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31 de julho de 2024

‘Divertimento’ emociona, mas é protocolar


Por Agência Estado Publicado 31/07/2024 às 08h08
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Foto: Ayşenaz Bilgin/Pexels

Nos últimos tempos, os cinemas estão bem interessados em contar histórias sobre maestros. O maior destaque foi o excepcional Tár (2023) – o melhor da leva – e depois seguiu com filmes como Maestro (2023), com Bradley Cooper; o francês Maestro(s) (2022), sobre a competição de pai e filho a partir da regência de uma orquestra; e, ainda, o documentário ¡Viva Maestro! (2022), o segundo melhor dessa seleção, sobre o maestro e violinista venezuelano Gustavo Dudamel.

Agora, a França coloca mais um filme nessa leva de produções sobre regentes com Divertimento, cinebiografia em cartaz nos cinemas. Com direção protocolar de Marie-Castille Mention-Schaar (Os Herdeiros), o longa conta a história de Zahia Ziouani (Oulaya Amamra), jovem francesa que decide quebrar padrões, ainda nos anos 1990, e ser uma das poucas maestrinas do país – e do mundo.

Direção protocolar, afinal, já que Divertimento é, de longe, o filme com menos vontade de arriscar nessa lista com outras quatro produções sobre a arte de reger orquestras. É inevitável tecer comparações, afinal, já que são histórias lançadas em um espaço de tempo curto, com similaridades em suas composições. Se medirmos com uma régua de criatividade, Tár está em uma ponta e Divertimento está no outro extremo. Não se cruzam. Ainda assim…

Composições

Mas, passado esse momento de comparação, não dá para dizer que Divertimento é um filme ruim. Mesmo sem ousadia, a diretora Marie-Castille Mention-Schaar sabe, principalmente, traçar as dificuldades na vida juvenil dessa jovem regente. A primeira hora do filme é a mais rica em composições: é quando vemos a personagem lutando para conquistar seu espaço, com piadas vindas de seus colegas sobre ela ser mulher e sobre a sua condição financeira.

Por mais que não tenham muito a ver um com outro, é difícil não pensar em Whiplash – Em Busca da Perfeição (2014) nesses momentos. A carreira de um aspirante a baterista de jazz ressurge em pensamentos quando vemos Zahia lutando incessantemente para ser reconhecida, para atingir a perfeição, para descobrir a própria linguagem e identidade. Lutas diferentes, em condições distintas, mas que colocam a música como algo inerente à vida, à existência.

Também é interessante a relação dela com o maestro Sergiu Celibidache (muito bem interpretado pelo franco-dinamarquês Niels Arestrup), escorregando em suas lições e tendo de sacudir a poeira após as broncas (e lições) que leva. “Música é vida”, diz o velho maestro à jovem, em determinado momento, resumindo tudo o que acontecia até ali. Zahia, filha de imigrantes, vê a música como seu futuro, como sua possibilidade, como salvação.

Sessão da Tarde

O fato é que, no fim das contas, Divertimento privilegia a emoção contra a forma; a superação contra a história; o objetivo contra o caminho. A música é mais uma forma de promoção da superação dessa personagem do que algo usado a favor da narrativa. Bolero, de Ravel, por exemplo, é usado insistentemente nessa ideia de uma superação chegando.

É uma Sessão da Tarde francesa, que nunca se arrisca e que fica confortável em ser uma cinebiografia emocionante, na medida do possível, se contentando com o lugar-comum de um filme do gênero. A regência passa apenas como um detalhe. As dificuldades na área não são exploradas e acabam caindo em um generalismo estranho. Os desafios da jovem Zahia poderiam cair em outras profissões – professora, chef de cozinha, dona de negócio.

Nisso, Zahia acaba até se tornando um tanto quanto translúcida em sua existência. Mesmo sendo uma história real, Divertimento parece menos verdadeiro do que Tár, que consegue inserir a crueldade do dia a dia com efeitos mais reais e devastadores.

E é assim, entre a comoção da superação e a banalidade na forma como é contada, que Divertimento se cristaliza no final. O gosto pelo filme fica a cargo do espectador, que pode se entregar totalmente à jornada de superação e se emocionar de verdade, principalmente com um final que sabe como usar tudo o que foi contado até ali a favor da história, ou que pode se afastar, cansado de uma história tão banal depois de um período curto com tantas experimentações interessantes sobre a vida de maestros, reais ou não.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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