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21 de novembro de 2024

Árbitra de Goioerê está entre as melhores do mundo


Por Brenda Caramaschi Publicado 10/11/2024 às 08h01
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A paranaense Edina Alves Batista foi indicada pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS) para o prêmio de melhor árbitra do mundo em 2024./ Foto: arquivo pessoal

Com uma carreira consolidada no futebol internacional, a paranaense Edina Alves Batista foi indicada pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS) para o prêmio de melhor árbitra do mundo em 2024. Nascida em Goioerê (a 160 quilômetros de Maringá), Edina figura entre as dez profissionais nomeadas para concorrer a essa honraria.

A trajetória de Edina Alves é marcada por importantes conquistas e quebras de barreiras para as mulheres na arbitragem. Com currículo extenso, ela tem histórico em competições internacionais desde quando passou a fazer parte do quadro da FIFA em 2016. Participou da Copa da França em 2019, apitando quatro jogos, entre eles, a semifinal entre Inglaterra e Estados Unidos. No mesmo ano, integrou o primeiro trio feminino na arbitragem brasileira em Copas, ao lado de Neuza Back e Tatiana Sacilotti.

Edina já atuou em competições de destaque, como o Campeonato Brasileiro Feminino e Masculino e participou de torneios internacionais como a Copa América Feminina, a Copa Libertadores Feminina, a Copa Sul-Americana Masculina, a Supercopa do Brasil Feminina e a Copa do Brasil Masculina. Ela faz parte do quadro de arbitragem da CBF desde 2007, se tornando a juíza com mais jogos na história do Campeonato Brasileiro. A árbitra paranaense também faz parte da escala de arbitragem da Conmebol e da Federação Paulista e detém o recorde de árbitra brasileira com mais jogos em Copas do Mundo, somando oito partidas em duas edições do Mundial Feminino.

Mas a carreira na arbitragem começou quase que por brincadeira. A garota que sempre adorou esportes e amava uma competição jogava basquete, vôlei, futsal, futebol, e sempre honrava tanto as vitórias quanto as derrotas – em um jogo, fez uma aposta e perdeu, por isso pagou a “prenda”: trabalhar com o pai de uma amiga, que era árbitro, como auxiliar de arbitragem em uma disputa da base. O jogo era entre as equipes de Juranda e Ubiratã. O que ela não imaginava é que iria se apaixonar pela adrenalina de estar em campo.

Edina fez um teste para se tornar profissional, fez o curso da Federação, e deu início à carreira profissional em 2001. Por dezoito anos ela alimentou um grande sonho: apitar um jogo da série A do Campeonato Brasileiro. Assistindo ao programa de esportes na TV, ela dizia aos amigos: “Um dia vocês vão me ver ali na telinha”. Mal sabia ela que as realizações que viriam seriam ainda maiores que aquela. 

“Eu não contava com Mundial de Clubes, Copa do Mundo, Libertadores, Olimpíadas, Copa América… O meu maior desejo era apitar um jogo da Série A. E em 2019 eu consegui realizar esse projeto que eu fiz lá atrás”. Na partida entre CSA e Goiás, depois de 14 anos, uma mulher voltou a apitar um jogo da elite do futebol brasileiro e essa mulher era a paranaense Edina Alves. “Degrauzinho a degrauzinho eu fui subindo e não desisti pelo caminho”.

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Em 2019 Edina realizou o sonho de apitar uma partida da Série A do Campeonato Brasileiro. / Foto: Arquivo Pessoal

A trajetória cercada de realizações no esporte também é acompanhada por uma palavra-chave: resiliência. “Às vezes eu tinha um jogo no ano no meu Estado, mas mesmo assim eu não deixava de me preparar para quando a oportunidade chegasse. No começo, tudo é difícil. Cada profissão tem obstáculos e você tem que aprender a lidar com eles e passar por eles. Graças a Deus a resiliência me trouxe até onde eu estou hoje”, relembra.

A menina que sonhava em jogar na Seleção Brasileira de Futebol se tornou a mulher que, por muitas vezes, representou o Brasil em campo de outra maneira. “Eu não medi esforços para me dedicar ao máximo e representar o nosso País como ele merece. Nós temos excelentes árbitros, excelentes  jogadores e excelente futebol”.

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Em 2016, Edina conquistou o Escudo FIFA e passou a atuar em competições internacionais./ Foto: Arquivo pessoal

A primeira competição internacional foi uma Copa Libertadores, em 2016, logo após conquistar o Escudo FIFA. Depois disso, vieram as Copas do Mundo, Olimpíadas, Copa Libertadores, Copa América, e o mundo foi descobrindo e reconhecendo quem era a árbitra brasileira que saiu do noroeste paranaense para brilhar nos gramados das grandes competições. Esta, inclusive, é a sexta vez que Edina Alves aparece na lista de melhores árbitras do mundo. “Já fiquei em sexto, quarto, terceiro… Quem sabe agora é a hora de levar a bandeirinha do nosso País lá em cima”, torce. 

Entre os homens, dois brasileiros também estão na disputa pelo posto de melhor árbitro: Raphael Claus e Wilton Pereira Sampaio. A premiação ainda não tem data definida, mas para ela, estar na lista dos melhores já é uma vitória. “As pessoas, às vezes, menosprezam e pensam que a arbitragem do Brasil não é boa. Temos erros, temos que melhorar em muitas coisas, mas quem não tem? Eu estar concorrendo entre as melhores do mundo, o Claus e o Wilton também é mostrar que o nosso País tem força. Nós somos bons árbitros, mas as pessoas gostam mais de criticar do que elogiar. Nosso País é forte e se não fosse não estaríamos sendo indicados para uma premiação de tão alto  nível. E quem vota são treinadores e capitães de equipes e seleções e jornalistas renomados. Não é uma brincadeira. Todos os eventos internacionais que nós trabalhamos são avaliados durante o ano. Sou muito grata por poder participar desses seletos nomes que estão ali porque só tem top”, diz Edina.

“Eu sou mulher, mas eu sou uma árbitra”

Para ela, a igualdade em campo entre homens e mulheres ainda não chegou, mas o cenário vem evoluindo. “Eu não quero ser tratada como mulher, eu quero ser tratada como uma árbitra FIFA. O homem pode desempenhar um trabalho predominado por mulheres melhor ou igual a uma mulher e a mulher em um setor predominado pelos homens. As pessoas tem que ter a cabeça mais aberta para ver o profissional e a qualidade do profissional. E é isso que todas as mulheres vem buscando dentro da arbitragem”, desabafa. 

Para ela, a condenação dos torcedores quando ocorre um erro de arbitragem ainda é maior quando ele vem de uma mulher. “Eu acho que as pessoas têm uma lupa para a mulher. Errar, todos vão errar. Quantos gols erra um jogador? Quantos passes erra um jogador dentro do campo de jogo? Quantas cobranças de falta erra um jogador? Quantos escanteios eles erram? E eles erram porque querem? Não! Eles não erram porque querem. É porque acontece. E eles treinam pra isso quantas vezes? E o árbitro também está propenso a ter erros. Só que o erro do jogador não é o que define ele, entendeu? Igual o do árbitro. Eu tenho 25 anos de carreira. Eu tive até hoje um erro que foi marcante na minha carreira”, diz, relembrando um fatídico confronto entre Novorizontino e São Paulo pelo Campeonato Paulista de 2021 em que não marcou um pênalti. 

“As pessoas não esquecem, sabe? Não esquecem o seu erro. Agora, o homem tem um selo de qualidade no futebol, né? Rapidamente as pessoas esquecem, ele apita o campeonato no mesmo ano e trabalha naquela mesma equipe que ele teve um equívoco, entendeu? E tudo bem, segue a vida, vai para frente, o torcedor esquece, todo mundo esquece. Agora uma mulher, uma árbitra, eu, as pessoas não esquecem. Ficam sempre lembrando daquilo e sempre falando daquilo”, cita Edina, exemplificando as diferenças que ainda existem em campo.

Mas a árbitra tem claro que um erro não define quem ela é e nem diminui a história e trajetória que construiu. “O que conta é a sua vontade de acertar e o seu desempenho dentro do campo de jogo. Vou errar? Vou errar sim, igual todo mundo vai errar, ninguém é perfeito, as pessoas que colocam um dedo para apontar é porque acho que eles nunca erraram em nada na vida deles”. Para ela, o pior não é lidar com os xingamentos em campo, de torcedores e jogadores com a cabeça quente, mas com o “massacre” que existe nas redes sociais pós-jogo. “Hoje as pessoas às vezes ficam atrás de um computador, atrás de um telefone, e escrevem coisas que eles não pensam que mogoam as pessoas. Hoje eu sou mais de boa com isso, mas na época essas coisas me afetaram um pouco e eu dei uma balançada. A minha fé, a minha família, meus amigos e as pessoas que acreditaram e que acreditaram em mim me deram forças para ver que não são essas coisas que vão definir quem eu sou. E foi aonde eu levantei a cabeça e busquei conquistar mais coisas ainda para mim e para o meu País”, relembra.

Para Edina Alves, a chance de, mais uma vez, disputar o título de melhor  árbitra do mundo, mostra que ela está no caminho certo. “Eu sempre quero ser a minha melhor versão. É isso que eu sempre coloco na minha cabeça. Não quero ser melhor do que ninguém, eu quero ser melhor do que eu mesma. E de mulher, só tem eu da América. E eu sou uma brasileira. Então eu tenho muito orgulho disso, muito orgulho mesmo. E pra mim eu falo que eu sou a melhor do mundo, porque quem mais que tem que te motivar é você mesmo. Quando as pessoas diziam que eu não ia ser nada, não ia ser ninguém, eu nunca desisti, porque eu acreditava em mim, eu acreditava na minha capacidade. Nós, mulheres, desacreditamos de nós mesmas muito cedo, desistimos dos nossos sonhos, por causa de pessoas que querem dizer que não vamos chegar, não conseguimos, não somos boas para isso. E aí ficamos pelo caminho. E isso é muito ruim. Então eu aprendi a eu mesma me motivar”.

O novo sonho de Edina é apitar a Copa do Mundo Feminina no Brasil em 2027. Alguém tem dúvidas de que ela estará lá?

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