Dia do radialista: conheça a história de diferentes gerações apaixonadas pelo rádio

Sete de novembro é o dia daqueles que transmitem informação e emoção pela voz, em um dos veículos de comunicação de massa mais antigos existentes: o radialista. A data oficial para a comemoração do Dia do Radialista é uma homenagem ao compositor, músico e radialista Ary Barroso, que nasceu em 7 de novembro de 1903. Mas para a categoria, ainda há uma outra data de comemoração – o dia 21 de setembro, que se refere à data da criação da lei que fixava o salário base para estes profissionais. A celebração reconhece a importância do rádio como um dos meios de comunicação mais populares e democráticos do Brasil, responsável por informar, entreter e aproximar as pessoas. Além de destacar o trabalho de locutores, repórteres, técnicos e produtores, a data reforça o papel essencial do rádio na construção da história e da identidade cultural brasileira.
Em Maringá, a história do município se funde com a chegada desse tradicional meio de comunicação. Em 15 de julho de 1951 entrava no ar na Cidade Canção a rádio Cultura AM. Entre o time de locutores estava Aloysio Raphael Barros, também conhecido como Barrinhos. A rádio Cultura já não existe mais na cidade – a frequência hoje é ocupada por uma rádio gospel, a Melodia FM. Já o veículo rádio, que tantas vezes falou-se que ia acabar, segue vivo e em expansão em Maringá, graças às reinvenções e adaptações feitas ao longo dessas décadas.

A emissora mais longeva em operação na cidade é também a mais ouvida: líder de audiência desde sua criação, em 1981, a Maringá FM, criada por Barrinhos e administrada pelo filho dele, Alexandre Barros, leva aos ouvintes, diariamente, vozes experientes, conhecidas há décadas, mas também as de uma nova geração que, pelos microfones, mostram que o rádio tem, sim, vida longa e segue sendo uma das formas mais rápidas e acessíveis de comunicação. Uma das vozes ouvidas há mais tempo é a de Milton Luiz Soares – e não só na Maringá FM, mas também em spots comerciais veiculados nas outras duas emissoras do Grupo Maringá de Comunicação na cidade: a rádio MIX FM e a CBN Maringá. Milton se lembra quando foi servir ao exército em Curitiba e ganhou do irmão um walkman – o aparelho portátil sintonizava as rádios e ajudava a passar o tempo durante as madrugadas de guarda. “Voltei para Maringá doido para trabalhar com rádio”, conta. O veterano começou ainda na juventude, quando sonhava em “chegar à Maringá FM”, emissora onde trabalha há 27 anos.
No mesmo dia em que levou um teste “demo”, foi contratado para trabalhar na madrugada. No estúdio, a mesa de som analógica, um toca discos de vinil, comerciais rodados em “cartucheira”, produzidos em cassete rolo, com gravadores gigantes, e minuciosamente cortados para fazer a edição. “Era muito trabalho”, relembra. Milton se casou em Umuarama, mudou de cidade e trabalhou em outras rádios. Quando voltou, viu a evolução: da cartucheira para o MD, depois para o computador. “Aí facilitou muito”, diz. Mas os desafios eram outros: Milton Luiz é quem encabeça as ações externas da rádio, cuida da unidade móvel, e faz vídeos para as redes sociais.
Amarildo dos Santos, mais conhecido como Amarildo Legal, é outra voz que já se tornou marca registrada da Maringá FM. Com o mesmo tempo de casa de Milton à frente dos microfones da emissora, o londrinense se mudou para Maringá na juventude para trabalhar em uma fábrica de pipocas. Fã de rádio e da própria Maringá FM, foi encorajado por amigos a tentar a sorte na profissão. Mas foi em Tupã, no interior de São Paulo, onde conheceu aquela que seria a futura esposa, que fez o primeiro teste para trabalhar em uma emissora. Começou no rádio em 1 de outubro de 1990, trabalhando de manhã na frequência AM e à tarde na FM. Mas o sonho de voltar à Maringá e trabalhar na Maringá FM falou mais alto.

Amarildo foi contratado pela emissora maringaense em fevereiro de 1994 e permaneceu por três anos. Depois de mais um período no interior paulista, em 2002 o locutor retornou à Cidade Canção e à rádio que o inspirou a começar na profissão. “Amo o rádio, amo o que eu faço. Hoje são 35 anos de profissão e 27 anos de Maringá FM. Espero ficar muito tempo por aqui falando, levando informação, alegria e entretenimento para as pessoas. Viva o rádio!”, celebra.
Mas as novas gerações continuam sendo atraídas pela mágica do rádio. Entre as vozes jovens do rádio maringaense está a de Vitor Oliveira, que começou a trabalhar em uma rádio comunitária, aos 14 anos. Para ele, o rádio chega onde a internet não chega e continua sendo “a voz do futuro” para quem precisa de informação ou mesmo de uma mensagem para alegrar o dia.
Vitor conta que o interesse pelo rádio nasceu ainda na infância, ouvindo o pai escutar programas enquanto tomava café antes do trabalho. “Meu pai é pedreiro, minha mãe diarista, e o rádio sempre fez parte das nossas manhãs. Eu acordava com o cheiro do café e o som da música ‘Madri’, do Fernando & Sorocaba. Aquilo me marcou. Desde criança eu dizia: quero trabalhar nessa área ”, conta. Ele descobriu as possibilidades do rádio, inicialmente, através da internet. “Eu falava pra minha mãe: quem que fala dentro do rádio, como funciona? E minha mãe não sabia responder. Minha mãe não foi alfabetizada. Ela falava ‘eu não faço ideia’. Ela tinha aquela mentalidade que pra você ser um radialista tinha que ir pra São Paulo, para outro estado. Quando eu vi um estúdio pela primeira vez, eu acho que eu tinha por volta de 12, 13 anos, que era o estúdio da Sarandi FM. E aí com a internet, a gente começou a um programa toda sexta, um programa mais religioso, eu e um amigo meu. Toda sexta-feira a gente fazia esse programa por live no Facebook. E aí com essa live surgiu a ideia desse programa ir pra rádio num domingo de manhã. E aconteceu. A gente lia a Bíblia, tinha música, participação. A galera começou a participar”.
Determinando em seguir o sonho, Vitor buscou aprender mais e participou de um projeto sobre rádio e radionovela. Pouco tempo depois foi convidado para trabalhar na rádio MIX FM, onde foi locutor e produtor, enquanto trabalhava, aos finais de semana, na Maringá FM, até assumir a função de repórter para a Maringá FM no jornalismo diário.

Ele conta que recebeu apoio e auxílio dos locutores mais experientes, como Amarildo e Milton Luiz, mas que também auxiliou a equipe da rádio na transição para o universo digital. “A partir de agora o locutor não é só locutor, ele não só mexe na mesa, mas ele também tem que gravar um reels quando precisar, tem que mandar um alô, pedir pra seguir o Instagram da rádio. Estamos aí e vamos para mais 90, 100 anos de rádio”, torce.
Mas o mais novo locutor do Grupo Maringá de Comunicação é Gustavo Pavanelli, de apenas 20 anos. Natural de Terra Boa, ele começou por acaso, levado pelo pai para conhecer uma rádio da cidade. “Eu digo que comecei sem querer. Meu pai era amigo de um coordenador de rádio e me levou num churrasco pra conhecer. Eu não queria ir, mas acabei topando. Comecei ajudando, colocando música, e fui pegando gosto, ia abrindo o microfone, fui perdendo um pouco a timidez. Nunca imaginei que isso se tornaria minha profissão.”
Gustavo passou por emissoras em Terra Boa e Cianorte, onde teve a oportunidade de aprender com profissionais experientes e de desenvolver também o lado digital do rádio. “Em Cianorte eu aprendi demais, era uma rádio grande, com equipe formada. Fiz externas, cuidei das redes sociais, aprendi o que é fazer rádio de verdade.” O convite para trabalhar em Maringá veio depois de uma coincidência e muita persistência.
“Conheci o Victor Oliveira numa mostra de profissões da Mix, quando ainda estava no ensino médio. Depois mandei mensagem pra ele perguntando como fazia pra entrar no grupo. Foi um sonho realizado”. Hoje, Gustavo é locutor da Mix FM Maringá e comemora ter conquistado ainda tão jovem o que sempre sonhou. “Tenho 20 anos e já realizei um sonho de vida. Sempre quis trabalhar aqui. É uma rádio que abre portas e que é referência no Brasil inteiro.”

Para ele, o aprendizado com locutores mais experientes é uma das partes mais valiosas da profissão. “Tem locutores aqui que têm mais anos de rádio do que eu de vida. É muito louco, porque a gente aprende um com o outro. “Eu ia trabalhar ouvindo a Maringá FM, voltava ouvindo a Maringá FM, então ouvia essa galera tempos atrás e hoje trabalhar com eles é algo inimaginável. São pessoas que carregam uma bagagem muito grande e se você estiver aberto a realmente aprender, eles podem te ensinar muito. Eles me ensinam locução, e eu ajudo com redes sociais. É uma troca muito rica.”
E mesmo representando a nova geração, Gustavo acredita que o futuro do rádio depende dessa união entre tradição e inovação. “Hoje o rádio não é só rádio. Está nas redes, na rua, nos eventos. Quem não se atualiza, fica para trás. Mas o rádio continua sendo essa paixão que cresce a cada dia”.
