Em ‘O Carniceiro’, um serial killer sob o olhar feminino


Por Agência Estado

Há algo diferente em Alaina Urquhart. A norte-americana ri bastante enquanto conversa, é desenvolta, e deixa claro como está feliz com os rumos de sua carreira. Mas, no fundo, parece que algo a incomoda – ou perturba – em suas profissões. Afinal, ela, que é de Boston, nos EUA, atuou como técnica de autópsia, é apresentadora do podcast de crimes reais Morbid e agora lança no Brasil o livro O Carniceiro (Planeta do Brasil).

A história circula exatamente no mundo conhecido por Alaina: nos pântanos da Louisiana, Jeremy, um assassino metódico, mata pessoas em série. Ele brinca com a polícia, deixando dicas nos corpos para o crime seguinte, mas consegue sempre escapar. Parece um fantasma, pois não deixa sequer uma digital, um fio de cabelo, nada. Tudo desaparece nos pântanos enquanto a polícia corre atrás do próprio rabo.

A mistura de uma história policial clássica, que tem leitores ávidos por todo o mundo, com a fama de Alaina deu certo: a obra se tornou o livro de maior pré-venda nos EUA antes do lançamento, em setembro de 2022.

GRAVIDEZ. “A ideia veio, literalmente, de um pesadelo. Estava grávida e tendo sonhos vívidos. Em um deles, estava correndo em um pântano, com alguém me perseguindo, e acordei suando. Escrevi a ideia em um papel ao lado da minha cama”, conta a escritora, que também apresenta o programa original da Parcast Crime Countdown, e um podcast de filmes de terror chamado Scream! “Na manhã seguinte, comecei a me perguntar quem era aquele cara (que estava me perseguindo)? Comecei a escrever a história e não consegui mais parar.”

A partir daí, O Carniceiro segue por dois caminhos. Em um lado, fala sobre os métodos de Jeremy e como ele se camufla. “Felizmente e infelizmente, ele foi criado na minha mente. Já li muito sobre casos reais de assassinos e ele é tudo aquilo que me assusta. É o mais repulsivo para mim”, diz a americana que, no podcast, mergulhou na história dos crimes mais brutais do mundo.

Mas não tinha como ser só isso. E aí vem o segundo caminho do livro: a patologista forense Wren Muller – profissão, aliás, que Alaina chegou a exercer. Armada com um conhecimento quase enciclopédico de crimes históricos e com anos de experiência como médica legista, ela nunca encontrou um caso que não pudesse resolver. Até agora. Afinal, Jeremy, além da complexidade de seus crimes, também mexe com as memórias da médica.

PERSEGUIÇÃO. Enquanto os misteriosos assassinatos se acumulam sobre a mesa de autópsia de Wren, ela é atraída para uma perseguição com um assassino brutal, que se revela a cada dia mais audacioso e violento.

“A vida de serial killers não é interessante”, diz a escritora. “Não podia ser um livro apenas sobre Jeremy como um homem mau – sempre falamos quem era a vítima antes de ser a vítima. É importante mostrar quem era, o que fazia, quem eram as pessoas que ela amava. Eram seres humanos. Isso é importante para mim.”

Assim, O Carniceiro constrói uma história empática, com profundidade além do assassino. É, no fim das contas, um desejo de Alaina, que acredita ser preciso mudar a abordagem dessas histórias. “As mulheres sempre são as vítimas (nas histórias policiais). Isso é realmente assustador. Parece que não temos chance”, afirma. “Por isso, quis fazer um pouco diferente. Afinal, ninguém está a salvo.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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