Mesatenistas de Maringá participam de campanha histórica do Brasil na Gymnasiade 2024
O Brasil teve campanha histórica na maior competição esportiva estudantil do mundo, a Gymnasiade 2024, realizada no Bahrein, entre 23 e 31 de outubro. A delegação brasileira, que contou com cerca de 500 pessoas, foi responsável por colocar o país no topo do ranking de medalhas, com 163. Foram 52 de ouro, 61 de prata e 50 de bronze.
O resultado garantiu o Brasil à frente da China, que terminou com 53 ouros e 90 medalhas no total, além do primeiro lugar geral pela segunda vez consecutiva. Em 2023, os brasileiros já haviam ficado no topo do quadro de medalhas na Gymnasiade sub-15, realizada no Rio de Janeiro. Agora, repetem a dose na sub-18.
Representado por esportistas de todos os cantos do país, o time brasileiro contou com a participação de dois maringaenses pela primeira vez. A atleta Maria Beatriz Herek Alves, a Bia, de 16 anos, e o técnico Vinícius Okuzono, de 39 anos, fizeram parte da equipe nacional do tênis de mesa, e contribuíram para o melhor resultado da história brasileira da modalidade no Gymnasiade.
Tênis de mesa brasileiro fez história
Vinícius contou com a colaboração da técnica Gersoni Fernandes, de Jaú-SP, para comandar oito mesatenistas no Bahrein, em competições por equipes e individuais. A equipe feminina conquistou um 6º lugar entre 13 equipes competindo, enquanto na disputa masculina, o time brasileiro terminou no 5º lugar, em um total de 22 equipes.
Já na competição individual, Maria Fernanda Yukie Matsumura Tamura chegou às quartas de final da chave feminina, assim como Julia Yumi Hatakeyama. Na chave masculina, Vitor Yudi Seii Iwamoto e Felipe Faustino de Lara, de Londrina, pararam na fase de oitavas de final, enquanto Tarcísio Theo Souza Castro Cruz Felix e Davi Koji Fujii ficaram na 2ª rodada.
Completaram a equipe as paranaenses Maria Beatriz Herek Alves, de Maringá, e Melissa Aika Aoyama, de Rolândia, que caíram na fase de grupos do individual. Ao lado de Felipe Lara, os três colocaram o Paraná como o estado brasileiro que mais levou representantes entre as oito vagas.
“O torneio era de altíssimo nível, os melhores jogadores escolares de quase todos os países estavam nesta competição. Fomos todos muito bem, ganhamos de diversos países, e em praticamente todos os quais perdemos foram para os chineses, que estão em outro patamar. Na modalidade de tênis de mesa conseguimos o melhor resultado da história”, explicou Vinícius Okuzono.
“Foi meu primeiro campeonato internacional e eu acho que meu desempenho foi bom para minha estreia. Minhas expectativas estavam muito altas e foram, felizmente, cumpridas. Fiquei satisfeita que pude mostrar meu esforço e talento no individual e na equipe, sinto que fiz minha parte. O nível das meninas que estavam jogando lá era altíssimo e fiquei animada porque percebi o tanto que posso evoluir ainda”, disse Bia Alves ao avaliar sua participação na competição.
Os maringaenses no Bahrein
A classificação para o Gymnasiade 2024 aconteceu em maio, na seletiva nacional de Aracaju, no Sergipe. Antes, Bia Alves havia sido campeã da seletiva paranaense, comandada por Vinícius, que foi selecionado para ser o treinador da equipe feminina paranaense na competição nacional.
A seletiva na capital sergipana concederia quatro vagas para o mundial. Dentre 90 atletas, o Paraná conseguiu duas vagas, com Bia (vice-campeã) e Melissa Aoyama (terceiro lugar). No masculino, sob o comando do técnico Willian Kumagai, Felipe Lara conseguiu o quarto lugar entre 100 competidores e também garantiu vaga ao mundial.
“Eu e mais quatro amigas e quatro amigos aqui do Paraná conseguimos a vaga para participar da seletiva nacional. E confesso que eu não sabia que estava valendo a vaga para um mundial. Quando cheguei em São Paulo para a concentração da delegação, foi quando caiu minha ficha, de onde eu estava e o que eu tinha conquistado”, conta Bia Alves.
Pelo expressivo desempenho paranaense, os representantes do estado tiveram prioridade na eleição do técnico que comandaria a seleção brasileira no Gymnasiade, e a escolha se deu por Vinícius Okuzono. O segundo técnico foi uma escolha de São Paulo, que teve dois atletas classificados.
Classificados, a preparação para os jogos no Bahrein foi feita individualmente por cada atleta do tênis de mesa. O único momento em que toda a equipe se reuniu para treinar foi em Guarulhos, já a caminho do Oriente Médio.
“Minha preparação começou logo que retornamos do campeonato nacional. Mas por eu ser estudante também o ritmo de treinos acabou não se elevando muito. Continuei treinando todos os dias, porém a qualidade do treino melhorou. Por ter um objetivo claro, tive mais foco para meu melhor desempenho nos treinos”, explicou Bia.
Rotina com competição e integração
Durante a semana em que estiveram no país do Oriente Médio, Vinícius, Bia e o restante da equipe de mesatenistas tiveram quatro dias de competições, intercalados com momentos de descanso, usados para “turistar” e se misturar às diversas culturas que estavam presentes.
O Gymnasiade 2024 no Bahrein foi um verdadeiro festival de integração, graças aos esportistas de 71 países diferentes. Para Vinícius, toda a experiência foi um aprendizado cultural único.
“O dia da abertura foi maravilhoso. Todos os países em um estádio, com danças, todas as delegações entrando no estádio, com porta-bandeiras, como um desfile mesmo. Apresentações culturais e queima de fogos de 5 minutos, sincronizadas com a música tema da competição”, disse.
Entre os dias de competições por equipes e individuais, os brasileiros puderam participar do ‘Dia Cultural’. “Foi espetacular. No complexo esportivo, com apresentações culturais de cada país participante, e trocas de agasalhos e souvenires. Uma integração impressionante, e um aprendizado cultural único!”, contou o treinador. Ao fim dos jogos, a equipe ainda visitou pontos turísticos de Manama, capital do Bahrein, como o autódromo utilizado pela F1.
Em meio a tudo isso, Bia ainda pôde comemorar seu aniversário de 16 anos durante os jogos. Para ela, que nunca havia passado a celebração longe da família, seus companheiros de equipe a fizeram se sentir em casa.
“Foi uma experiência única, uma realização de um sonho. O contato com pessoas diferentes de vários países e até mesmo de outros estados do Brasil. Conheci lugares que nunca tinha ido e o contato com as pessoas foi com certeza o ponto alto. Quando chegamos em Bahrein, foi um dos momentos mais satisfatórios e gratificantes da minha vida. Depois disso, tudo era novo e muito lindo”, contou Bia.
Carreira dos mesatenistas maringaenses
Técnico de tênis de mesa desde 2014, Vinícius Okuzono foi atleta da modalidade entre 1998 e 2003, disputando competições universitárias e nacionais. Na volta ao esporte, passou a treinar a seleção maringaense e, em 2018, inaugurou seu próprio centro de treinamento, o Streetpong Maringá.
Foi onde conheceu Bia Alves, no ano de 2019. “Comecei a treinar entre 2020 e 2021, mas com a pandemia foi um pouco difícil. Depois que já estava liberado sair de casa e voltar às nossas vidas normais, eu comecei a treinar mais forte. Eu jogo representando o Streetpong”, explicou a atleta de 16 anos.
Bia conta que conheceu o esporte por conta do filho de uma amiga de sua mãe. Em um jogo em que ele estava presente, a família de Bia foi assistir e convidaram a jovem para treinar, pois, segundo ela, “não tinham muitas meninas”.
Apesar do começo despretensioso, os talentos de Bia logo foram percebidos pelo seu treinador Vinícius. “Logo de cara já percebi as características dela, e montamos um plano de jogo diferenciado, de acordo com sua personalidade e melhores fundamentos. Na primeira competição, ela já conseguiu vaga para o brasileiro escolar, no Rio de Janeiro. Depois disso a evolução foi constante, ganhando espaço no cenário municipal, estadual e nacional”, conta o treinador.
“Sou muito grata por todo o apoio que recebo, especialmente do meu técnico, o Vinícius. Acho que não teria pessoa melhor para ser meu treinador. Temos uma relação muito boa e fico feliz que ele não coloca pressão em mim. Acho que a melhor coisa que podia ter acontecido e aconteceu foi ele ter ido comigo para o mundial. Foi uma realização muito grande tanto para mim quanto para ele, e acho que crescemos muito indo juntos para o outro lado do mundo”, revelou a mesatenista.
Incentivos
Nesta temporada, Bia Alves ainda vai competir no TMB Platinum de Seleções Estaduais, realizado em Chapecó. Este será o último campeonato do ano, desde que começaram a acontecer em março.
“Esse ano foi meu primeiro ano jogando sub-19, o que eu e meu técnico achávamos que seria um desafio, e realmente foi. Porém, por ter uma dificuldade maior consegui manter meu ótimo desempenho e conquistei várias medalhas ao longo do ano e agora busco um bom resultado no Campeonato Brasileiro de Seleções”, disse.
Com a intensidade das competições, Bia precisa aliar sua vida de atleta com a de estudante, algo que só é possível graças ao apoio da família e da escola onde estuda em Maringá, o Colégio Pro.
“Minha escola é bem flexível e compreensível com meus horários de treinos e tolera minhas faltas quanto tenho que ir para campeonatos no meio da semana. Eu fico feliz com esse apoio porque não são muitas as escolas que apoiam o esporte. Eles me ajudam muito a recuperar as matérias e as provas perdidas”, explicou Bia.
Para Vinícius, o apoio é essencial para a atleta. “É imprescindível o apoio dos pais, seu pai Alessandro e sua mãe Andréa, que sempre nos ajudaram em viagens, transportes, apoio em tudo no que foi possível. Isso é de muita importância”, conta.
A contribuição de Vinícius para o tênis de mesa maringaense
Com grande relevância nacional, o tênis de mesa de Maringá sempre revelou grandes atletas para o cenário nacional. Não à toa, a cidade foi sede de dois torneios brasileiros no ano passado e cada vez mais se coloca como um grande polo, muito pela contribuição de Okuzono e sua escola, a Streetpong.
A equipe do centro de treinamento já foi campeã brasileira e, constantemente, tem atletas convocados para representar o estado do Paraná em competições. Além disso, a escola promove torneios municipais, universitários e torneios abertos.
“Atualmente, em parceria com a Prefeitura de Maringá, através do Esporte para Todos, com a assinatura da Asumar, Associação dos Surdos de Maringá, trabalho como técnico da seleção maringaense de tênis de mesa dos surdos. Conseguimos 26 medalhas em três etapas neste ano, e trabalhei também como técnico da seleção paranaense de surdos, em Cuiabá, no Campeonato Brasileiro, onde conseguimos três medalhas”, explicou Vinícius.
O treinador também revela que criou o Streetpong Maringá para criar oportunidades e um ambiente saudável para pessoas de todas as idades e condições – crianças, adultos, idosos, pessoas com deficiência físicas e cognitivas.
“O tênis de mesa é um esporte amplamente inclusivo, e conseguir que todos pudessem ter a oportunidade de conhecer o esporte, e se encontrar em um lazer, um exercício, sempre foi prioridade. [Outro objetivo] era colocar algum atleta, formado ali, na seleção brasileira, que já é muito concorrido. O de ser técnico, representando a seleção brasileira mais difícil ainda. E com essa competição [Gymnasiade], consegui os dois objetivos de uma vez só”, disse o maringaense.
Vinícius Okuzono ainda vê o cenário um esporte que precisa de mais apoio e incentivo, tanto do poder público como de patrocinadores privados.
Gymnasiade 2024
A 18ª edição da Olimpíada Internacional do Desporto Escolar, promovida pela International School Sport Federation (ISF), reuniu cerca de 6 mil estudantes-atletas de 71 países diferentes, que disputaram o lugar mais alto do pódio em 26 modalidades esportivas.
A delegação brasileira organizada pela Confederação Brasileira do Desporto Escolar (CBDE) contou com quase 500 pessoas, entre estudantes, técnicos, árbitros, equipe médica, comunicação, autoridades políticas e esportivas, sendo a maior da história do país em uma Gymnasiade.
Entre os 240 atletas, estiveram também 28 representantes paralímpicos, que conquistaram 55 pódios. Ao todo, foram 27 medalhas de ouro, 17 de prata e 11 de bronze, conquistadas no atletismo, natação e judô.
Esta foi a terceira edição na qual a Gymnasiade teve atletas paralímpicos. Em 2023, o país contou com 12 nadadores e conquistou 19 medalhas, sendo cinco de ouro, sete de prata e sete de bronze.
Para o Brasil, o torneio se mostra como um excelente campo de testes para identificar novos talentos que, no futuro, poderão representar o país em competições de maior envergadura, como os Jogos Olímpicos e Mundiais. O evento tem sido um ponto de partida para muitos atletas que, após se destacarem na competição escolar, conseguem projetar suas carreiras no esporte profissional.
A Gymnasiade acontece todos os anos, sempre intercalando entre sub-18 e sub-15. O Brasil vem de duas campanhas marcantes. Em 2022, na Normandia-FRA, conquistou 126 medalhas, ficando na segunda colocação geral. Ano passado, foi anfitrião da Gymnasiade sub-15, realizada no Parque Olímpico, no Rio de Janeiro. O país foi o campeão geral com 282 medalhas.
A próxima edição da competição será em 2025, no mês de abril, em Belgrado, na Sérvia, e será sub-15.
Com informações de CBTM, CBDE, CPB e ge.globo.