15 de junho de 2025

Filme ‘Virgínia e Adelaide’ retrata o nascimento da psicanálise no Brasil


Por Agência Estado Publicado 10/05/2025 às 12h11
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Virgínia e Adelaide, filme que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 8, nasceu da própria ignorância de um de seus diretores, o cineasta Jorge Furtado – como ele define. “O filme veio da surpresa com a minha própria ignorância”, diz ele, bem-humorado. “Em 2018, descobri que a primeira psicanalista brasileira tinha sido uma mulher negra, no final dos anos 1930. Levei um susto! Como eu nunca tinha ouvido falar da Virgínia Leone Bicudo?”.

Esse questionamento de Furtado foi a ignição da vontade de saber mais. Nos anos seguintes, Furtado começou a estudar a vida de Virgínia Bicudo, uma das mães da psicanálise brasileira, e se surpreendeu ainda mais. Em meio ao governo de Jair Bolsonaro, o cineasta entendeu que falar sobre a vida de Virgínia era necessário. “Queria entender como chegamos a esse ponto no Brasil. Pensei também na Alemanha nazista – como um país tão culto, que nos deu tantas coisas boas, caiu naquele horror?”, diz ao Estadão.

Amizade em tempos sombrios
Depois disso, o roteiro de Furtado passou a seguir caminhos curiosos. Ao invés de fazer uma cinebiografia quadrada de Virgínia, o diretor de Saneamento Básico e Ilha das Flores decidiu falar sobre um encontro entre a psicanalista brasileira, interpretada por Gabriela Correa, e sua mentora e supervisora de casos, Adelaide Koch, vivida por Sophie Charlotte.

“Elas se conheceram em 1937, justo quando Getúlio Vargas proclamava o Estado Novo, instaurando uma ditadura”, diz Furtado. “Em meio a tudo isso, as duas se encontram e começam a construir algo novo: a psicanálise no Brasil. Dramaticamente, achei fascinante”.

O longa-metragem se passa quase que inteiramente dentro de uma sala com essas duas personagens conversando. O tempo passa, imagens de arquivo às vezes ajudam a dar o contexto geral de vida de Virgínia e Adelaide. Mas são apenas recursos coadjuvantes em uma trama em que a conversa e a interação entre as duas é o motor do longa-metragem.

Encontro de gerações
Após um período mais dedicado ao roteiro e à produção, Furtado voltou à direção em Virgínia e Adelaide, mas não sozinho. Ao seu lado, a cineasta Yasmin Thayná, realizadora do aclamado curta-metragem Kbela, trouxe uma nova perspectiva ao projeto.

“Eu teria dado um tom melancólico, enquanto Yasmin encontrou um caminho mais alegre, apesar das dores das personagens – Virgínia com o racismo, Adelaide com o nazismo”, diz.

Yasmin confirma ao Estadão que essa abordagem foi intencional. “Abordar a história pelo viés da amizade foi um grande acerto. Tiramos a rigidez intelectual e levamos para um campo mais afetuoso – as relações humanas, a troca”, explica a cineasta. “Foi importante tirar essas mulheres do ‘segredo’, como disse a professora Janaína Damasceno. Tornar pública a existência e a importância delas para a história da psicanálise e do Brasil”.

Gabriela Corrêa e Sophie Charlotte também não enxergaram o projeto como uma biografia convencional, com arco narrativo previsível e aquele tom visto em dezenas de filmes por aí. Para elas, o filme é uma celebração da importância histórica dessas duas mulheres.

“O centro para mim não foi o que aconteceu com Adelaide, e sim aquela frase: ‘o que fazemos do que fizeram de nós'”, sintetiza Sophie, referindo-se aos traumas da imigração forçada e da adaptação a uma nova realidade cultural e linguística que Adelaide enfrenta.

Gabriela celebra a parceria com a colega e o processo de criação. “Como atrizes, a gente entra num trabalho propondo, contribuindo, mas sempre pedindo licença. Isso foi muito rico para o processo como um todo, compreendendo melhor quem era Virgínia”, reflete.

Além do acaso
Furtado, imerso nas discussões sobre psicologia, história e psicanálise durante a produção do filme, parece ter absorvido algo do pensamento junguiano sobre sincronicidades. O cineasta celebra que Virgínia e Adelaide estreia exatamente 80 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial – o evento que forçou Adelaide a deixar a Europa.

Mais do que coincidência, ele também relembra que as filmagens começaram no aniversário de Virgínia, em 21 de novembro. “Os astros conspiram!”, conclui o diretor, sugerindo que há um propósito maior na ressurreição destas histórias esquecidas.

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