Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso site, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao acessar nosso portal, você concorda com o uso dessa tecnologia. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.

21 de novembro de 2024

A trajetória de Jorge Castilho até se tornar técnico do Maringá Futebol Clube


Por Felippe Gabriel Publicado 07/09/2024 às 19h51
Ouvir: 00:00

Na última quinta-feira, Jorge Castilho confirmou que continua do comando do Maringá FC para a temporada 2025, que foi coroada com o acesso à Série C após a excelente campanha na Série D, que ainda pode terminar em título.

Imagem do WhatsApp de 2024-09-01 à(s) 22.06.42_53cb2e57
Foto: Odair Figueiredo

Ao todo, Castilho esteve à beira do gramado em 110 partidas pelo Tricolor, somando 56 vitórias, 31 empates e 23 derrotas, o que significa um aproveitamento de 60,4%. No clube desde 2020, chegando para ser auxiliar técnico permanente, o treinador ainda não conquistou títulos efetivos, mas garantiu a volta do clube à elite estadual, dois vice-campeonatos paranaenses e o acesso à terceira divisão nacional.

Fora isso, o clube ainda alcançou uma inédita terceira fase da Copa do Brasil sob seu comando que, somado às outras campanhas, colocaram o Maringá FC em evidência do cenário do futebol brasileiro. Por isso, Jorge Castilho é considerado por muitos como o maior técnico da história do futebol maringaense.

O esporte sempre foi seu sonho

Jorge Luiz Fernandes Castilho nasceu em 6 de abril de 1982, na cidade de Guarujá, no litoral paulista. Desde muito cedo era envolvido com esportes, não só o futebol, e tinha o sonho de ser atleta.

“Sou nascido e criado em comunidade, com muita luta, muito sofrimento na criação dos pais. Comecei a jogar futebol com 11 anos de idade. Antes disso, durante esse tempo, joguei futebol, joguei basquete, fiz atletismo, mas ia para o lado do basquete. Por fim, parei de jogar basquete e dei sequência ao futebol”, conta.

Seguindo o caminho da carreira que queria para a sua vida, Castilho teve a oportunidade de jogar nas categorias de base do América Mineiro. Aos 15 anos de idade, o paulista viajou à Belo Horizonte na companhia de mais dois amigos, que não foram aprovados assim como ele. Assim, iniciava seu período longe de casa para se dedicar ao futebol.

“Como a minha família é mineira, então eu morava com a minha tia. Não tive tantas dificuldades, porque os parentes estavam lá, mas a distância da minha mãe e da minha avó prejudicava um pouco, naquela pouca idade, sair de casa. Mas isso me fez crescer como homem, e hoje eu agradeço muito por elas terem me autorizado ir para lá, porque o meu crescimento como um homem, como um pai, como um chefe de família, passa por esse momento que eu fiquei fora, longe delas”, revela.

Carreira como jogador foi curta

Ainda na base, Jorge Castilho trocou o Coelho pelo Villa Nova-MG e, pouco tempo depois, voltou para sua cidade natal para jogar pela Associação Desportiva Guarujá, clube que já tinha familiaridade na infância. Foi por lá que ele chegou ao profissional, até retornar à Minas Gerais e jogar pelo Real Esporte Clube de Caeté.

Seu último passo como jogador profissional de futebol se deu no VOCEM, de Assis (SP), em 2002, aos 20 anos de idade. Apesar de enfrentar problemas físicos, Castilho diz que outro motivo (um tanto sincero), contribuiu para sua decisão de abandonar a carreira de atleta ainda tão jovem.

“[Eu vi que as coisas não iriam dar certo] Quando eu percebi que eu era ruim pra caramba e eu achava que eu era bom [risos]. O joelho não atrapalhou em nada, eu poderia ter dado continuidade. É que eu vi que o futebol era muito difícil, não é como hoje, não tinha pessoas que pudessem me ajudar. Eu fui muito seguro na minha decisão e parei de jogar. O joelho foi só um ‘migué’ para parar de jogar”, disse.

Agora longe dos gramados, o então ex-atleta se via na obrigação de prover o bem-estar de sua família e para, isso, precisava ter uma segurança financeira. Castilho, então, começou a trabalhar em outras áreas, mas desejava ainda estar inserido no futebol.

O jovem técnico

A primeira oportunidade como técnico veio em no fim da década de 2000, em uma escolinha de futebol em Guarujá. A partir daí, passou a ser técnico de categorias de base, passando por Portuguesa Santista, São Vicente Atlético Clube e o próprio AD Guarujá, todos em São Paulo.

“Era um sonho ser atleta. A partir do momento que o meu sonho ficou cada vez mais distante, fui procurar outras atividades para trazer um sustento. E aí eu continuava com uma atividade e trabalhando no futebol como treinador, porque era um sonho estar envolvido, de estar inserido nesse processo. E é uma coisa que eu não escolhi. Foi Deus que me deu esse dom de trabalhar com futebol e estamos seguindo até hoje”, conta.

Castilho chegou ao profissional como treinador em 2014, no AD Guarujá. Na mesma época, até meados de 2020, ele treinou as categorias de base da Prefeitura de Guarujá. Lá treinava os advogados da Seleção Paulista e chegou a disputar o Campeonato Brasileiro da categoria como técnico da Seleção Paulista.

Nesse período, Jorge Castilho também montou um projeto social em sua cidade, chamado JL Sports Academy, focado em tirar crianças em situação de rua e dar a elas a oportunidade de ter uma vida no esporte. Alguns jogadores profissionais mais conhecidos que já passaram pelo projetode Castilho foram o zagueiro Vilar (ex-Maringá FC e hoje no Avaí), o atacante Walace (que passou pela base do Flamengo e hoje joga no Sub-20 do Athletico) e o atacante Alef Manga (ex-Coritiba).

Infelizmente, o projeto está parado desde o ano passado, pois o treinador não tem a possibilidade de voltar à Guarujá para reativá-lo. O treinador revelou se sentir frustado por isso, mas disse que tem o desejo de retornar.

“Eu trouxe o Fábio [Pantoja] para cá [Maringá FC] também, que é quem cuidava das coisas enquanto eu não estava, mas era um projeto de tirar mesmo a criança da rua. Já chegamos a ter 180, 200 meninos, treinando de sete a 21 anos. Conseguimos tirar muitos, conseguimos salvar muitos atletas da periferia, das drogas, alguns a gente não conseguiu, mas era um projeto bacana, um projeto vencedor dentro da cidade, onde disputávamos muitos campeonatos e ganhávamos também. É uma pena por não ter quem dar continuidade lá, a gente ter parado, isso é uma frustração que eu tenho, mas eu tenho certeza que em breve a gente vai retornar”, contou.

Chegada ao Maringá FC

O convite para integrar a comissão técnica do Dogão veio em 2020, para o cargo de auxiliar. Uma realidade distante, bem longe de casa e uma desafio completamente novo em um clube com poucos anos de história. Nada disso deu desconfiança a Castilho, que veio acreditando fielmente no projeto.

Imagem do WhatsApp de 2024-08-31 à(s) 15.43.00_1e3d8658
Foto: Rodrigo Araújo/MFC

A ponte entre o clube e ele se deu pelos advogados que treinava em São Paulo. “Dois dos advogados fizeram uma parceria aqui com o clube e eles me fizeram um convite para vir junto com eles, como auxiliar, até para ter uma pessoa da confiança deles. Eu abri mão do trabalho da prefeitura, acreditando no projeto. Mas eu aceitei logo de primeira, porque eu acreditava muito nas pessoas que vinham para o projeto”, revelou.

Nesta temporada, o Maringá FC disputava a Divisão de Acesso do Campeonato Paranaense e após a saída do técnico Beto Portella, Castilho foi convidado a assumir o time nas rodadas finais. A equipe liderou a primeira fase e avançou para as semifinais e depois para a final. O título não veio, mas o acesso à primeira divisão foi garantido.

Em 2021 o mesmo cenário voltou a se repetir. Substituindo Marcos Soares na quinta rodada do estadual, Castilho fez boa campanha e levou o Tricolor até as quartas de final daquele torneio. Desde então, ele é o técnico principal do Maringá Futebol Clube.

Castilho, que não pensava em ser o treinador principal depois da primeira experiência na temporada anterior, começou a reconssiderar a possibilidade.

“Em 2020 a minha intenção era continuar como auxiliar por uns 4 ou 5 anos. E também quando assumi em 2021 não tinha pretensão nenhuma de ser o treinador. Só que não sou eu que decido, é Deus que decide, Ele me colocou nesse caminho. […] Depois que a gente tira o time da zona de rebaixamento e chega às quartas, eu cheguei para o diretor e falei ‘acho que agora é a minha vez’. Ele aceitou, entendeu e deu muito certo”, explicou.

Finalmente efetivado, Castilho comandou a equipe em sua melhor campanha no Paranaense até aquele momento, quando foi vice-campeão pela primeira vez, perdendo para o Coritiba na decisão. Como não havia mais calendário para o clube a partir de abril, o treinador precisou arrumar outro lugar para tirar o seu sustento.

Passagem pelo Ipatinga

De volta à Minas Gerais, Jorge Castilho se tornou treinador do Ipatinga, que disputava o o Módulo II do Campeonato Mineiro, a segunda divisão. O acordo era apenas para aquela competição, com ele retornando ao Maringá para a próxima temporada.

Reconheido nacionalmente, o Ipatinga amargava onze temporadas longe da elite mineira e buscava o acesso a todo custo, confiando em Castilho para isso. A aposta deu certo e, após 21 jogos, o Ipatinga retornou à primeira divisão. Foram 10 vitórias, seis empates e cinco derrotas no campeonato, termiando no segundo lugar no haxagonal final.

“Surgiu essa proposta do Ipatinga, é um time que tem um nome muito forte no cenário nacional, não estavam muito bem nas pernas. Inclusive quando eu chego lá, dois dias depois, o clube abre falência. Só que foi a única proposta que me surgiu naquele momento, eu aceitei, acreditei que as coisas podiam dar certo. Levei o Fábio Pantoja, ele acreditou mais que eu que as coisas dariam certo, que por mim eu teria vindo embora. Graças a Deus as coisas aconteceram, surgiram gente para bancar o projeto e eu tinha que disputar o campeonato, mas com muita dificuldade, dificuldade financeira, dificuldade no geral e estrutura, mas conseguimos fazer um grande trabalho. Para a minha carreira foi importantíssimo, abrir um outro mercado, entrei para a história de um clube que já tinha uma história dentro do cenário nacional, tive uma evolução como profissional e eu acho que acrescentou muito para minha carreira”, contou.

Estreia no cenário nacional

De volta ao Maringá FC, a temporada de 2023 proporcionou momentos históricos ao clube, mas não terminou da maneira como todos gostariam. O time chegou à semifinal do Paranaense e estrearia na Copa do Brasil e no Brasileirão Série D.

Pela copa, um feito inimaginável foi alcançar a terceira fase da competição, vencendo o primeiro jogo em casa contra o Flamengo, por 2 a 0. A volta no Maracanã veio com goleada, por 8 a 2, mas não diminuiu o que havia sido feito. Já o desempenho na Série D foi mais decepcionante, parando ainda na segunda fase depois de ser eliminado pelo Camboriú nos pênaltis.

Para Castilho, o ano foi de aprendizado e serviu de base para o sucesso da temporada seguinte. “Em 2023 nós tivemos uma ascensão desportiva muito boa, principalmente no primeiro semestre, passamos a ser mais reconhecidos no cenário nacional. Na Série D, uma eliminação precoce no primeiro mata-mata, onde nós tínhamos condições de passar e buscar o acesso, mas serviu muito de aprendizado para nós. Nos calejou para 2024 e começamos o ano muito forte”, disse.

Enfim o objetivo

Em mais uma tentativa de buscar o título paranaense e o acesso na Série D, o Maringá veio mais forte para a temporada e melhorou seus resultados. Novamente, foi vice-campeão do estadual, ao ser derrotado pelo Athletico na decisão. Pela Copa do Brasil, passou pelo América Mineiro em um resutado improvável, mas parou no Amazonas na segunda fase.

Sobrando a Série D, apenas o acesso seria satisfatório para os maringaenses. A conquista veio próxima da marca de 100 jogos de Castilho do comando da equipe, e coroou uma campanha fantástica que ainda pode ser melhorada com o título nacional.

“100 jogos é uma marca gigantesca dentro do futebol nacional, poucos treinadores conseguem fazer essa marca no mesmo clube. A gente sabe o quanto é difícil, porque existe essa questão de treinador com três derrotas ser demitido, e aqui no Maringá o que faz a diferença é isso, é a permanência do trabalho, a sequência do trabalho. Eu acho que todo profissional de futebol sonha com isso, e aqui eu sou privilegiado, minha comissão é privilegiada de ter uma diretoria que entende isso”, disse o treinador.

maringafc_1725387214_3449120401907321668_2216905875
Foto: Fernando Teramatsu/Well Medeiros/MFC

Além do primeiro título, Jorge Castilho ainda sonha com uma carreira de técnico no mais alto nível. Ele conta que quer “levar o Maringá ao lugar mais alto possível dentro do cenário nacional” e busca atingir tudo aquilo que o um treinador pode alcançar. “Dirigir um time numa Série A, esse é o maior sonho”, conta.

Para isso, o técnico se dedica aos estudos do futebol e vai em busca das Licenças da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para se consolidar no cenário do esporte. Atualmente, Castilho possui a Licença B e nas próximas semanas vai realizar aulas presenciais para adquirir a Licença A, que o credenciará para trabalhar em clubes da Série A e B, além das competições da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol).

Curiosidades

Técnicos que são inspirações para a sua carreira:

“São vários. Eu tenho como referência Felipão, Tite, [Vanderlei] Luxemburgo, pra mim são os três principais. É uma escola que eu passei a admirar, passei a entender e buscar como que eles faziam, pegando um pouquinho de cada um pra que as coisas se ajustassem dentro da minha profissão, mais a minha linha, mais o que eu penso sobre futebol. Então são essas três referências. Também gosto muito do Muricy Ramalho, gosto muito do [Fábio] Carile. Gosto muito de acompanhar os técnicos brasileiros, porque nós temos o melhor. Hoje podemos não ser o melhor futebol do mundo, mas nós temos os melhores, fizemos história durante muito tempo e temos que privilegiar o futebol brasileiro”, contou Castilho.

De onde vem o estilo de jogo agressivo e com marcação ‘um a um’?:

“Começou com um bate-papo das pessoas que compraram aqui a ideia quando vieram em 2020. Nós fomos adaptando juntos a questão da marcação individual, nós fomos trabalhando em cima disso. Tiramos um pouquinho da ideia de marcação individual do basquete também e fomos ajustando, acompanhando algumas equipes que já faziam. A maneira hoje de jogar com os extremos de ala, aí surgiu nossa mesmo em conversas e necessidade de momento e as coisas deram certo. E é o DNA do clube, é o meu DNA, de querer vencer, de querer marcar firme, de querer estar sempre numa marcação alta, eu levei esse modelo para o Ipatinga e deu muito certo lá também. No início as pessoas não acreditam muito, até hoje muitos não acreditam, só que nós estamos na nossa convicção, nós vamos acreditar nela e vamos nela até o final”, explicou.

Títulos de Melhor Treinador do Paranaesne 2024 e Mérito Comunitário pela Câmara de Vereadores de Maringá:

— “É importante para o treinador de futebol, ainda mais no meu caso que estou iniciando uma carreira efetivamente, esses prêmios, essas conquistas, é importante. Nos fortalece cada vez mais a trabalhar, aumenta um pouquinho a régua, nos faz ficar sempre alerta, nos faz buscar mais entendimento, mais estudo e é importante para a carreira. Estou feliz de receber um prêmio na Câmara também, de uma cidade tão importante, tão bonita, tão rica em vários recursos, é importante para mim também ser reconhecido”, finalizou.

Jorge Castilho volta ao comando do Maringá FC neste domingo, 8, às 16h, contra o Anápolis, pela partida de ida da semifinal do Campeonato Série D.

Pauta do Leitor

Aconteceu algo e quer compartilhar?
Envie para nós!

WhatsApp da Redação