Treinos e dieta pesada: Fisiculturistas contam como se preparam para campeonato em Maringá
Em meio à históricas conquistas brasileiras no Mr. Olympia, o principal campeonato de fisiculturismo do mundo, atletas de Maringá e região se preparam para o MuscleContest Maringá, um dos mais relevantes eventos regionais do Brasil, que acontece em 30 de novembro.
Treinos pesados, dietas restritas e muita dedicação fazem parte da difícil rotina dos fisiculturistas. O GMC Online conversou as atletas Stefany Massucato, Luana Bermejo e Patrícia Marques, que contaram um pouco de como funciona a preparação para o aguardado dia do evento.

A maringaense Stefany Massucato, de 32 anos, quer conquistar o overall pelo segundo ano seguido, prêmio dado ao campeão geral de cada categoria. A veterinária compete pela categoria Figure, que valoriza a musculatura na região da caixa torácica, costas e ombros, em um desenho corporal em “Y”.
Stefany iniciou no fisiculturismo há seis anos e migrou da categoria Wellness – que foca na musculatura dos membros inferiores – para a Figure nas últimas três temporadas, após perceber que a genética de seu corpo se encaixava em outro tipo de condicionamento.
A partir de então, a atleta está em busca do pro card – certificação de atleta profissional – e já competiu em diversos torneios a nível nacional, atingindo números expressivos e ótimas colocações. Ela usará o MuscleContest Maringá como preparação para o MuscleContest Brasil, que acontece uma semana depois, em Campinas, e qualifica para o pro card.
Apesar das competições acontecerem em um curto espaço de tempo, a preparação de Stefany acontece durante todo o ano. A maringaense sempre mantém os treinamentos pesados na academia, elevando a ingestão de calorias durante boa parte da temporada para aumentar o volume de massa muscular, o chamado período de “bulking“. Na semanas antecedentes à competição a dieta fica mais restrita, porém os treinos continuam na mesma intensidade, desta vez para o corpo “secar” e ganhar definições na musculatura, na fase de “cutting“.



Stefany começa o dia com exercícios de cardio em jejum, com duração máxima de uma hora. Ao longo do dia, consome por volta de 1.300 a 1.600 calorias, em dias de dieta restrita. A noite fica reservada para os treinos na academia, que duram cerca de duas horas e meia.
— A minha rotina é bem doida, eu vou confessar, porque eu eu viajo muito. A minha rotina é do jeito que dá, a hora que dá. Eu compro as minhas marmitas prontas, montadas, pesadas, de acordo com o que eu preciso consumir durante a semana. Quando eu chego numa cidade, eu já procuro uma academia. Se no hotel não tem esteira, eu faço cardio na rua. Eu tenho que adaptar a minha rotina à minha falta de rotina — explicou a maringaense.
Tudo isso ainda precisa ser conciliado com o trabalho e outras tarefas do dia, o que diminui as horas de sono. Em fase finais de preparação, os atletas acumulam muitos estimulantes de aceleração de metabolismo, pré-treinos e horas de fome que atrapalham o descanso durante a noite.
— O atleta tem que estar com o psicológico muito bom, porque senão ele cai muito fácil. A gente não consegue dormir, a gente está sem comer, eu conto os dias para chegar o dia de refeição livre e conseguir comer alguma coisa, tirar um pouco o estresse e descansar — disse Stefany.
— Eu aprendi muito depois que eu entrei nesse mundo, eu puxei todos os meus aprendizados, toda a disciplina que eu precisei adquirir, para a minha vida pessoal. Então foi uma virada de chave como profissional, como pessoa, para cuidar melhor da minha mentalidade. Eu consigo trazer muita gente que estava desanimada, que não estavam cuidando da saúde, estavam se privando para trabalhar, ou então não estavam dando muita moral para o corpo. Isso é muito gratificante — completou.
Luana Bermejo, de 24 anos, está em seu primeiro ano como fisiculturista. Nascida em Maracaí (SP) e residente de Maringá desde 2019, a atleta e social media se inspirou em seu treinador para iniciar no esporte, que leva como um hobbie.
Competindo na categoria Bikini – na qual mulheres devem apresentar baixo volume muscular, corpo definido e “beleza natural” -, Luana participou do MuscleContest Londrina, em maio deste ano, e atingiu o Top 2 nas classes júnior e open. Para o campeonato em Maringá, o objetivo da atleta é superar seu físico anterior e conquistar o overall. Luana, no entanto, não busca o pro card.
Durante o ano, os treinamentos não são deixados de lado, mas com 12 a 10 semanas restantes para o evento a preparação da social media fica mais intensa, principalmente com o foco na dieta.
— Normalmente eu treino duas vezes ao dia, em torno de uma hora e meia no máximo, fazendo no mínimo 30 minutos de cardio em intensidade mais alta. A dieta é totalmente restrita e pesada, e atualizada toda semana. Basicamente como arroz, batata, legumes, whey protein, frango e ovo, com uma refeição livre por semana — explicou Luana.



De Sarandi, Patrícia Marques, de 42 anos, está em busca do pro card em sua quinta temporada dedicada ao fisiculturismo. A educadora física vai competir no Mr. Olympia Brasil para amadores, no próximo dia 18. Depois de Maringá, ela segue para o MuscleContest Brasil, em 6 de dezembro.
Após começar na categoria Figure, Patrícia migrou para a Women’s Physique, categoria feminina mais completa, que trabalha toda a musculatura corporal com a mesma intensidade, com um desenho em “X”. É preciso estar com os ombros e dorsais mais largas, cintura mais fina e quadríceps na altura das dorsais.
— Minha paixão mesmo é pela Women’s Physique, que é a categoria maior, que é a mulher mais musculosa. Eu sempre gostei dessa estética maior, nunca gostei de ser pequenininha. Sempre gostei de ser diferente, na verdade. Das pessoas olharem na rua com admiração, porque é diferente, realmente — contou a personal trainer.
Em cinco anos, Patrícia já conquistou 21 troféus, quatro overalls na Women’s Physique e um na Figure. De todas as suas colocações, duas foram Top 2, e o restante Top 1. Nas cinco edições do MuscleContest Maringá, a sarandiense foi campeã de todas, além de um overall, em 2023. Agora, a meta é chegar ao topo da categoria novamente.
— Eu nunca imaginei que eu conseguiria, na verdade. Porque é muito desafiador. É muita coisa, muita mente, muito psicológico. A gente muda tudo. Você muda a casa, meu marido também teve que mudar toda a rotina dele. Eu falo que a gente vive num mundo paralelo. A gente não vive num mundo normal — lembrou Patrícia.
De olho no Olympia, Patrícia iniciou o período de cutting há cerca de 13 semanas, diminuindo progressivamente de 6.200 calorias para 1.500 calorias consumidas por dia. O exercícios de cardio duram em média uma hora e meia, todos os dias, com mais a mesma duração nos treinos da academia. A atleta ainda precisa chegar a um peso ideal, de cerca de 90 quilos, com 1,64 m de altura.
— Eu começo a secar, passo muita fome na verdade. Pra gente, que em uma quantidade de massa um pouco maior, é um pouco mais puxado também, porque o organismo puxa mais ainda o alimento que entra. as mesmas cargas. No treino, eu não posso baixar a carga, porque eu não posso perder peso. Então eu comendo 1.500 calorias, eu tenho que manter a carga de quando eu comia 6.200. Às vezes, como eu estou muito fraca, a pressão cai, a glicemia cai durante o treino, durante o trabalho também. A gente diminui um pouco a repetição, mas a carga continua — explicou.


Nas fases finais, a dieta de Patrícia conta basicamente com arroz, frango, legumes, verduras, ovo e, por vezes, pão. São seis refeições ao dia, com horários marcados e marmitas prontas, consumidas independente de onde estiver, seja na academia ou em uma festa de casamento.
— A minha rotina fica toda em torno da minha preparação. Eu fico em preparação o ano inteiro, eu nunca saio. Aí quando eu tô em off, eu tenho uma refeição livre por semana. Que é onde eu posso sair, comer uma pizza. Em refeição livre eu chego a comer uma pizza inteira, dois cachorrões. Três meses antes do campeonato, quando eu entro em cutting, eu já não como mais nada. É foco total, eu não tenho margem de erro — detalhou a fisiculturista.
O MuscleContest Maringá reúne atletas da região e de outros estados do Brasil, em uma competição para amadores que qualifica para torneios Pro Qualifiers do ano de 2025. O evento será o Lebloc Centro de Eventos, no Jardim Olímpico, no dia 30 de novembro.
