Nos bastidores: técnicos maringaenses são convocados para Paris
Além dos atletas maringaenses que integrarão a comitiva brasileira nas Olimpíadas e Paralimpíadas, dois talentos esportivos da cidade foram convocados para atuar nos bastidores, como técnicos, preparando aqueles que estarão nas disputas por medalhas.
Paulo Saçaki é um deles. Ele cresceu em meio à adrenalina: o pai era piloto profissional de motocross e foi nessa modalidade que Saçaki começou, aos quatro anos. Aos 16 ele conheceu o BMX, também conhecido como “bicicross”, que é tido como a modalidade mais “jovem” do ciclismo. “Tinha uma pista perto de casa e eu comecei a andar de vez em quando. Peguei gosto e oito meses depois eu fui para uma competição e ganhei. Aí percebi ‘essa é a minha paixão e é isso o que eu quero fazer da vida’”, conta.
No ano seguinte ele se tornou profissional. Andava de bicicleta de manhã, à tarde e à noite. Foi para fora do Brasil disputar o mundial, morou na Itália, começou a viajar pelo esporte e nunca mais parou. Hoje ele é atleta profissional de BMX Freestyle e técnico da Seleção Brasileira. “No ano passado, durante uma competição para somar pontos, eu caí e quebrei o fêmur, então fiquei fora de três campeonatos importantes, como a Copa do Mundo e o Mundial, então não conseguiria atuar como atleta da Seleção. E veio o convite então da Confederação Brasileira de Ciclismo para ser o treinador do time e eu aceitei porque sabia que a gente tinha muita capacidade de levar algum atleta para Paris”. O aceite para virar técnico veio em janeiro de 2024.
“A gente foi para o Japão em fevereiro, na Copa do Mundo, para o Pré-Olímpico na China e agora, por último, para a Hungria, onde conseguimos a vaga pelo Gustavo Bala Loka. São apenas 12 vagas para o mundo e a gente embarca dia 22 para a competição. Eu sempre falei que meu objetivo era estar nas Olimpíadas. Não estou indo como atleta, mas como técnico e estou conseguindo passar um pouco da minha experiência e ajudar para a gente fazer o melhor resultado possível”, diz Saçaki. Enquanto a data de embarque não vem, os treinos são em São Bernardo do Campo, no interior de São Paulo. “Estamos treinando forte. Tô andando de bike junto com ele, puxando a orelha, para a gente fazer o melhor e, se Deus quiser, voltar com uma medalha para o Brasil”, diz.
Paulo Saçaki vive em Maringá desde 2015. “Escolhi por ser uma cidade muito boa e hoje temos o melhor centro de treinamento BMX Freestyle do Brasil.” Os treinos da Seleção Brasileira de BMX Freestyle em preparação para as disputas pré-olímpicas foram no município, em abril deste ano. Foram cinco dias de treino no Centro, que fica no Conjunto Requião. A escolha do local foi por conta do layout da pista, que tem semelhança com as que o time encontraria mais tarde na China e na Hungria.
O BMX Freestyle estreou na Olimpíada 2020, em Tóquio, mas o Brasil não teve representante. Em Paris, a competição da modalidade acontecerá em um parque urbano, onde os pilotos realizarão o máximo de manobras possíveis em 60 segundos. A pontuação é com base na dificuldade das manobras, na altura dos saltos e na criatividade e estilo das apresentações.
Nos bastidores das Paralimpíadas
E depois das Olimpíadas, vêm os Jogos Paralímpicos, onde destacam-se as irmãs maringaenses Débora e Beatriz Borges Carneiro na natação, que chegarão à capital francesa acompanhadas pelo técnico André Yamazaki.
A trajetória de André no esporte começou como atleta da natação dos 12 aos 19 anos. Ele entrou no curso de Educação Física na Universidade Estadual de Maringá já com o objetivo de ser treinador, com o anseio de desenvolver nos atletas aquilo que ele não pôde. “O treinador que foi ex-atleta tem esse perfil de buscar algo mais, algo diferente, que não conseguiu conquistar na sua carreira de atleta”, diz.
O trabalho dele com as “gêmeas da natação” começou há 10 anos. Ele estava terminando o curso de Educação Física e auxiliava na Associação de Pais e Atletas da Natação de Maringá (Apan Maringá), que é a mesma equipe em que os três permanecem até hoje. “Foi bem desafiador para mim. Eu era bem jovem, estava iniciando no mundo profissional, e já assumi a equipe inteira de Maringá, tanto a convencional quanto, no caso das meninas, o paralímpico”.
Até então, Débora e Beatriz treinavam junto dos outros atletas. “Aos poucos fui entendendo algumas limitações e como eu poderia potencializar os resultados delas”, relembra. Em 2015 a rotina das irmãs foi transformada. Elas iniciaram um trabalho de preparação física, que não existia, e também as dobras de treino, que os atletas profissionais fazem e elas não tinham. “De duas a três vezes na semana elas têm mais de um treino na água por dia, totalizando nove sessões semanais só na água. Foi uma mudança muito positiva que a gente fez na qualidade do treino para que eu pudesse dar mais atenção aos atletas que estavam se destacando e foi um divisor de águas. Elas tiveram mudanças dentro de casa, na parte nutricional, e de entender que elas tinham potencial para serem atletas paralímpicas de nível internacional”, conta o técnico. Os resultados vieram rapidamente. “Em um, dois anos, elas já estavam entre as melhores atletas jovens, do sub-20, e logo estavam beirando o top 10 do mundo do absoluto”.
Um dos desafios do início era fazer as atletas, que têm deficiência intelectual, assimilarem as estratégias de prova. “A gente veio trabalhando isso ao longo dos anos e hoje elas já entendem perfeitamente o que é preciso fazer para nadar forte e nadar bem, com entendimento das intensidades de treino. Porque um treinamento de natação você não pode fazer o tempo todo forte ou de intensidades mais leves. Essas variações de intensidade eram um pouco complicadas e elas não entendiam muito no começo. Existem os ritmos que a gente precisa de acordo com cada prova e de cada fase do treinamento. E foi muito legal, porque elas se desenvolveram no tempo delas e hoje, para as principais provas, elas já conseguem executar muito bem o que eu peço”, revela o treinador.
Na preparação dos jogos, a atenção está nos detalhes. “A gente tenta tirar todo o centésimo possível, fica em cima do trabalho submerso, da filipina, da virada, da chegada da saída, que é onde a gente pode fazer um diferencial para que na hora da prova a gente consiga ter um bom resultado e elas possam chegar ao pódio. Nossa expectativa, com certeza, é pódio”, afirma. As gêmeas foram campeã e vice-campeã mundiais – Débora em primeiro e a Bia em segundo lugar – ano passado em Manchester. E a intenção é repetir essa dobradinha nas Paralimpíadas. “Elas foram bronze em Tóquio e a nossa expectativa é para que elas sejam ouro e prata ou, porque não, como a natação tem a possibilidade de empate, embora muito difícil, mas seria perfeito ver as duas gêmeas batendo na frente juntas”, sonha o treinador, relatando a possibilidade de ouro duplo.
Dia 01 de setembro Beatriz Carneiro participará do revezamento, com outros três integrantes da seleção, e no dia 02 as irmãs disputam a prova dos 100 metros peito.