Conheça a história de ‘Baianinho’, engraxate há 57 anos em Maringá
Ele trabalha como engraxate há 57 anos no mesmo ponto localizado na avenida Getúlio Vargas. Em 2017, recebeu o título de Cidadão Benemérito de Maringá. José Xavier, ou Baianinho Engraxate, como é popularmente conhecido, coleciona décadas de história no coração da Cidade Canção.
Natural de Jacobina, no sertão da Bahia, o tão maringaense Baianinho conta como chegou à Maringá. Relata que veio fugido do nordeste brasileiro. Não conheceu o pai, nem a mãe. A única família que teve foi a formada pelo tio e pela tia, mas que quando chegou no Paraná, fugiu deles. Apanhava muito e, por isso, sentia a necessidade de ir embora. Foi criado pelo mundo, livre, como quis.
“Cheguei da Bahia de pau-de-arara e a única solução que eu tive, naquele tempo, era trabalhar. Colher café, vender salgados ou vender sorvete não deu certo. A única profissão que deu certo foi a de engraxate. Quando eu cheguei em Maringá, eu morava na região do Maringá Velho, e para entrar aqui na região central era muito difícil, eram muitos engraxates, aqui era o ponto fixo. Eles eram todos maiores do que eu, grandes, e eu entrei mesmo na luta, tomando o meu espaço para trabalhar. Tinha muito serviço, as ruas eram de terra, muito barro. Eu fui pegando conhecimento e devagarinho fui ficando… e ‘tô’ aqui até hoje”.
Engraxava sapatos de dia e vendia jornais a noite. Por muitos anos, no começo da sua história com Maringá, essa foi a rotina de José Xavier, que conta cheio de orgulho sobre o dia que vendeu um jornal para Pelé, que à época estava hospedado no Hotel Bandeirantes, no centro de Maringá.
“Vendia os jornais da Folha do Norte, Tribuna de Maringá, Última Hora (SP), Estadão (SP), Estado do Paraná, Folha (SP) e O Globo (RJ). Tinha revistas que eu vendia também, a Manchete e a revista Cruzeiro. Cheguei a vender um jornal para o Pelé. Não tinha muita noção de bola, não era muito fã de futebol na época, mas vendi um jornal para o Pelé”, relembra Baianinho.
A vida como engraxate rendeu a José Xavier muitas histórias. Conheceu muita gente famosa e importante. Fez amigos, construiu família. Ganhou e perdeu. Viu a evolução da Catedral (que chegou a dormir em noites que precisou de abrigo), que passou de uma igreja de madeira à maior catedral da América Latina. E essa é a vida que o Baianinho Engraxate leva há quase 60 anos no centro da Cidade Canção.
Engraxou os sapatos de grandes nomes da política paranaense, como Álvaro Dias e Roberto Requião. Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo, também teve os sapatos lustrados por Baianinho.
É com as mãos marcadas por mais de cinco décadas de trabalho que Baianinho figura como um dos principais personagens das ruas de Maringá. Simula sons ritmados ao samba enquanto faz o polimento de cada sapato. Mas diz que não parou no tempo. Para atingir novos públicos, também ‘dá um trato’ em tênis, botas e até mesmo sandálias.
“Não tenho leitura, mas desde pequeno sempre tive muito respeito por qualquer pessoa. Muitos clientes viraram amigos. Muitos me acolheram”, conta o engraxate que durante o lockdown ocasionado pela pandemia da Covid-19 recebeu ajuda financeira de muitos amigos enquanto não podia trabalhar.
No ano de 2017, foi homenageado com o título de Cidadão Benemérito pela Câmara de Vereadores de Maringá. A honraria é o mais alto título que um cidadão pode receber do poder legislativo. A história de Baianinho Engraxate e a história de Maringá se confundem em muitos momentos. O engraxate, retirante, é tão maringaense quanto as ruas do centro de Maringá são parte dele.
Pai de sete filhos, formou a família que tanto sonhou. Realizou quase todos os sonhos, só faltou um, diz ele: construir a sua banca de engraxate, em um ponto fixo, onde possa trabalhar sob chuva ou sol. Desde sempre, trabalha embaixo das marquises da avenida Getúlio Vargas, esquina com a rua Santos Dumont. É nessa calçada, onde diariamente milhares de pessoas passam, e algumas utilizam o seu serviço, que Baianinho Engraxate construiu a sua história. Os 57 anos de história do baiano mais maringaense de todos.