1977: Último título de primeira divisão do futebol maringaense foi há 47 anos; relembre


Por Felippe Gabriel

Na tarde de domingo do dia 2 de outubro de 1977, o futebol maringaense viu seu último título de primeira divisão ser conquistado no Campeonato Paranaense. Há exatos 47 anos, o Grêmio de Esportes Maringá (GEM) levantou a taça após bater o Coritiba na decisão, em pleno Couto Pereira, na capital paranaense.

Naquele ano, a final do estadual foi decidida em dois jogos. O primeiro, no Estádio Regional Willie Davids, terminou com vitória do Grêmio por 1 a 0, com gol do centroavante Itamar. Na partida de volta, o empate em 1 a 1 — novamente com Itamar indo às redes — garantiu o título parananese do Galo do Norte.

Histórica e — até hoje — insuperável, a campanha do título ficou longe de ser tranquila. Acumulando turbulências esportivas anteriores e maus resultados, o Grêmio Maringá precisou da estrela de seus principais jogadores e de um regulamento peculiar para chegar à glória. Relembre a história!

Foto: Acervo Maringá Histórica/Museu Esportivo de Maringá (MEM)

Os anos anteriores à conquista

Na década de 1960, o antigo Grêmio Esportivo de Maringá viveu sua era de ouro, conquistando o bicampeonato Paranaense, em 1963 e 1964, além do torneio nacional Robertinho, em 1969, considerada a segunda divisão do Campeonato Brasileiro na época.

Contudo, o clube não sobreviveu às dívidas e foi encerrado em 1971. No ano seguinte, foi refundado como Maringá Esporte Clube, utilizando azul e branco, as cores do maior rival Londrina. Dessa forma, o projeto não deu certo e durou somente até 1973. Uma nova tentativa se deu em seguida, quando o Esporte Clube Operário foi transformado em Grêmio de Esportes Maringá, em 1974, disputando o estadual a partir da temporada seguinte.

Com a vontade de ver o futebol da cidade retornar aos bons momentos, o então prefeito de Maringá, João Paulino Vieira Filho, solicitou ao Conselho Deliberativo do clube uma autorização para indicar alguém de sua confiança para administrar o Grêmio, com justificativa de que queria ajudar na montagem de um grande elenco.

Autorizado, Vieira Filho indicou Marcos Mauro Penna de Araujo Moreira, que era seu secretário, para a presidência do GEM. Além do apoio nominal, Moreira contou com recursos do poder público e buscou apoio de empresários da cidade.

Nesse cenário, o Grêmio chegou para o Paranaense de 1977 com um time estruturado e uma bagagem histórica que necessitava ser revivida pela torcida maringaense.

O campeonato

De acordo com o regulamento da campetição, a primeira fase era dividida em dois grupos, Norte e Sul, com oito equipes cada, que jogariam em dois turnos entre si. Os quatro primeiros colocados de cada grupo se classificariam para um octogonal, para jogar novamente em dois turnos e definir três vagas para a fase semifinal.

Já os quatro últimos de cada grupo da primeira fase jogariam a repescagem, em dois turnos, e os primeiros colocados dos grupos Norte e Sul fariam a final da repescagem. O vencedor, após dois jogos, garantiria a quarta e última vaga da fase semifinal.

Por fim, a semifinal era disputada em um formato de quadrangular, mais uma vez em dois turnos. O vencedor de cada turno se classificaria para a final, disputada em partidas de ida e volta e um jogo desempate se necessário.

Uma campanha de reconstrução

Engana-se quem pensa que o Grêmio, desde o início do campeonato, se impôs dentro das quatro linhas como se espera de um campeão — o time teve uma campanha pífia no primeiro turno, com duas derrotas, três empates e somente duas vitórias. Resultados ruins que se repetiram na segunda parte do campeonato, quando a tabela marcou três derrotas, dois empates e novamente apenas duas vitórias.

Durante esse período — de 27 de março a 15 de julho — o Grêmio assistiu à chegada e à queda de dois treinadores e à apresentação do renomado volante médio Didi. O meio-campista, vindo do Palmeiras, estreou na segunda rodada como a grande esperança da torcida. O treinador Nestor Alves, que questionou a contratação, foi trocado por Silvio Pirilo.

O meio-campista Didi, que depois de ser campeão pelo Grêmio Maringá, transferiu-se para o Atlético | Foto: Gazeta do Povo/Arquivo

Fadado a jogar a repescagem (popular “torneio dos perdedores”), o Grêmio se reforçou, contratando o técnico Wilson Francisco Alves, conhecido como Capão, e o atacante Itamar, que havia jogado no São Paulo e no Palmeiras, juntamente com Didi.

A torcida do Galo Guerreiro acompanhou de perto os reforços e mostrou entusiasmo com as contratações. Além de Itamar, vieram o zagueiro Cleber, o ponta Marquinhos e o meia canhoto Nivaldo. Era como se a chegada dos novos nomes, já consagrados em campanhas por outros clubes, fosse o prenúncio necessário para que o time engrenasse de vez no campeonato.

Nilo e Celso eram dois excelentes zagueiros. O meio-campo era o ponto alto: Didi, Nivaldo e Ferreirinha. Didi era o craque, o maestro, o mestre. Foi o jogador mais habilidoso que eu vi vestindo a camisa do Grêmio. Nivaldo tinha uma canhota fortíssima e sabia fazer lançamentos como poucos. O franzino Ferreirinha era o pulmão da equipe. Corria e marcava por ele, pelo Didi e pelo Nivaldo. No ataque, o pontinha Freitas era veloz e atrevido. Não era de finalizar, mas era um ótimo puxador de contra-ataques e bom nos passes e cruzamentos. Itamar era o comandante da linha de frente, um emérito goleador. Bom de pé direito, esquerdo e pelo alto. No gol, Wagner fazia seus milagres. Assis, Albérico, Cleber, João Marques, Bernardo e Marquinhos eram os coadjuvantes: pouca inspiração, mas muita vontade. E Wilson Francisco Alves, o Capão, no comando.

Antonio Roberto de Paula, curador do Museu Esportivo de Maringá.
Técnico Wilson Francisco Alves, o Capão | Foto: Acervo Museu Esportivo de Maringá

Repescagem

Após um começo de campeonato ruim, o time se acertou. De seis jogos, foram cinco vitórias e um empate, resultados que credenciaram o clube a jogar a final da repescagem contra o Rio Branco de Paranaguá em duas partidas.

No jogo de ida, em Maringá, Itamar, Marquinhos e Nivaldo marcaram na vitória por 3 a 0. Já na partida de volta, na casa do adversário, o empate em 1 a 1 (gol de Ferreirinha) foi o suficiente para o Grêmio se classificar para o quadrangular final contra nada mais nada menos do que os três grandes da capital: Coritiba, Atlético Paranaense (hoje Athletico) e o extinto Colorado Esporte Clube.

Quadrangular

Depois da classificação, a moral do grupo se elevou. Enquanto a imprensa esportiva da capital noticiava em suas manchetes a certa eliminação do Galo, o time de Maringá se calava e apostava na força coletiva para surpreender os adversários.

Assoprado o apito inicial, o time que sentiu na pele e na bola que o Grêmio não estava na briga para ser coadjuvante foi o Atlético. Em um jogo no Willie Davids, 1 a 0 para o time da casa. Gol de Itamar e renda recorde de Cr$ 750 mil para os cofres do clube.

As vitórias prosseguiram e, contra o Coritiba, no dia 4 de setembro, a torcida de Maringá proporcionou aquele que seria o maior recorde de público da história do futebol paranaense até então, quando 33.040 pagantes ajudaram o Galo do Norte a vencer o jogo por 2 a 1 e assegurar uma vaga na grande final do quadrangular.

No segundo turno do quadrangular, o Grêmio começou bem, batendo o Atlético fora de casa. Entretanto, os dois empates contra o Colorado (em ambos os turnos) e a derrota para o Coxa que vieram a seguir o impediram de decidir já naquele instante o campeonato, estendendo a decisão para um confronto final contra o Coritiba, campeão dos seis últimos campeonatos estaduais.

A grande final

Mais de 27 mil torcedores do Grêmio lotaram o Willie Davids na primeira partida da decisão, em 25 de setembro, e se calaram apreensivos quando um pênalti foi marcado para o Coritiba, ainda no primeiro tempo. Aos 39 minutos, o goleiro Wagner saiu mal, deu rebote e derrubou Washington na área. Aladim, um dos destaques do time da capital, cobrou, mas errou o alvo.

Como resposta, quando o relógio marcava 30 minutos da segunda etapa, o meio-campo Freitas cruzou na medida para o artilheiro do time, Itamar, cabecear e fazer o gol da vitória. Final: Grêmio Maringá 1×0 Coritiba.

O GEM foi a campo com Wagner; Valdir, Nilo, Cleber e Albérico; Didi, Nivaldo e Ferreirinha (João Marques); Freitas, Itamar e Marquinhos (Bugrão).

Fonte: Acervo Maringá Histórica

Caso o time curitibano vencesse a segunda partida, um novo jogo seria realizado, dessa vez em solo neutro, em Londrina. A confiança da diretoria do Coritiba era tamanha que se espalhou o boato de que já havia sido reservado um hotel a mando do Coxa para a concentração do terceiro jogo.

Esses detalhes só motivaram o Galo, que, se por um lado comemorava a vantagem de poder jogar pelo empate, por outro, estava desfalcado de quatro importantes jogadores de seu elenco principal: Celso, Didi, Ferreirinha e Bernardo.

A batalha derradeira

Na segunda partida da final, em 2 de outubro de 1977, o jogo estava truncado e o Grêmio perdia por 1 a 0, após Washington abrir o placar aos 11 minutos. João Marques e Assis substituíram Didi e Ferreirinha no time maringaense.

O Grêmio não tinha chutado a gol, até que, aos 35 minutos, uma falta no bico da grande área sofrida por Itamar mudaria a história. Ele mesmo cobrou e, com um chute rasteiro que passou por todo mundo, fez o gol do título, que, após 13 anos, acabou com a hegemonia dos times da capital e devolveu a taça de campeão para um clube do interior.

Herói, Itamar terminou como artilheiro do campeonato, ao lado de Edu, do Colorado, com 14 gols.

Jogadores saúdam a torcida do Grêmio no Couto Pereira | Foto: Museu Esportivo de Maringá/Reprodução

Festa da torcida

Muito presente em todo o campeonato, a torcida do Galo também compareceu ao Couto Pereira, palco da última partida, e roubou a cena com o título do Grêmio.

Depois de inúmeras ‘caravanas’ que tomaram Curitiba, com ônibus e carros, a torcida também invadiu ocampo após o apito final, tirando as redes dos gols, tirando as traves e tudo o que tinha direito. Uma verdadeira festa.

Segundo Itamar, a volta da delegação à Maringá, no dia seguinte, contou com escolta de torcedores por cerca de 15 quilômetros, desde o posto da polícia rodoviária, em Marialva, até o prédio da Prefeitura de Maringá.

Torcida do Grêmio Maringá invade o campo do Couto Pereira após a conquista do título, em 1977 | Foto: Museu Esportivo de Maringá/Reprodução

Confira todos os resultados do Grêmio Maringá no campeonato

Primeira fase

  1. GEM 2×2 Paranavaí
  2. Matsubara 1×0 GEM
  3. GEM 2×0 9 de Julho
  4. Londrina 2×2 GEM
  5. GEM 3×0 Umuarama
  6. GEM 0x0 União Bandeirante
  7. Centenário 1×0 GEM
  8. Paranavaí 1×0 GEM
  9. GEM 0x1 Matsubara
  10. 9 de Julho 2×1 GEM
  11. GEM 2×0 Londrina
  12. Umuarama 1×2 GEM
  13. União Bandeirante 1×1 GEM
  14. GEM 2×2 Centenário

Repescagem

  1. Paranavaí 0x3 GEM
  2. 9 de Julho 1×1 GEM
  3. GEM 5×0 Umuarama
  4. GEM 5×0 Paranavaí
  5. GEM 2×0 9 de Julho
  6. Umuarama 0x1 GEM

Finais da repescagem

  1. GEM 3×0 Rio Branco
  2. Rio Branco 1×1 GEM

Quadrangular semifinal

  1. GEM 1×0 Atlético
  2. Colorado 1×1 GEM
  3. GEM 2×1 Coritiba
  4. Atlético 0x1 GEM
  5. GEM 2×2 Colorado
  6. Coritiba 2×1 GEM

Finais

Campeões de 1977

(Em pé) Preparador físico Jair Henrique, médico Carlos Eduardo Sabóia Gomes, Wagner Valente, Valdir, Nilo, Cleber, Assis, Albérico, Duílio e Pedro Constantino; (agachados) Freitas, João Marques, Itamar, Nivaldo, Marquinhos e o massagista Bombinha | Foto: Museu Esportivo de Maringá/Reprodução
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