09 de junho de 2025

Após forte dor na nuca, jovem de Maringá fica paralisado do pescoço para baixo e busca recuperação


Por Felippe Gabriel e Luciana Peña/CBN Maringá Publicado 25/01/2025 às 07h43
Ouvir: 09:33

Pedro Marques, de 24 anos e morador de Maringá, teve o corpo paralisado após um sangramento na medula cervical, condição que é rara, segundo especialistas. Ele relata o dia a dia do tratamento nas redes sociais, enquanto aguarda a confirmação da causa do sangramento.

O jovem morava no interior de São Paulo e se mudou para Maringá para cursar artes cênicas. Na cidade, conheceu a namorada Ana Clara Dinardi e estava prestes a pedi-la em casamento quando um dia começou a sentir fortes dores na nuca.

A partir daí, sua a vida mudou de uma hora para outra. No hospital, quando esperava atendimento por causa da dor na nuca, Pedro caiu. Ele havia perdido os movimentos das pernas, depois dos braços e em pouco tempo estava paralisado. Pedro precisou ser colocado em coma e ficou 80 dias na UTI.

felippe
Pedro Marques, de 24 anos, tem condição rara que o fez ficar tetraplégico | Foto: Reprodução/Redes Sociais

— Tudo começou no dia 14 de abril de 2024 e estou até hoje nessa condição de tetraplegia, estou me recuperando. Eu passei 80 dias na UTI, mais 25 dias internado. Agora eu estou muito melhor, eu estou fazendo fisioterapia. Eu comecei agora a neuromodulação, aqui em Maringá mesmo. Isso tem ajudado muito na minha recuperação, na sensibilidade do meu corpo, dos membros, e também ajuda nos movimentos — contou o morador de Maringá.

O pedido ainda não aconteceu

O tratamento de Pedro é relatado por ele nas redes sociais. Os planos foram pausados por enquanto, mas o sonho é recuperar os movimentos e pedir Ana Clara em casamento. As alianças já estão compradas e o pedido só não foi feito por causa da paralisia.

— Já estava com a aliança pronta, só estava esperando o momento certo. Aí, no dia que eu fui para a UTI, eu fiquei com muito medo, estava bem apavorado. Eu falei para ela olhar na gaveta do meu guarda-roupa, que tinha um negócio para ela lá, eu não falei o que era. Aí, a irmã dela foi até o meu apartamento pegar e viu que era uma aliança. Depois contou para ela que era uma aliança, mas ela não viu até hoje. Quando eu estava em coma, ela falou para mim que ela não tinha visto, que era eu que ia dar para ela. Ela comenta até que eu chorei em coma, e no coma eu consegui escutar ela falando isso, então foi um momento muito marcante.

Entenda a condição de Pedro

A condição de Pedro é rara. Segundo o neurologista Gabriel Bortoli, responsável pelo tratamento do jovem, a literatura médica cita um caso a cada um milhão de pessoas. O médico explica que a condição é conhecida como hematoma epidural cervical espontâneo. Pedro teve um sangramento na coluna cervical, que pressionou a medula contra a parede óssea, impedindo a comunicação do cérebro com o restante do corpo.

— A medula é como se fosse uma grande estrada, uma grande via que vai transmitir todas as informações da cabeça para o restante do corpo. Se eu perco esse caminho, eu não consigo gerar essa informação, gerar movimento. Então, foi isso que aconteceu com ele [Pedro] lá no começo. Como é grave, a gente até nem chama de doença, fala que é uma condição. O primeiro passo era que ele ficasse estável. Por quê? Além de perder a questão dos movimentos, também perde o controle que o nosso cérebro tem sobre a pressão e a respiração. Por isso ele ficou tanto tempo na UTI, porque essa lesão tinha que diminuir. Depois da cirurgia para a retirada do hematoma, essa lesão vai diminuindo, e o corpo vai voltando a conseguir comandar melhor a respiração e a pressão — explicou o neurologista.

felippe (1)
Pedro passou 80 dias na UTI e mais 25 dias internado | Foto: Reprodução/Redes Sociais

Como é um caso raro, o médico não fala em prognóstico, mas o tratamento busca atingir metas de pouco em pouco. Inicialmente, a expectativa é de que Pedro recupere o controle e os movimentos dos membros superiores, para então conseguir reabilitar as pernas e os pés.

— É muito complicado falar em evolução de casos raros, porque cada paciente é único, e várias coisas determinam o desfecho. Hoje, é muito difícil falar em termos de prognóstico, então o que eu trabalho com ele são metas. A primeira coisa é garantir o melhor controle do tronco, aí ele vai conseguir ficar sentado de uma forma mais confortável, sem precisar de ajuda para ficar sentado ou de apoio nas costas. A nossa segunda meta é melhorar o movimento de mãos. A gente ganhando força em membros superiores, é possível pensar em membros inferiores. Mas é tudo um passo, porque o neurônio, depois de ser lesado, tem dificuldade de se reabilitar.

— Então, é só o tempo mesmo que vai poder afirmar o prognóstico dele, porque é uma doença rara. A experiência mundial disso, ou nacional, é muito variável, tanto de pacientes que tiveram ótimas recuperações, quanto pacientes que não tiveram tanta recuperação. Hoje, com o Pedro, a gente faz fisioterapia superintensiva, com vários recursos tecnológicos, que muitos pacientes que tiveram essa condição dele não tiveram oportunidade de fazer. Isso altera muito o prognóstico.

Médicos ainda investigam causa

Existem algumas hipóteses para explicar por que Pedro teve esse sangramento, mas ainda é preciso realizar mais exames para se certificar da causa. De acordo com Bortoli, a causa mais comum é por trauma, ocasionado, por exemplo, em um acidente de carro com efeito chicote na cervical ou em um procedimento cirúrgico.

A segunda hipótese pode ser uma má-formação arterial venosa, ou seja, nos vasos sanguíneos da coluna cervical, que facilitaria o sangramento e o hematoma epidural cervical espontâneo. A má-formação da fístula – região de comunicação entre estruturas do corpo e vasos sanguíneos – também está entre as hipóteses, apesar de ser uma condição incomum.

Por fim, a terceira linha de investigação aborda distúrbios da coagulação sanguínea, como a coagulopatia. Nessa condição, o paciente possui alguma deficiência genética ou ausência de enzimas responsáveis por fazer com que o sangue não coagule facilmente. Com a deficiência, o paciente fica predisposto a sangramentos espontâneos, como no caso de Pedro.

— Em 50% dos casos, principalmente em jovens como o Pedro, a gente investiga todas essas causas e realmente não acha nenhuma delas. É o que a gente chama de espontâneo ou idiopático, que é o nome bonito que a gente dá para quando a gente não acha uma causa apropriada para explicar o porquê que isso aconteceu. A gente tem uma programação de repetida da investigação, porque agora ele está em melhor condição clínica, então eu consigo fazer exame de uma forma melhor, com mais atenção, com maior tempo de duração. O próprio sangramento atrapalhava alguns exames. Então, agora a gente vai repetir todos os exames novamente e aí, sim, eles novamente vindo negativos, a gente consegue bater o martelo — concluiu o neurologista Gabriel Bortoli.

Uma vida transformada

Uma rede de apoio se formou em torno de Pedro. Os pais dele e a irmã se mudaram para Maringá e ajudam no tratamento. A namorada e a família dela também dão todo o apoio. A vida mudou de repente e Pedro valoriza cada cuidado que recebe.

— Mudou, com certeza. Mudou não só a minha, mas a de todo mundo ao meu redor. A gente presta mais atenção nos detalhes, a gente vê a importância de todo o cuidado e a gente tem que comemorar aquelas pequenas conquistas também. Então, tudo de novo que aparece em mim a gente comemora, porque a gente sabe que é difícil, é um processo muito lento e ainda mais não tendo certeza de melhora — disse Pedro.

A família do jovem criou uma vaquinha online para arrecadar recursos para gastos não cobertos pelo plano de saúde — clique aqui para acessar.

Veja outras matérias na CBN Maringá.

Pauta do Leitor

Aconteceu algo e quer compartilhar?
Envie para nós!

WhatsApp da Redação