Após um ano de sofrimento para o torcedor santista, o Santos Futebol Clube enfim reconquistou sua posição junto aos times da elite do futebol nacional, na Série A do Campeonato Brasileiro. O clube alvinegro praiano é o primeiro da segunda divisão a conseguir o acesso antecipado nesta temporada. A promoção foi confirmada com a vitória do time sobre o Coritiba, em partida válida pela 36ª rodada da competição.
Na primeira colocação da Série B, o Santos alcançou 68 pontos depois de vencer o dono do Estádio Couto Pereira por 2 a 0 nesta segunda-feira. Já o Ceará, quinto colocado, está com 57 pontos. Embora o time cearense ainda vá a campo pela rodada, nesta terça, não pode mais alcançar a pontuação santista, pois tem apenas nove pontos para disputar, o que dá ao Santos uma vaga permanente no G-4. Os demais clubes continuam em confronto pelas vagas na divisão principal nas duas rodadas finais.
Com isso, chega ao fim a incerteza trazida pela pior temporada da história santista. Ao longo de mais de 100 anos de história, os torcedores nunca tinham visto o Santos ser rebaixado para a segunda divisão de qualquer campeonato. O péssimo desempenho de 2023, porém, levou o clube ao descenso na última rodada do Brasileirão, em que dentro de 27 possíveis cenários, em apenas três poderia sofrer a queda. Vendo seu time ser derrotado pelo Fortaleza, o torcedor santista entrou em um pesadelo naquele 6 de dezembro.
Poucos dias depois, Marcelo Teixeira foi eleito novo presidente do clube no lugar de Andrés Rueda. Em suas mãos, tinha o desafio de fazer o Santos retornar ao lugar do qual, até então, nunca tinha saído: a Série A. Para isso, montou um elenco voltado para a disputa da Série B. Dispensou jogadores como Soteldo, Mendoza, Lucas Lima e Jean Lucas, membros da equipe rebaixada, e contratou, entre outros nomes, o trio de ex-corintianos Gil, Giuliano e Otero, Diego Pituca e João Schmidt, além do goleiro Gabriel Brazão.
O time teve mudanças também na parte da comissão técnica. Depois de uma temporada inteira com dificuldade para manter treinadores – em poucos meses, o Santos teve Odair Hellmann, Paulo Turra, Diego Aguirre e Marcelo Fernandes, interino -, Teixeira trouxe de volta Fábio Carille.
INÍCIO POSITIVO
Começando o ano com uma final de Paulistão no currículo, o Santos mostrou que viria com força para retomar sua antiga posição. Mesmo que não tenha sido suficiente para superar o Palmeiras no Allianz Parque, o desempenho do clube foi mais do que satisfatório: os santistas não chegavam à decisão do estadual desde 2016, quando foram campeões, e passaram três temporadas consecutivas caindo já na fase de grupos.
Não existe torcedor que não tenha ficado esperançoso. Na partida de estreia, contra o Paysandu, os liderados de Carille venceram por 2 a 0. O placar se repetiu na partida seguinte, quando o Santos enfrentou o Avaí. Na terceira rodada, ainda melhor: o time bateu o Guarani por 4 a 1, com uma atitude mais ofensiva do que costumam ter as equipes comandadas por esse técnico.
Tudo dava indícios de que seria um campeonato tranquilo para o Santos, invicto, com apenas um gol sofrido. O jogo contra o Amazonas, porém, derrubou um primeiro balde de água fria na cabeça dos santistas. Na casa do adversário, o torcedor viu o clube sofrer sua primeira derrota: um 1 a 0, com um gol recebido antes da metade do primeiro tempo.
Sem muito abalo, o time tornou a vencer na rodada seguinte. Contra a Ponte Preta, antiga conhecida de Campeonatos Paulistas, venceu por 2 a 1. Na sexta partida, goleou por 4 a 0 o Brusque na Vila Viva Sorte – à época, ainda Vila Belmiro.
BATE A PREOCUPAÇÃO
Contra o América-MG, porém, veio nova decepção. A partida, realizada em Minas Gerais, foi repleta de polêmicas, uma delas no lance que tirou o goleiro João Paulo, um dos poucos que ainda detinha a confiança santista após o rebaixamento, de todos os jogos seguintes. Na ocasião, o dono da camisa 1 rompeu o tendão de Aquiles esquerdo. Lesionado, o jogador não foi poupado por Renato Marques, que fez o gol apesar das reclamações do adversário. O atleta do América foi acusado de deixar de lado o Fair Play. A partida acabou em 2 a 1 para os mineiros.
A partir disso, o Santos entrou em uma sequência de reveses. Perdeu em mais três partidas consecutivas: contra o Botafogo-SP, o Novorizontino e o Operário. Era o início da adaptação de Gabriel Brazão, contratado no início do ano, à equipe. Foi quando o elenco santista saiu, pela primeira vez, do G-4 da Série B – e a permanência do técnico Fábio Carille foi questionada.
O time passou, então, a perseguir as quatro primeiras posições do campeonato novamente. Dando a volta por cima, venceu o Goiás por 2 a 0 e ficou em um empate sem gols contra o Mirassol. Com um gol de Willian Bigode nos acréscimos do segundo tempo, o Santos venceu a Chapecoense e retornou ao G-4.
A volta ao topo da tabela proporcionou uma sequência de bons resultados. Até o fim do primeiro turno, os santistas permaneceram invictos. Venceram Ceará e Ituano, golearam por 4 a 0 o Coritiba e empataram com Vila Nova, CRB e Sport. O Santos estava, mais uma vez, na liderança, fechando a primeira metade do torneio com 10 vitórias, 4 empates, 5 derrotas e sendo o único time a ter saldo de gols acima de 10.
O CAMINHO ATÉ O ACESSO
No returno, o Santos mais uma vez estreou com vitória. Bateu novamente o Paysandu, dessa vez por 3 a 0. A volta positiva, porém, foi mais uma vez atrapalhada por uma derrota. Os santistas perderam por 1 a 0 contra o Avaí. Depois disso, foram três empates seguidos – contra Guarani, Amazonas e Ponte Preta – que colocaram novamente o nome de Carille em jogo.
Vencendo novamente o Brusque, dessa vez pelo placar menos elástico de 1 a 0, o Santos iniciou uma sequência de revanches: venceu o América Mineiro e o Botafogo-SP, apenas empatou com o Novorizontino e tornou a ganhar em partida contra o Operário.
A partir disso, teve um período de instabilidade. Na 30ª rodada, foi derrotado pelo Goiás por 3 a 1. Na partida seguinte, contra o Mirassol, venceu por 3 a 2. Voltou a perder em jogo contra a Chapecoense, pelo mesmo 3 a 2 feito em cima do Mirassol. Essa, no entanto, foi a última derrota no torneio. Em sequência, venceu Ceará, Ituano, o Vila Nova e, por fim, o Coritiba, em confronto que definiu o acesso.
SÉRIE B MAIS DIFÍCIL?
Em termos numéricos, pode-se dizer que o desempenho do Santos foi um pouco abaixo do feito pelos clubes que, nas temporadas passadas, foram os primeiros a conquistar o acesso à Série A. Em 2023, o Vitória conquistou a vaga na primeira divisão uma rodada depois do clube santista. No entanto, o número de pontos do time baiano era maior: o time tinha, na rodada do acesso, 72 pontos.
A pontuação foi conquistada por meio de 21 vitórias e 6 empates que o Vitória tinha na 36ª rodada. O Santos, por sua vez, possui, na mesma rodada, 4 pontos a menos. A equipe santista tem 20 vitórias e 8 empates.
Já o Cruzeiro, em 2022, fez uma das melhores campanhas da história da Série B. No terceiro ano de segunda divisão, o time mineiro garantiu sua promoção na 31ª rodada, com 68 pontos. Tinha acumulado 20 vitórias e 8 empates até a rodada de acesso.
A trajetória do Santos é muito mais semelhante a do Botafogo em 2021. O clube carioca garantiu o acesso à Série A quando alcançou os 66 pontos – dois a menos do que o Santos – na 36ª rodada. Os botafoguenses tinham o mesmo número de derrotas que os santistas têm hoje, uma vitória a menos e um empate a mais. Na 38ª rodada, é possível que o Santos alcance o exato mesmo resultado feito pelo Botafogo. Nos últimos três anos de Série B, o primeiro time a conseguir o acesso foi também o campeão da temporada.
O que talvez seja diferente entre a temporada do Santos e a dos demais clubes seja a competitividade dos clubes em cada ano. Em 2024, o segundo colocado figura apenas 5 pontos atrás do primeiro. Nos outros anos, Vitória esteve 8 pontos à frente do Criciúma na rodada de acesso. Já o Cruzeiro tinha uma folga inda maior, de 15 pontos.
Novamente, a situação santista se assemelha a do Botafogo. Na rodada do acesso, os cariocas estavam só dois pontos à frente do Coritiba. Ao fim do torneio, os botafoguenses conseguiram ampliar sua vantagem para cinco pontos de distância do segundo colocado. Os demais clubes do G-4 naquela ocasião saíram com praticamente a mesma pontuação: Goiás, em segundo lugar, tinha 65 pontos; Coritiba e Avaí, terceiro e quarto lugar, respectivamente, fecharam a Série B com os mesmos 64 pontos.