11 de maio de 2025

Tião Carreiro e a criação do pagode de viola: ritmo nasceu em Maringá


Por Brenda Caramaschi Publicado 08/02/2025 às 14h44
Ouvir: 07:49
Crédito: TCP/Reprodução. Músico Tião Carreiro.
Tião Carreiro criou um novo ritmo que marcou a música sertaneja para sempre nos fundos de uma rádio maringaense

Houve um tempo em que Maringá respirava música sertaneja. A jovem cidade  começou a atrair muitas duplas de São Paulo e, em uma salinha, nos fundos da Rádio Cultura de Maringá, na esquina das Avenidas Herval e 15 de Novembro, em uma das muitas viagens para se apresentar em circos da região, um músico que nunca foi pra escola revolucionou a música brasileira. Ali, Tião Carreiro, aos 24 anos, inquieto, tentava criar algo novo. De tanto mexer e remexer nas cordas da viola, uma outra levada nasceu. 

O animador e apresentador sertanejo Orlando João Zenaro Manin, conhecido como Coronel do Rancho, presenciou quando Tião Carreiro, frequentador assíduo da Cidade Canção, começou a bater com sua viola e conseguiu fazer junção de seu instrumento com o violão do compositor Zorinho (atual maestro Itapuã, que por muitos anos formou a dupla Zezinho e Zorinho) numa mesma gravação, dando origem ao pagode de viola.  A batida diferente logo virou sucesso. Tião tocou a fita para Lourival dos Santos e Teddy Viera, consagrados compositores sertanejos, que deram a letra a “Pagode em Brasília”, para homenagear o nascimento da capital brasileira. Foram eles, aliás, que ao ouvir a gravação, comentaram “parece um pagode” — em Minas Gerais, pagode era baile — e, assim, ajudaram a batizar o novo ritmo, também conhecido como pagode caipira ou pagode sertanejo. A música estourou nas rádios de todo o Brasil e estreou o ritmo inventado por Tião Carreiro.

rádio cultura
Tião Carreiro e Pardinho, uma das duplas de maior sucesso do Brasil, com o seu público no auditório da Rádio Cultura de Maringá. Na imagem vemos (da esquerda para a direita): Zezinho, Zorinho, Tião Carreiro, Orlando João Manin (Coronel do Rancho), Pardinho, João Pereira, e, na extrema direita, Moacir Carneiro./ Foto: Acervo Maringá Histórica

A invenção do novo ritmo surgiu no final da década de 1950 na emissora maringaense e foi imortalizada em composições que fizeram história, como o próprio “Pagode em Brasília”, “Jangadeiro Cearense” e  “A Viola e o Violeiro”. “O rei do pagode” consagrou o pagode de viola por meio de inúmeros solos de introdução e canções. O pagode sertanejo é, atualmente, um dos ritmos mais tradicionais, tendo projetado Tião Carreiro por seu toque marcante e inconfundível, passando a enriquecer a lista de ritmos regionais.

A memória consta no livro “Música Caipira – da Roça ao Rodeio”, da jornalista Rosa Nepomuceno, uma das publicações mais completas sobre a história da música caipira. “Primeiro gravei uns acordes de violão e depois os mesmos  acordes de trás pra frente na viola”, explica Tião Carreiro, no livro. Na obra, que traz depoimentos de diferentes artistas, o violeiro Almir Sater diz que Tião gostava de samba e quis trazer seu swing para a viola. Também no documentário “A mão direita do Itapuã – um caminho possível para conhecer o ritmo do pagode” a história do nascimento do pagode de viola em Maringá é relembrado.

Assista o documentário:

Desconhecimento 

Os registros do nascimento do pagode de viola existem, mas são poucos. Essa história foi resgatada recentemente pelo jornalista e músico Raul Ruffo, que mantém um perfil no instagram dedicado a curiosidades do mundo da música. Ele, que é natural de Cruzeiro do Oeste, na região de Umuarama, tem forte ligação com o noroeste paranaense, onde mora parte da família. O vídeo postado sobre o nascimento do pagode em terras maringaenses rapidamente acumulou milhares de visualizações e comentários, alguns bastante surpresos. “Me espanta muito a cidade de Maringá ser citada pois aqui mesmo não se comenta nada a respeito”, diz um deles. “Eu sou maringaense e nunca imaginei que o Tião Carreiro tinha passado por aqui”, reforça o outro. 

“Eu sempre faço vídeos sobre grandes ícones da música brasileira e o Tião Carreiro é um dos maiores deles, né? Muita gente já tava me pedindo pra fazer e resolvi fazer um vídeo sobre ele, dessa vez falando sobre o local onde ele criou o pagode de viola que foi a cidade de Maringá. Realmente existem poucos registros históricos sobre essa passagem. A gente faz uma varredura aí nos sites, nos documentos e a gente encontra pouca coisa sobre esse fato, mas é o suficiente para a gente entender que realmente isso aconteceu. É de conhecimento geral, de todo mundo que acompanha a história do Tião Carreiro, que ele é muito fã dessa região específica do Paraná. Ele gostava muito das lavouras de café da época, achava muito bonito, isso representava uma riqueza dessa região do Paraná, então ele ia muito para ir, para a região de Maringá”, conta Raul Ruffo.

O desconhecimento dos seguidores sobre a criação do pagode em Maringá surpreendeu o jornalista. “Se eu morasse em Maringá, se fosse a minha cidade, com certeza, esse seria um fato que eu ajudaria a divulgar para que a gente ficasse com essa fama, vamos dizer assim, do berço do pagode da viola. É um capital cultural que eu acho que merece ser cuidado, ser cultivado. Acho que essa história tem que ser registrada, bem apurada aí e eu acho que a cidade pode usar isso como um capital cultural, até para turismo. Isso foi um acontecimento que mudou a música brasileira, um acontecimento histórico no Brasil e que teve como berço a cidade de Maringá, então eu fiquei realmente muito surpreso com esse fato de que a população da cidade não tem conhecimento de algo dessa grandeza ter acontecido aí, debaixo do nariz de todo mundo”, completa o jornalista.

O criador do pagode

Em 1976, o disco “O Criador e o Rei do Pagode em Solo de Viola Caipira” marcou Tião Carreiro definitivamente no gênero. Já a variação mais lenta do samba veio a ser chamado de pagode apenas nos anos 80, tendo como expoente o grupo Fundo de Quintal.

Tião Carreiro nasceu José Dias Nunes, em Minas Gerais,  quarto de sete filhos,  começou a cantar aos 16 anos, gravou discos e se apresentou em programas de rádio e de televisão, cinemas, clubes, praças e circos, e morreu em outubro de 1993 como um homem à frente do seu tempo e de genialidade musical incontestável que se eternizou.

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