Pianista realiza imersão na obra de Chopin
Quando Jan Lisiecki tocou pela primeira vez com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo tinha apenas 17 anos. Era um menino. De lá para cá, ele muito mudou. Foram dez discos lançados, três prêmios, uma carreira com uma média de cem concertos por ano. Uma coisa, porém, permanece intacta. Sua paixão pela música de Frederic Chopin. E é com ele que o pianista canadense volta a São Paulo esta semana para uma série de apresentações.
Lisieck faz hoje, 30, e amanhã, 1.º/7, apresentações na Sala São Paulo, com a Osesp regida por seu diretor musical Thierry Fischer, quando vai tocar o Concerto n.º 1 para Piano e Orquestra do compositor polonês (o programa tem ainda a Sinfonia n.º 1 de Sibelius). No sábado, 2, pianista, maestro e orquestra vão a Campos do Jordão para fazer a abertura oficial do Festival Internacional de Inverno (quando trocam a sinfonia pela Suíte Antiga, de Alberto Nepomuceno). E, no domingo, de volta à Sala São Paulo, Lisiecki faz recital solo, na Festa Internacional de Piano promovida pela Osesp ao longo do ano.
“Será uma semana de imersão na música de Chopin”, brinca o artista de 27 anos em entrevista ao Estadão no começo da tarde de ontem, pouco depois de sua chegada ao Brasil e do primeiro contato com Fischer – e minutos antes de fazer seu primeiro ensaio com a Osesp.
Tempo
A paixão por Chopin não é despropositada. A carreira de Lisiecki está intimamente ligada a esse repertório. Um registro dos concertos para piano feito por ele aos 12 anos em Varsóvia acabou escolhido como o disco oficial das celebrações pelo bicentenário do compositor. Em 2018, ele falou ao Estadão sobre a escolha. E o pavor que sentiu quando recebeu a notícia – só ficou mais tranquilo quando o maestro lhe disse que não havia nada das gravações que o envergonhasse.
Pura modéstia. Mas também um olhar já maduro. “Você não pode acelerar a sabedoria. Eu preciso de tempo para compreender melhor essas e tantas outras obras, não há como mudar isso”, disse ele na ocasião.
Lembrado do comentário, ele afirma que nada mudou. Ou melhor, talvez tenha agora um pouco mais de tranquilidade para lidar com o tempo. “Ganhar experiência significa também entender que a cada concerto você aprende. E que o caminho é o de uma construção constante na relação com a música, da qual fazem parte também descobertas a seu respeito, sobre quem você é.”
O Concerto n.º 1 para Piano e Orquestra que ele toca com a Osesp foi o segundo escrito por Chopin, ainda que tenha sido catalogado em sua obra como o primeiro. “O n.º 2 me parece uma peça em que o compositor não parece tão seguro. O primeiro, por sua vez, revela mais segurança, ainda que o movimento lento traga essa sensação de dor, de nostalgia. Não é o maior concerto já escrito, mas é uma peça muito especial, pela escrita para o piano e também pelos diálogos que Chopin cria com outros instrumentos”, explica.
Noite
No recital de domingo, Lisiecki junta os Noturnos do polonês com seus Estudos, em uma combinação original. “Eu poderia fazer um programa apenas com os Noturnos, mostrar a beleza dessas peças, mas seria um repertório emocionalmente muito cansativo, tanto para mim quanto para a plateia. A união com os estudos possibilita um fluxo interessante e oferece novas perspectivas para ambas as séries.”
A música sobre a noite tem ocupado diversos compositores de diferentes épocas. E em seu novo disco, Night Music, Lisiecki gravou peças do gênero de outros autores. “Alguns deles pensam o noturno como uma canção de ninar, mas se você pensa em Schumann, por exemplo, sua música revela perturbação emocional. Já Ravel trabalha a noite como uma ideia, um conceito.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.