Ed Sheeran dá lição sobre o pop em Lisboa


Por Agência Estado
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A edição comemorativa de 20 anos do Rock in Rio Lisboa começou no fim de semana. No sábado, 15, e domingo, 16, o festival recebeu nomes como a banda americana Evanescence, o cantor britânico Ed Sheeran e o brasileiro Jão – todos eles estarão também na edição brasileira, em setembro.

Em conversa com jornalistas, Roberta Medina, vice-presidente da Rock World, definiu o programa do dia 16 como o “Dia da Disneylândia”, diante da presença de famílias com crianças e carrinhos de bebê e um público jovem. E, seguindo essa mesma analogia, o que se viu no Palco Mundo, o principal do evento – para ficar em dois artistas que também estarão no Brasil -, foi Ed Sheeran proporcionando aos fãs uma delirante volta em uma montanha-russa daquelas cheias de curvas, subidas e descidas. Já o brasileiro Jão deu ao público um passeio por um carrossel. Com certa magia, sim, mas com uma emoção prevista. Sem riscos e controlada.

Aos 33 anos, o britânico Sheeran apresentou-se com o conceito de show que oferece, nos palcos, há mais de uma década. Sozinho, sem banda. Ele mesmo comanda tudo e toca seu violão. Pop puro para fechar a noite.

Embora o palco por vezes pareça vazio, Sheeran o preenche, aos poucos, com canções como Castel on the Hill, de 2017, com a qual abriu a apresentação. Quem não sabe de seu voo solo pelos palcos do mundo chega até a esticar os olhos procurando pela banda. Tudo é muito bem produzido e as bases que ele utiliza são exploradas sabiamente.

O roteiro segue por canções como Shivers, The A Team e Give me Love, momento em que ele pede e a plateia de 80 mil pessoas – informada pela organização do festival – acata para, a partir daí, passear com emoção pelo setlist escolhido por Sheeran. No caso, bastante parecido com o que apresentou recentemente em seu concerto de Munique, na Alemanha.

No mashup que traz Take It Back, Superstition, de Stevie Wonder, e Aint no Sunshine, de Bill Withers, Sheeran mostrou o vocal afiado que, no começo dos anos 2000, chamou a atenção nas redes sociais. O mesmo se dá no rap You Need Me, I Dont Need You, de 2011.

CAMINHANDO

Desde esse primeiro contato com seus ouvintes, Sheeran caminhou. Sabe se comunicar de forma direta e quente com a plateia. Quando canta Love Yourself, do repertório de Justin Bieber, em versão de voz e violão, leva jovens adultos para momentos de pura nostalgia. Em Shape of You, a ordem é dançar.

Embora muitos torçam o nariz para suas canções repletas de “Oh, oh, oh” ou “Ah, ah, ah”, Sheeran tem, além de talento, o entendimento do que dar ao público. Maturidade profissional, em melhor tradução.

Não foi o mesmo que se deu com Jão. Os fãs do cantor lotaram a primeira parte da plateia. Havia cartazes, gritos e choros costumeiramente dirigidos aos grandes ídolos. Mas tudo limitado. A grande massa do festival o ouvia apenas com curiosidade, fisgada por canções como Idiota e Me Lambe, estrategicamente alocadas no final da apresentação.

Pouco antes de subir ao palco, Jão, em conversa com os jornalistas, disse ter concebido show especial para Lisboa, “que nunca mais se repetiria”. “É cinematográfico, teatralizado.”
Foi e não foi. Jão fez seu show de sempre, o que é cada vez mais comum entre artistas do cenário atual. Eles passam por um bocado de festivais ao longo do ano, mas pouco inovam ou ousam.

LIMITAÇÕES

Jão faz um bom pop: basta ouvir a ótima segunda parte do álbum Super, a Supernova, lançada no dia 12 de junho. Mesmo comercial, sua música é bem-feita. Pesam, no entanto, duas limitações do artista: a vocal e a capacidade de se entregar emocionalmente, seja no palco ou em gravações – basta ouvir a insossa versão que fez para Jardins da Babilônia, gravada para a novela Família É Tudo.

Por vezes, as performances parecem arrumadinhas demais. Mas o show de Lisboa foi um passo importante para ele. Antes de subir ao palco, o cantor negou que faça esforço para criar uma carreira internacional. Paranoid, sua primeira canção em inglês, foi, segundo ele, algo normal: “Gosto de compor em inglês”. Ele será uma das atrações do Rock in Rio. Até lá, tem tempo para pensar se consegue ir além de sua bolha de fãs e conquistar a posição de um ídolo pop – brasileiro ou até internacional.

*O REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DA ORGANIZAÇÃO DO ROCK IN RIO LISBOA

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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