Deu no New York Times: marca maringaense de relógios é destaque mundial

Uma marca de relógios mecânicos nascida em Maringá está ganhando o mundo e, recentemente, foi destaque em publicações internacionais como o jornal norte-americano The New York Times, além de sites da Inglaterra e Espanha. O relógio mecânico é um item procurado por colecionadores do mundo todo, e se difere de relógios comuns pelo funcionamento, que independe completamente de baterias ou eletricidade, sendo composto basicamente por engrenagens, molas e rolamentos.
Os sócios Rafael Tribulato Guimarães e Antônio Almir dos Santos tiveram a ideia de resgatar o estilo vintage das peças que marcaram época nos anos 1950 e investiram em diferenciais, baseados, principalmente, no modelo de fabricação. A marca independente de relógios mecânicos foi criada em 2022, focada na qualidade e acabamento das peças. Naquele ano, a Statera Watch Co. lançou a coleção ST01, com seus modelos Calculus de 41 milímetros com mostrador preto e Emerald com mostrador verde. Para isso, os maringaenses contaram com o auxílio de Armand Billard, proprietário de outra marca independente, a francesa Sartory Billard. O movimento mecânico automático foi encomendado para uma pequena fabricante suíça. Todo o design das peças era feito pelo time da Statera, e a fabricação vinha da Europa. Já a montagem e os ajustes finais sempre foram feitos no ateliê, em Maringá.
Já a segunda coleção se destacou por ser totalmente autoral e fabricada em Maringá, utilizando técnicas artesanais suíças, que há mais de 200 anos são referência dentro da relojoaria. O ST02 — Esmalte Grand Feu, uma peça de aparência clássica e marcante, foi lançado em 37 e 39 milímetros, com mostradores de esmalte em marfim brilhante, preto profundo e azul royal, produzidos internamente. Uma versão com mostrador azul-escuro transparente, chamada Caeruleum, foi adicionada depois. “Uma dessas técnicas é conhecida como Esmalte Grand Feu, que é basicamente esmaltação em metal. É a mesma técnica que usavam os joalheiros do século XIX e com a qual faziam os famosos Ovos Fabergé, explica Rafael Guimarães.

A utilização da técnica trouxe reconhecimento mundial. “As pessoas começaram a olhar pra cá e pensar, ‘caramba, tem uns caras lá no sul do Brasil fazendo relojoaria de forma tradicional, como se fazia a 200 anos atrás na Suiça e utilizando técnicas reconhecidas mundialmente. A esmaltação por exemplo é uma técnica que, no máximo, 50 pessoas no mundo dominavam a ponto de ser considerados mestres. O nosso caminho através destas técnicas começou com livros e muita experimentação e culminou com viagens semestrais a Suíça francesa para imersões com alguns destes grandes mestres. Assim foi possível produzir as peças aqui em Maringá”, conta Rafael, As vendas do relógio fabricado aqui chegaram ao Oriente Médio, Europa, Ásia e à América do Norte. “Os colecionadores começaram a achar interessante uma marca brasileira, totalmente fora do eixo da relojoaria, fazendo peças com uma história especial por trás . E a partir daí a gente começou a ter reconhecimento”, comemora o cofundador da Stratera.
Rafael esteve em Genebra em abril para uma feira, a Watches and Wonders, que é o maior evento de relojoaria no mundo. “Fomos convidados por uma boutique focada em independentes, chamada Watchmakers United, que vende o nosso relógio em Genebra, para fazer parte da programação oficial da semana da Watches & Wonders. E aí a gente foi contactado pelo New York Times e eles fizeram uma matéria sobre esta feira e enviaram um fotógrafo aqui em Maringá”. A matéria, que ocupou uma página inteira na versão impressa do jornal americano fazia parte de uma edição especial, com a cobertura da feira Watches and Wonders e da Geneva Watch Week. “Como estava em Genebra, consegui comprar um jornal físico que nesse momento já está enquadrado e na parede do nosso atelier em Maringá”, relembra.
A reportagem internacional frisa as raízes paranaenses da dupla fundadora da marca. “Estamos sempre falando sobre nossas raizes e um dos nossos objetivos é mostrar um pouco da nossa cultura e mostrar que o Brasil é muito mais do que o estereótipo (Caipirinha, Samba e futebol). Além do The New York Times, recentemente tivemos matérias veiculadas na GQ Inglaterra, na GQ Espanha e no Blog novaiorquino Worn and Wound, uma das 3 maiores publicações focadas em relojoaria no mundo. Em todas as matérias, Maringá tem um espaço de destaque, por ser uma cidade muito especial e que oferece uma ótima qualidade de vida e um ambiente propicio e inspirador. A GQ (UK e ES) listou as 13 marcas que mais surpreenderam os colecionadores no ano de 2025 e a Statera estava entre essas 13”.

No ateliê da Stratera em Maringá a maioria das peças é feita à mão e a fila de é de aproximadamente 180 dias para a entrega de cada relógio, feitos apenas sob encomenda. “Começamos a divulgar o ST02 e as pessoas começaram a entender o trabalho que estávamos desenvolvendo aqui, e de repente, a gente começou a chamar atenção de mídias e de colecionadores do mundo todo, e tudo isso culminou nessa semana em Genebra”.
Clássicos que sobrevivem ao tempo
Até os anos 1980 os relógios mecânicos estiveram em evidência. Foi quando a tecnologia do quartzo surgiu, trazendo uma bateria que fornece energia a um circuito integrado. Esse circuito provoca vibrações no cristal de quartzo que, por sua vez, move as engrenagens e os ponteiros. Grandes marcas massificaram a produção usando a nova tecnologia. Mas, com o passar do tempo, o relógio mecânico voltou à evidência.

O interesse pelo item vem em uma crescente nos últimos anos e, apesar de focar em público mais maduro, a Statera Watch Co. sabe que os relógios analógicos, com uma “pegada vintage”, tem conquistado a Geração Z, que procura substituir essa função oferecida pelo celular. A alta relojoaria faz sucesso nas redes sociais, com páginas especializadas reunindo milhares de seguidores e milhões de curtidas. Para eles, relógio não é só para mostrar a hora e os smartwatches, que ganharam espaço na última década, não carregam a mesma personalidade que um relógio “de verdade”. O item está sendo mais procurado por tendências de moda que tomaram conta das redes sociais como o “Old Money”, que foge daquilo que não é considerado elegante. Nesse cenário, uma série de relógios de micromarcas, como a Stratera, tem surgido em todo o mundo, vendendo diretamente ao cliente final, sem passar pelo varejo.
O fabricante maringaense explica que a tendência está ligada à mensagem que um relógio pode transmitir. “Os relógios mecânicos resistiram porque são uma expressão de arte, tradição e ‘savoir-faire’ (saber-fazer) que os relógios a quartzo ou digitais não conseguem replicar”, diz o cofundador da relojoaria maringaense.