O voo de Eriberto Leão rumo ao futuro


Por Agência Estado

O ator Eriberto Leão, de 51 anos, volta no tempo para lembrar das aulas de Física do professor Dauro no Colégio Dante Alighieri, na capital paulista, lá pelo final da década de 1980. “Há quem odeia Física porque não teve um professor como o meu, então aprende aquelas equações cartesianas de um jeito chato”, diz. Foi graças a Dauro, de quem o artista não se recorda o sobrenome, que ele começou a desvendar o universo da ficção científica por meio de livros como Eu, Robô, de Isaac Asimov, e Os Dragões do Éden, de Carl Sagan. Como isso, veio na esteira a procura pelo filme 2001, Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, e pesquisas sobre leis da robótica e até sobre a existência – ou não – de extraterrestres.

Mais de 35 anos depois, Leão protagoniza o solo O Astronauta, texto de Eduardo Nunes, com direção de José Luiz Jr., em cartaz no Teatro Nair Bello, no Shopping Frei Caneca. No palco, o intérprete aparece como um astronauta que, depois de receber um chamado de uma civilização extraterrestre, parte em uma missão intergaláctica em busca de outras formas de vida fora do planeta.

À medida que se afasta da Terra, o personagem perde contato com os seus, como o pai (representado em vídeo por Jaime Leibovitch), e tem como interlocutora Hal (a voz da atriz Luana Martau), um computador de bordo com inteligência artificial, que assume o papel de vilã. O ator Zécarlos Machado também faz participação em vídeo como o chefe da expedição.

Entusiasmado, Leão conta que esse projeto bateu como uma missão. “Misturo minha paixão pelo universo pop ao interesse por analisar a mente humana”, diz ele que, na peça, canta músicas de David Bowie.

PANDEMIA

Tudo começou a ser desenhado em março de 2020 e, depois de uma semana de ensaios, o mundo parou devido à pandemia da covid-19. Depois de dois meses trancado em seu apartamento no Rio de Janeiro, o ator, sua mulher, Andréa, e o filhos João e Gael, hoje com 12 e 5 anos respectivamente, partiram para oito meses em um sítio alugado em Itaipava, na serra fluminense.

Conectado com a natureza, Leão mexia na terra, plantava, colhia, observava os animais e, à noite, abraçava seu violão para cantar – a música é a sua outra paixão. “As únicas coisas que podem nos salvar da extinção são a sustentabilidade, uma economia circular e recuperar a generosidade que nos falta”, afirma.

Com o prolongamento da crise sanitária, O Astronauta estreou em uma versão online e só ganhou a cena presencial em 2022, no Rio. Outros fatores atingiram a peça – entre eles a ansiedade do isolamento e a possibilidade de refletir melhor em momentos solitários. “Uma viagem espacial é uma viagem para dentro de si mesmo. Por isso, é tão legal que cada espectador interpreta o espetáculo de um jeito”, diz. Para ele, O Astronauta também amplia o foco para a questão das drogas que podem colaborar para a expansão do pensamento humano. Muito influenciado pela contracultura – “um grande flerte entre as artes, a filosofia e as substâncias capazes de expandir a mente” -, Leão afirma que o movimento que teve o auge na década de 1960 ficou marginalizado por causa da política antidrogas e do comportamento dos hippies. “O grande erro do movimento hippie foi usar drogas somente de forma recreativa.”

Leão evoca um trecho da letra de Cazuza para a canção Ideologia para ilustrar como andava se sentindo há alguns anos”: “Sabe aquele garoto que queria mudar o mundo e, agora, assiste a tudo de cima do muro? Era eu”.

VÍNCULO

Ele sabe que isso é uma contingência natural da maturidade, da responsabilidade de ser pai e de uma estrutura de vida que se impôs naturalmente. Mas a própria roda se encarregou de girar e o fim do vínculo com a Globo, em outubro passado, lhe propiciou uma diversificação na carreira.

“O contrato tolhe um pouco a liberdade revolucionária do artista”, reconhece ele que, em mais de duas décadas na emissora, protagonizou novelas de sucesso como Cabocla, Paraíso e Insensato Coração. “Acredito que, se ainda estivesse na Globo, não me sentiria livre para fazer O Astronauta.”

De falta de trabalho, o ator não se queixa. Além da peça em cartaz, Leão começou a rodar o filme Inexplicável, dirigido por Fabrício Bittar, em que contracena com a atriz Letícia Spiller. E, na sequência, vem outro longa, Furnas Fundas, de Beto Marques, em que vai representar um vampiro.

Em setembro, no Teatro Porto, vem o musical Funny Girl, com encenação de Gustavo Barchilon, na pele do personagem que foi de Omar Sharif no cinema. “Mas não vou cantar como nos musicais da Broadway e vai ser no meu jeito meio rockroll”, avisa.

Uma agenda cheia em nome de uma vida mais tranquila que começa a ser sinalizada com a compra de um terreno na mesma Itaipava onde atravessou o pior da pandemia. “Estamos levantando uma casa totalmente sustentável, construção a seco mesmo – quando você se alinha a uma ideia, tem que ir até o fim.”

O Astronauta
Teatro Nair Bello
Shopping Frei Caneca
Rua Frei Caneca, 569, 3º piso
Tel.: 3472-2414. 6ª e sáb., 21h
Dom., 19h. R$ 80. Até 30/7

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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