Perspectiva cristã do esporte
Em tempos de confinamento provocado pela pandemia, muitas atividades mesmo dentro de casa foram necessárias, envolvendo de maneira especial os idosos e crianças. Como nunca, sente-se hoje a necessidade da prática esportiva, em ambientes abertos, com a participação de amigos e companheiros, para fazer desta atividade uma oportunidade de novas relações rompendo a solidão e abrindo para amizades verdadeiras.
Na última copa mundial, o Vaticano, por meio do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, apresentou ao mundo a valiosa contribuição da Igreja Católica para o debate sobre o mundo esportivo. Intitulado como “Dar o melhor de si”, o documento mostra a atenção da nossa Igreja com relação ao tema e quer “oferecer uma perspectiva cristã do esporte, voltando-se para aqueles que o praticam, para aqueles que o assistem como espectador, para aqueles que o vivenciam como técnico, árbitro, treinador, famílias, padres e as paróquias”.
Todos nós, torcedores, que gostamos de futebol, em especial, muitas vezes não enxergamos no esporte o devido valor que ele pode oferecer para nós, como sociedade. Nos cinco capítulos e nas 50 páginas do documento, se analisa, em síntese a história do fenômeno esportivo, se oferece uma leitura antropológica do ponto de vista dos valores e outra sobre os desafios e desvios do esporte – entre as quais o doping e a corrupção – para concluir com uma descrição do papel desempenhado pela Igreja neste setor, considerado um moderno Pátio para a evangelização.
O que interessa no fundo é reiterar que não há um “esporte cristão”, mas certamente é legítima “uma visão cristã do esporte”. Por esta razão, reafirma-se que a Igreja – como repetidamente ensinada nas últimas décadas, em particular por João Paulo II, – não se limita a incentivar uma “prática esportiva qualificada”, mas quer estar dentro do esporte, entendido como “esporte para a pessoa” e, portanto, como espaço onde dar o melhor de si, a partir do qual, se desenvolvem amizade, diálogo, igualdade, respeito, solidariedade.
Ginástica do corpo e do espírito. O esporte é, em geral, qualquer atividade física em movimento, individual ou em grupo que tenha um caráter lúdico e competitivo e seja codificado por um sistema de regras, com desempenhos comparáveis entre si em condições de igualdade e oportunidades. A orientação fundamental vai para os valores da atividade esportiva considerados de maneira “sinótica” comparados aos da fé, em primeiro lugar a tensão ao desenvolvimento harmonioso e integral da pessoa, alma e corpo. É ainda o Papa Wojtyla que sugere uma descrição eficaz quando vê o esporte como “uma forma de ginástica corporal e espiritual” e observa que não é mera força física e eficiência muscular, mas também tem uma alma e deve mostrar a sua face integral.
É necessário aprender o gosto e a beleza do jogo em equipe – onde o atleta coloca à disposição da equipe dons e talentos – pode dar uma forte resposta à difusa mentalidade individualista. Enquanto a disciplina de que um esportista deve se dotar, treinando com abnegação e humildade, demonstra como ocorre na vida de fé, que o sacrifício e o sofrimento têm um poder transformador. Sem esquecer que, ao lado das dificuldades dos desafios mais difíceis, convive no esporte o aspecto da alegria e da harmonia, porque a atividade esportiva é portadora de bem-estar e equilíbrio. Por outro lado, grande dano às pessoas pode vir do excesso de comercialização que afeta alguns esportes, de sua dependência de modelos científicos livres de preocupações éticas em que o corpo é reduzido a objeto. E a pessoa é considerada uma mercadoria.