Ninguém sabe ao certo quando foi exatamente que o cachorro sem raça definida apareceu pela primeira vez no Hospital Universitário. “Faz meses que ele aparece aqui. A história é que o dono veio, ficou aqui internado e acabou falecendo, e ele ficou esperando por quem não vai voltar”, diz Maraisa Costa Vieira, recepcionista do H.U de Maringá e auxiliar de veterinária, apaixonada por animais.
A mesma história é repetida por diferentes funcionários do hospital, mas ninguém sabe o nome do tutor ou quando exatamente ele deu entrada e veio a óbito na unidade hospitalar. Alguns dizem que era uma pessoa em situação de rua que foi vítima de atropelamento – o que explicaria o fato de nenhum familiar ter procurado pelo parente acidentado e encontrado o cãozinho que ele (ou ela) deixou para trás. O fato é que o cachorro que parece estar eternamente esperando por alguém, acabou conquistando a todos.
O animal ganhou o nome de “Coragem” – é assim que todos o conhecem ali, mesmo sem saberem que foi o primeiro a chamá-lo assim. Ganhou também não uma, mas duas casinhas: uma delas, de plástico, fica no estacionamento de motos do hospital; a segunda, abaixo da guarita de entrada.
O vigilante Antônio Pinto de Oliveira diz que gosta do “companheiro de serviço” que ganhou, mas que quem desfruta mesmo dos talentos de Coragem é o colega do turno da noite. “Ele acompanha nas rondas e avança em quem não conhece. É quase um cão de guarda, só falta adestrar”. A recompensa pelos serviços, vem em forma de carinho e cuidados especiais. “Ele não come ração, só carne”, conta a recepcionista do H.U.
Durante o dia, Coragem vaga pelo hospital e pelas imediações. Passa as manhãs na recepção e aproveita a tarde entre os vendedores que montam suas barracas em frente ao HU. José Aparecido de Souza vende frutas nesse ponto há 14 anos e conta que há cerca de quatro meses ganhou a companhia canina.
“Ele é um companheirão. Vai encontrar a gente quando estamos chegando com o carro. Já adotamos ele. Até as médicas vem aqui ver como é que ele está, se ele está bem. Tá cheio de dono, todo mundo querendo ele”. Seo José não sabe quem batizou coragem, mas diz que o nome combina com o cão. “Deve ser porque ele enfrentou a batalha junto com o dono que puseram esse nome nele. Mas agora ele está de boa”, conta, enquanto vê o cachorro deitado na sombra em meio às caixas de frutas.
A assessoria do H.U diz que algumas pessoas entraram em contato querendo adotar o cachorro, mas nenhuma delas disse conhecer o antigo tutor do cão. Por enquanto, Coragem segue sendo cuidado por muitos, morando nos mais de oito mil metros quadrados do Hospital Universitário de Maringá, e ajudando nas rondas noturnas, enquanto recebe agrados de médicos, funcionários e visitantes.