro da meta da inflação (de 3%) e se afasta também do seu teto (4,5%). “(O resultado) Reforça a sinalização de manutenção do ritmo de alta de 1 ponto porcentual (da taxa Selic) na reunião (do Comitê de Política Monetária do Banco Central) de março”, disse o economista-chefe da corretora de investimentos Monte Bravo, Luciano Costa.
Os gastos das famílias brasileiras com Habitação tiveram elevação de 4,44% em fevereiro, uma contribuição de 0,65 ponto porcentual para a taxa do IPCA. Parte do grupo, a energia elétrica subiu 16,80%. A alta veio após a incorporação em janeiro de desconto resultante do saldo positivo da conta de comercialização da Itaipu Binacional (o chamado “bônus Itaipu”).
Já o grupo Educação teve um avanço de 4,70% em fevereiro, com impacto de 0,28 ponto para o índice geral. Neste caso, a maior contribuição veio do aumento de 5,69% nas mensalidades dos cursos regulares, por conta dos reajustes habitualmente praticados no início do ano letivo. As variações mais agudas ocorreram no ensino fundamental (7,51%), ensino médio (7,27%) e pré-escola (7,02%).
Alimentos
Apontada como o principal motivo para a queda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a alta da inflação levou o governo a anunciar na semana passada a redução do Imposto de Importação para alimentos como açúcar, café e carne – medida vista como inócua no curto prazo por especialistas. Ele também aposta na nova safra agrícola deste ano para tentar conter os preços dos alimentos.
Mas não foi o que se viu em fevereiro. Os alimentos voltaram a subir no mês passado, pelo sexto mês consecutivo, embora a alta tenha sido mais branda e menos espraiada, ficando concentrada em uma menor quantidade de itens, segundo Fernando Gonçalves, gerente do IPCA no IBGE. O grupo Alimentação e Bebidas saiu de uma elevação de preços de 0,96%, em janeiro, para uma variação de 0,70%. Em fevereiro, porém, o encarecimento dos alimentos foi “basicamente do café e do ovo”, disse Gonçalves.
“O café vem sustentando alta (de preços) desde janeiro de 2024. No ano de 2024, a alta do café foi de 39,60%. Nos dois primeiros meses de 2025, o café já subiu 20,25%”, citou o pesquisador. Só em fevereiro, o café moído subiu 10,77%.
Já o ovo de galinha aumentou 15,39%, maior variação mensal desde o início do Plano Real. Segundo Gonçalves, os Estados Unidos tiveram perdas do produto por causa de gripe aviária, levando a um aumento nas exportações brasileiras de ovos para o País. Além disso, houve maior demanda pelo item em função do início do ano, ao mesmo tempo que a ocorrência de um clima mais quente também prejudicou a produção de ovos.
Economista sênior do Banco ABC Brasil, Francisco Lima viu uma fotografia pior para a inflação doméstica, com sinais de alerta para os grupos de serviços e bens industriais. Ele descarta a perspectiva de melhora à frente nos aumentos de preços de serviços, devido ao mercado de trabalho ainda aquecido. Quanto ao encarecimento de produtos industriais, Lima nota influência da alta do dólar.
“É uma piora que reflete o repasse da desvalorização cambial do fim do ano passado. Geralmente, é um item que traz conforto para o IPCA, mas este ano deve contribuir negativamente para o índice”, previu.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.