Casal de Maringá perde 140 kg e relata mudança de vida após cirurgias bariátricas
Além dos impactos na saúde física e mental, o excesso de peso limitava o trabalho, prejudicava o relacionamento e comprometia a vida familiar

Alimentação desregrada, sedentarismo, uso de medicamentos e carga genética fizeram com que o casal Juliano Zanatta e Mariana Puton, moradores de Maringá, atingisse a obesidade mórbida. Atualmente, ambos têm 38 anos e chegaram a pesar 198 e 112 kg, respectivamente. A mudança de vida veio por meio da cirurgia bariátrica. Juntos, eles já perderam 140 kg: ele perdeu 86 kg, e ela, 54 kg. “Foi a melhor escolha que eu fiz. A cirurgia salvou a minha vida”, afirma Juliano.
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Ele, técnico de telecomunicações, optou pelo procedimento há cerca de um ano e nove meses. Ela, servidora pública, fez a cirurgia em 2022. “Desde que começamos a namorar, tudo praticamente girava em torno de comida. Tanto que, logo que nos casamos, eu engordei muito, quase 50 kg. Cheguei a um ponto em que não queria mais isso para a minha vida e cogitei até me separar, mas decidi pela cirurgia e incentivei que ele também fizesse”, conta Mariana.
Ambos alcançaram o grau 3 de obesidade. Ele tinha Índice de Massa Corpórea (IMC) 50 e ela, 42. Os reflexos do excesso de peso eram sentidos em vários aspectos da vida pessoal, profissional e familiar.

Para Juliano, subir escadas ou ficar abaixando e levantando era um desafio enorme, que chegou a atrapalhar até o trabalho. “Eu não conseguia assumir alguns serviços porque simplesmente não conseguia fazer ou, então, fazia, mas ficava muito ofegante”, lembra.
Com quase 200 kg, diabético, hipertenso e pai de Melissa, que hoje tem 5 anos, o tempo em família também era cheio de limitações. “Eu queria estar junto e não conseguia, não conseguia fazer um passeio direito. Quando fazíamos alguma viagem de carro, eu tinha que parar o tempo todo, porque me sentia mal, as pernas inchavam, começava a doer tudo… imagina andar de ônibus ou avião”, relata.

Para Mariana, a situação impactava diretamente na autoestima, a ponto de desenvolver um quadro depressivo e não se identificar mais com o próprio corpo. “Eu não conseguia emagrecer, e isso me trazia um sentimento horrível de fracasso. Sentia que eu parecia mais velha, pois meu rosto estava deformado e eu não conseguia levantar do chão nem cruzar as pernas”, diz.
Vida nova
Quem deu o primeiro passo para a mudança de vida foi Mariana. Em julho de 2022, quando a filha do casal tinha 2 anos, ela passou pela cirurgia bariátrica e começou a escrever uma nova história para a família.
“Para mim, a cirurgia mostrou a possibilidade de um novo caminho, mostrou que, apesar das dificuldades, há opção. Hoje me sinto muito realizada, como se tudo estivesse completo: trabalho, maternidade, casamento e aparência”, afirma.
Segundo ela, muitas dores desapareceram e ela fez as pazes com o espelho. “A aceitação voltou, descobri um estilo próprio e passei a me amar muito mais, me sentir capaz e disposta para fazer o que eu quiser”, conta.

Inspirado pela esposa, Juliano diz que a decisão de também passar pela cirurgia foi um divisor de águas, a ponto de ele deixar de ter medo de perder a vida de repente. “Eu tinha medo de fazer a cirurgia, mas tinha mais medo de ficar do tamanho que eu estava, porque sabia que eu podia morrer a qualquer momento, já que minha saúde estava muito debilitada. Então, eu tinha mais medo de um dia dormir e não acordar do que de qualquer outra coisa”, lembra.
Realizando sonhos e criando memórias
Um dos momentos que marcou a mudança de vida de Juliano e Mariana foi uma viagem que a família fez para o Beto Carrero. “Nossa filha queria fazer uma viagem de ônibus, então resolvemos ir de excursão para o parque. Eu já tinha perdido um bom peso, então consegui viajar numa boa, sem ficar apertado e sem passar mal. Também consegui caminhar no parque e ir em alguns brinquedos. Foi muito bom, muito gratificante”, recorda Juliano.
Além de viagens, o casal agora consegue ter uma rotina diferente com a filha. “Hoje nós brincamos muito mais, frequentamos os parques de Maringá, fazemos caminhadas e incentivamos o cuidado com a saúde desde cedo”, afirma o pai.



Essa transformação também abriu espaço para que Juliano realizasse outros sonhos pessoais, que antes pareciam distantes. Um deles era correr 5 km, algo que via apenas pelas redes sociais e julgava impossível. “Hoje eu consigo fazer exercício, estou participando de um grupo de corrida, vou para a academia junto com meu irmão e consigo trabalhar sem dificuldade. É uma vida totalmente nova”, comemora.
Importância da mudança de estilo de vida
Segundo o médico cirurgião do aparelho digestivo e especialista em Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Eduardo Stefano, a mudança de estilo de vida é o ponto fundamental do tratamento após a bariátrica. De acordo com ele, 80% dos pacientes conseguem se manter com peso adequado por toda a vida após o procedimento, mas cerca de 20% voltam a engordar após três ou quatro anos por não adotarem novos hábitos.
“Fazer a cirurgia não dispensa o paciente de comer certo no pós-operatório, em termos de quantidade e, principalmente, de qualidade nutricional. Também é preciso praticar exercícios, aumentar a ingesta de fibras, ingerir líquidos, fazer acompanhamento com nutricionista e realizar acompanhamento psicológico, em alguns casos”, explica.
Saúde mental
De acordo com o médico, quando a cirurgia bariátrica surgiu acreditava-se que a depressão fosse uma contraindicação, mas hoje se sabe que a maioria das doenças psiquiátricas, que incluem ansiedade, compulsões e a própria depressão, melhora depois do procedimento.
“A melhora nos quadros psiquiátricos é sensacional porque o paciente melhora a autoestima, consegue sair de casa, praticar exercícios, e a maioria consegue diminuir ou até cessar o uso de medicações. Então, hoje não existe mais contraindicação; pelo contrário, a depressão e outras patologias psiquiátricas são consideradas comorbidades que ajudam o paciente a entrar nos critérios para liberação da cirurgia”, afirma.
Para Stefano, que é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), a bariátrica não é mais vista como a última opção. “Para muitos pacientes, ela é, sim, a primeira e a melhor opção. É o tratamento padrão-ouro, como a gente diz”, finaliza.
