Ex-Mister em Maringá surpreende ao revelar seu processo de transição de gênero


Por Felippe Gabriel

Recentemente, uma influenciadora de Maringá tem viralizado nas redes sociais e chamado a atenção de muita gente. Trata-se de Lays Tonet, ex-Mister Popularidade de Maringá, e que iniciou seu processo de transição de gênero há cerca de seis meses.

Fotos: Arquivo pessoal/Carlos Moura

Atualmente, Lays mora em Portugal, na cidade de Lisboa. Foi no país europeu que ela começou a realizar os procedimentos para sua transição. Com o acompanhamento de uma endocrinologista, a maringaense faz tratamento com hormônios e bloqueador masculino, um medicamento que inibe a testosterona e permite que os hormônios femininos tenham mais efeito. 

A maringaense também colocou lentes de contato nos dentes, fez harmonização facial, aplicação de botox e realizou duas cirurgias plásticas – rinoplastia e outra que prefere não divulgar no momento. Segundo ela, o próximo passo será fazer procedimentos de feminização facial. Para isso, Lays retornará ao Brasil no ano que vem.

“Eu escolhi fazer a minha feminização no Brasil porque eu tenho bastante referências boas de cirurgiões. Um deles foi o Dr. Rostand [Lanverly], que foi o que fez a frontoplastia da Brunna [Gonçalves], da Ludmilla. Isso me incentivou a fazer a consulta com ele para eu fazer a minha frontoplastia. É uma cirurgia um pouco complicada. Eu fiz também consulta com o doutor Lucas Patrocínio, que é de Uberlândia (MG). Ele é bem requisitado pelas trans, porque ele é especialista em feminização”, explica.

A feminização facial consiste no alinhamento das características faciais com a identidade de gênero, suavizando traços masculinos e realçando a feminilidade. Normalmente, este procedimento estético é feito através da frontoplastia, que tem como finalidade a redução do tamanho da testa e o reposicionamento da sobrancelha com o avanço capilar.

O objetivo é ter um corpo natural

Lays também fará modificações no queixo e na mandíbula, lifting facial para suavizar expressões do rosto e redução do “pomo-de-adão”, o ‘gogó’ característico dos homens.

“Eu não tenho intenção de fazer [mais procedimentos]. Eu quero tentar deixar pro meu público um corpo mais saudável. Deixar claro que pra ser trans não precisa exatamente ter silicone e aquelas coisas todas, sabe? Que normalmente as trans costumam fazer. Então, meu corpo vai ser natural mesmo”, conta a influenciadora.

1/3 Lays Tonet iniciou seu processo de transição há seis meses | Foto: Carlos Moura
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A ex-Mister Popularidade explicou que nunca teve problemas após passar a tomar medicamentos constantes para a transição de gênero, e que isso se deve ao fato de ter buscado o acompanhamento profissional.

Lays passou por exames para saber a dosagem correta de hormônios, pois os tratamentos podem variar de acordo com o biotipo da pessoa e podem corresponder de maneiras diferentes também.

“É um processo longo, de 10 a 15 anos. Você vai equilibrando a dosagem. Então, é bem arriscado pras trans que fazem esse tratamento sem passar por um médico endocrinologista. O meu processo de transição com o medicamento tá sendo maravilhoso, graças a Deus. Até porque eu não tô fazendo esses hormônios aplicáveis, que são mais fortes, igual o que a Maya [Massafera] tá fazendo. Eu tô fazendo em comprimido, que é um pouco menos agressivo”, explica. 

“Eu não quero chegar ao ponto de viciar em hormônio, eu quero chegar num nível onde eu vejo o meu corpo e ‘Ah, meu corpo já está bom, tá da forma que eu tô feliz com ele’, então eu vou parar com os hormônios”, continua.

A mudança para a Europa

Em 2018, ainda em Maringá, Lays foi eleita Mister Popularidade, além de ter concorrido ao Mister Maringá e ao Mister Paraná. Logo depois, mudou-se para Portugal junto com outro brasileiro que tinha cidadania portuguesa.

1/3 Lays foi Mister Popularidade de Maringá, em 2018 | Foto: Arquivo pessoal
2/3 Foto: Arquivo pessoal
3/3 Foto: Arquivo pessoal

Após dois anos casada, a influenciadora adquiriu o passaporte europeu e agora vem ao Brasil nos períodos de férias para visitar a família. Sua volta no próximo ano será a primeira após o início de sua transição.

Com o objetivo de mudar de vida, Lays saiu do país e viu a oportunidade de iniciar sua mudança na Europa. Ela conta que os aspectos conservadores de sua família e da cidade a impediam de pensar sobre o assunto. 

“Desde novinha que eu já venho com esse pensamento de transicionar. Então, eu vim morar fora, comecei a fazer psicóloga, fui abrindo mais minha mente, porque eu tinha aquele bloqueio, medo do que minha família iria pensar sobre minha transição, do que as pessoas iriam achar. Então, eu vim para a Europa para melhorar a minha vida financeira e também para ter essa oportunidade de fazer minha transição. Porque, querendo ou não, na Europa as pessoas entendem mais, sabe? Não é tanto preconceito quanto no Brasil, tanta violência”. 

Outro ‘gatilho’ para a influenciadora iniciar a transição de gênero foi o exemplo de uma amiga, que também foi para Portugal. Lá, a amiga de Lays começou a transição e deu a ela a coragem necessária para fazer o mesmo.

“Depois que eu vim morar pra cá, a minha vida mudou, assim, tudo. Eu sou uma nova mulher, eu sou uma nova pessoa, tudo me faz bem, sabe? Não tenho que reclamar. O importante é a gente ser feliz da forma que a gente se sente bem, confortável, né? E hoje eu estou muito feliz com a minha opção de escolha”.

Relação com a família

Apesar do medo em relação às opiniões familiares, a maringaense se assumiu gay aos 16 anos de idade, após o falecimento de seu pai, o qual Lays considerava machista.

Segundo ela, sua mãe a acolheu e apoiou desde o primeiro momento, mas outros familiares tiveram mais dificuldades. Hoje, Lays relata que a relação com seus irmãos e primos é saudável e todos a aceitam. 

“Não tenho que me queixar sobre minha família e tudo que eu preciso. Eu ajudo minha mãe em tudo que ela precisa também. Hoje sou eu, minha irmã e meu irmão”.

Redes sociais como apoio à comunidade trans

Lays Tonet quer utilizar suas redes sociais para, além de divulgar seu processo de transição, demonstrar apoio a outras pessoas trans que também estão passando por essas mudanças.

“Tem muita menininha nova que começa sua transição, que a família não aceita e não tem a quem correr. Talvez eu, estando ali, eu posso dar uma força, né? Eu quero, com o que eu puder, ajudar a galera, principalmente ali da minha região, que é interior, né? Que o povo já é um pouco mais conservador, um pouco mais preconceituoso”, explica. 

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