Vampeta, ícone do futsal maringaense e da Seleção Italiana, se despede das quadras aos 41 anos
Jairo Manoel dos Santos, o Vampeta, ícone do futsal maringaense, vai se aposentar das quadras e pendurar os tênis. O atleta de 41 anos, que atualmente defende o Maringá Seleto, também atua como diretor do clube e seguirá na função com exclusividade.
De volta à cidade desde 2024, Vampeta passou a dividir as atenções entre elenco e administração neste ano, em razão das dificuldades da equipe em se manter em atividade.
Tinha o risco do futsal não existir na cidade, e como um bom maringaense, um amante do futsal, não poderia deixar isso acontecer, então assumi essa responsabilidade de estar tocando o futsal masculino da cidade — declarou o jogador em entrevista exclusiva ao Portal GMC Online.

Revelado pela antiga Amafusa (Associação Maringaense de Futsal), Vampeta fez carreira e história na Itália, atuando por 10 anos por clubes e pela Seleção Italiana de Futsal. O ala ainda teve passagens por times do Kuwait e da Arábia Saudita, onde também teve destaque.
No último dia 15, o maringaense foi homenageado em um evento no Ginásio Chico Neto marcando sua despedida dos 23 anos de carreira. A festa contou com a presença de Falcão, considerado o melhor jogador de futsal de todos os tempos.
Eu não parei para pensar [na aposentadoria]. A maior dificuldade vai ser quando eu for para uma quadra e não treinar. Não treinar, ver algum jogo e não jogar. Aí acho que eu vou sentir na pele a aposentadoria realmente — revelou.
Rápida saída e construção de uma hegemonia na Itália
Vampeta começou no futsal profissional em 2002, na Amafusa, onde ficou por dois anos. Alternando entre a base e o time principal na primeira temporada, o ala se firmou na equipe em 2003, se destacou na Liga Nacional e se tornou capitão do time. No ano seguinte, em mais uma temporada de destaque, despertou interesse de clubes europeus, e rumou para o Velho Continente aos 20 anos de idade.
O maringaense chegou a assinar contrato com um clube espanhol, mas precisava ir à Itália para providenciar documentos e atuou pela Luparense enquanto aguardava o desfecho. Chamando a atenção dos dirigentes italianos, Vampeta foi convidado a ficar, e não cumpriu o contrato com os espanhóis.
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Ele foi contratado pela Luparense, clube emergente que vinha recebendo investimento, mas nunca havia conquistado títulos. Ao lado de outros brasileiros, Vampeta guiou o time ao título da Coppa Itália em 2004 e ao tricampeonato seguido do Italiano de 2005 a 2007, além de participações na Champions League durante as oito temporadas no clube.
— Eu criei raiz na Luparense, fui capitão por vários anos, fomos campeões de tudo praticamente. A cidade é super pequena também, é um clube de coração. A Itália me deu muita coisa boa, e eu sou muito grato a eles. A minha sorte foi essa, foi um time que começou a investir e começamos a ser campeões.
Chamado para a seleção italiana
Vampeta precisou se tornar cidadão italiano para poder atuar no país. Se destacando desde o início, o maringaense foi observado pelo treinador da seleção da Itália em seu terceiro jogo pela Luparense e, a partir daí, todas as decisões foram rapidamente tomadas.
— Eu fui muito bem nesse jogo, nós ganhamos em Roma, e acabando o jogo, desceu um diretor da Seleção e falou comigo: “Você está convocado para a Seleção”. Eu não entendia muito bem, teve um amigo meu que veio me ajudar na tradução, “Você foi convocado para a Seleção”, e eu “meu Deus, o que está acontecendo na minha vida?” — lembrou o ala.
O ítalo-brasileiro atuou pela ‘Azzurra’ por 10 anos. A última partida foi a final da Eurocopa, em 2014, quando a Itália foi bicampeã diante da Rússia, pelo placar de 3×1. Vampeta ainda defendeu a seleção na Eurocopa de 2012, ficando em terceiro lugar, e na Copa do Mundo de 2012, edição em que o Brasil foi campeão e a Itália ficou em terceiro.

Por ter chegado muito jovem à Itália e logo ter sido convocado, Vampeta não teve tempo para considerar uma recusa ao convite pensando na Seleção Brasileira. Sem muita amostragem no Brasil, uma convocação para defender o país natal era improvável, e nunca foi uma questão de arrependimento para o jogador.
— Eu, graças a Deus, sou muito grato à Itália por tudo que me deu financeiramente, a qualidade de vida que eu tive lá, os amigos que eu fiz. E eu devo muito à Itália. A Itália me deu muito em todos os sentidos da minha vida. Meu filho é italiano, viveu boa parte da vida dele lá. Sabemos falar outras línguas. É gratidão total por tudo que a Itália me deu.
Posteriormente, o ala ponderou que não atuar em grandes centros do futsal dificultaria uma convocação pelo Brasil.
— Sabemos que para a Seleção Brasileira você tem que estar jogando em grandes times, ou do Brasil ou da Espanha. Dificilmente um jogador, por mais que esteja muito bem na Itália, venha a ser convocado, porque o olhar do treinador é voltado para a Espanha e Brasil.
Retorno para Maringá
Quando atuava no Kazma, do Kuwait, Vampeta passava cerca de quatro meses de férias no Brasil e era liberado para atuar por outras equipes durante o período. Assim, a partir de 2019, o jogador defendia o então Grêmio Maringá e o Maringá Seleto, após a separação das instituições, pelo Campeonato Paranaense.

Após deixar o Al-Qadisiyah, da Arábia Saudita, em meados de 2024, o maringaense retornou em definitivo para a Cidade Canção e passou a jogar pelo Seleto de maneira fixa. A partir de 2025, Vampeta foi chamado pelos gestores do projeto e acumulou a função de diretor, na esperança de manter o clube em atividade.
— Tinha o risco do futsal não existir na cidade, e como um bom maringaense, um amante do futsal, não poderia deixar isso acontecer, então assumi essa responsabilidade de estar tocando o futsal masculino da cidade. Lógico, aos trancos e barrancos, conseguimos fazer um bom campeonato, com pouco investimento que nós tivemos esse ano, conseguimos fazer um ótimo campeonato.
Neste ano, o Maringá Seleto disputou a Série Bronze do Campeonato Paranaense, sendo eliminado pelo agora finalista Prudentópolis, nas oitavas de final. Apesar da perda esportiva, Vampeta enxergou o ano da equipe como positivo.
— Deu certo. Eu acho que o que nós fizemos esse ano, de estar voltando a levar o pessoal para o ginásio, foi bem gratificante. Colocar mil pessoas no Chico Neto, nos dias de hoje, não é fácil — avaliou o jogador e dirigente.
A partir de agora, Vampeta vai se dedicar aos bastidores do Maringá Seleto, mas admite que a continuidade do projeto depende do apoio do poder público e privado. “Esse ano foi difícil manter o time, porque é um investimento caro”.
