Phelipe Rodrigues é um dos nadadores mais experientes que representará o Brasil nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, que acontecem entre 24 de agosto e 5 de setembro. Prestes a disputar a quarta edição do evento, o atleta de 30 anos espera agora faturar a primeira medalha de ouro. Dos Jogos de Pequim-2008 até o Rio-2016 foram cinco pratas e dois bronzes.
“Estou no meu melhor momento de treinamento. Se vier a douradinha agora vai ser sensacional. Estou preparado e confiante para isso”, disse ao Estadão. No início do mês, ele participou da seletiva para Tóquio e conseguiu índice para disputar os 50m e 100m livre na classe S10 (para atletas com deficiências mínimas).
A principal esperança para ele está nos 50m, sua prova favorita. “É a mais nobre da natação. Saí da água feliz ao conseguir o índice. Foi um ano bastante conturbado para o esporte, de muita indefinição. Mas a partir de agora acredito que o foco vai ser apenas a concentração para Tóquio.”
Em 2019, no último ano de disputas antes da pandemia, Phelipe conquistou a prata no Mundial de Londres e o ouro nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, ambas nos 50m livre. Da capital peruana, retornou como o brasileiro mais vitorioso do evento. Foram oito medalhas no total – sete ouros e um bronze.
A participação na competição continental, no entanto, por pouco não foi vetada. Um mês antes da disputa, o Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) fez uma reclassificação de todos os atletas. No esporte paralímpico, a cada ciclo, os competidores são reavaliados para definir o grau de deficiência.
O IPC alterou os critérios de classificação e surpreendeu a todos com uma nova avaliação em 2019, no meio do ciclo paralímpico. Phelipe foi considerado inicialmente inelegível. Como sua classe é de uma deficiência mínima, não havia o que fazer e não ser tirá-lo do paradesporto. O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) fez um protesto, pedindo nova avaliação e só assim ele voltou para a categoria. Outro nadador brasileiro, Andre Brasil, não teve a mesma sorte e ficou fora do Parapan e também não irá a Tóquio.
Phelipe nasceu com o pé direito virado para trás, quase um Curupira, e passou por cirurgia na infância. No período de recuperação, sofreu uma infecção que deixou o lado direito menor do que o esquerdo. Ele calça 40 no pé esquerdo e 35 no direito. Há também uma grande diferença entre uma panturrilha e outra, o que compromete sua força e equilíbrio.
A dificuldade nunca o impediu de praticar esportes. Mas a competição a sério começou somente em 2008. Phelipe é natural de Pernambuco e com 12 anos se mudou para João Pessoa, na Paraíba. Foi lá que um amigo da família sugeriu que o garoto tentasse a disputa paralímpica. Ele gostou da ideia, começou a treinar e, no mesmo ano, já viajou com a delegação brasileira para os Jogos de Pequim. Voltou com duas pratas, nos 50m e 100m livre.
Nos Jogos de Londres, em 2012, ele foi prata nos 100m e voltou decepcionado com o quarto lugar nos 50m. O tropeço contribuiu para a mudança para São Paulo em 2014. Mais próximo da seleção brasileira de natação e com a estrutura do Centro de Treinamento do CPB, evoluiu. No Rio-2016, foram quatro medalhas, duas pratas (50m e revezamento 4x100m livre) e dois bronzes (100m livre e revezamento 4x100m medley).
PANDEMIA – Phelipe estava pronto para disputar a seletiva para Tóquio em março do ano passado quando começou a pandemia. “Foi muito difícil no início. Vinha de uma sequência muito boa. A gente chegou na Itália para competir, quando soubemos do cancelamento. Tinha esperança que a competição iria acontecer ainda nos próximos dias, mas depois só piorou.”
O retorno ao Brasil foi difícil. O CT fechou e Phelipe passou quase três meses em casa, totalmente isolado, e precisou de apoio psicológico. Nesse período, ele faz questão também de agradecer aos patrocinadores que mantiveram o apoio em 2020, mesmo sem competições. Além de ser contemplado nos programas do governo federal e estadual com o Bolsa Pódio e Time São Paulo, respectivamente, ele também conta com patrocínio desde 2018 da Espaçolaser.
Vacinado com as duas doses da Pfizer oferecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), a expectativa agora é embarcar para Tóquio em 5 de agosto. A delegação brasileira terá um período de aclimatação de 15 dias na cidade de Hamamatsu. Os Jogos Paralímpicos de Tóquio .
“Daqui para Tóquio vou estar na minha melhor forma. Nunca treinei tão bem quanto hoje. Quando conquistei a vaga na seletiva fiquei meio assim porque vai que cancelam os Jogos de novo. Mas depois quando retomei me deu um sentimento de confiança e de vontade de treinar para dar o meu melhor em Tóquio. Com o tempo da seletiva, ficaria fora do pódio do Rio-2016. Preciso evoluir ainda. Dar o meu melhor para ir atrás da douradinha.”