A conjuntura econômica favorável, com desaceleração da inflação e queda nos juros, ajuda a explicar o bom desempenho do setor de serviços no País, embora não impulsione por si só o faturamento das empresas do ramo. No mês de janeiro, houve crescimento disseminado entre as atividades de serviços, mas impulsionado por fatores pontuais e não recorrentes. A avaliação é de Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Janeiro tem vários segmentos crescendo de forma única, talvez atípica seja a melhor definição”, frisou Lobo.
Na passagem de dezembro de 2023 para janeiro de 2024, o volume de serviços prestados cresceu 0,7%, com avanços em quatro das cinco atividades investigadas: informação e comunicação (1,5%), serviços profissionais, administrativos e complementares (1,1%), transportes (0,7%) e outros serviços (0,2%).
O principal impacto positivo para a média global partiu do setor de informação e comunicação, que acumulou um ganho de 3,8% em quatro meses seguidos de avanços. O setor foi impulsionado pela parte de serviços audiovisuais (27,6%), devido ao bom desempenho de empresas que atuam com exibição cinematográfica, programadoras de conteúdo para TV fechada e plataformas de streamings.
Lobo lembra que janeiro foi mês de férias, aumentando o público e, consequentemente, o faturamento de salas de cinema. Além disso, houve crescimento também na edição integrada à impressão de livros.
“Isso acontece pelo aumento da produção de material didático por conta do início do ano letivo”, explicou o pesquisador do IBGE.
A segunda maior contribuição para a média global dos serviços partiu dos serviços profissionais, administrativos e complementares.
“Os escritórios de advocacia são intermediários do recebimento de precatórios. Então o pagamento de precatórios pelo governo acaba rebatendo na receita dos escritórios de advocacia”, explicou Lobo. “Isso acontece em janeiro pelo pagamento em maior escala de precatórios pelo governo.”
No caso de transportes, houve avanço de 6,9% no transporte aéreo, ajudado por uma queda nos preços das passagens aéreas. Entre as atividades pesquisadas, a única queda ocorreu nos serviços prestados às famílias, recuo de 2,7%, pressionados negativamente pela menor receita de restaurantes.
“O movimento na ponta (alta no setor de serviços) acontece por crescimento de receitas que são pontuais. O movimento de janeiro ocorre por movimentos muito específicos. A gente não sabe como o setor de serviços vai se comportar daqui para frente”, disse Lobo.
Entre os elementos “extraordinários”, que não se repetem com frequência, Lobo enumerou a receita proveniente do pagamento de precatórios, as salas de cinema cheias durante as férias e o início do ano letivo. “Não vai se perpetuar”, afirmou.
Embora o mês de janeiro traga esse efeito de impactos atípicos, a sequência de resultados positivos disseminados nos serviços, que levaram o setor a patamar tão próximo ao pico histórico, também é reflexo de uma melhora na conjuntura econômica, confirmou Rodrigo Lobo.
“Certamente a conjuntura econômica, quando está favorável, auxilia movimentos de crescimento. Ela não vai por si só gerar aumento do faturamento das empresas do setor de serviços. Mas, quando esse aumento generalizado acontece, uma conjuntura econômica favorável ajuda. Ela não garante por si só o crescimento, mas ela exerce, dentro da dinâmica de cada setor, movimentos propícios de crescimento”, explicou Lobo, acrescentando que a conjuntura favorável atual inclui taxas inflacionárias menores e taxas de juros mais baixas, ambas elementos que ajudam o setor de serviços.